Surpresa e achaque
político: a reação de Guedes às críticas de Maia
Victor Irajá
© Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Presidente da Câmara dos Deputados, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) concede
entrevista ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes em Brasília -
28/03/2019
A entrevista do presidente Rodrigo Maia a VEJA pegou o secretariado do
Ministério da Economia de surpresa. A
belicosidade das falas de Maia em relação ao ministro Paulo Guedes foi interpretada como um
movimento político, em desavença à posição do ministro quanto à aprovação do
auxílio a estados e municípios, e como retaliação aos recentes achaques
públicos do presidente Jair Bolsonaro ao
mandatário da Câmara. A equipe econômica defende a transferência direta de 40
bilhões de reais como alternativa ao projeto aprovado na Câmara que destina
86,9 bilhões às contas estaduais e municipais para o combate ao coronavírus (Covid-19). Em reunião com os secretários, o
ministro Paulo Guedes ignorou a entrevista de Maia pela manhã da sexta-feira
17. Preferiu focar na apresentação de resultados marcada para a tarde, quando a
equipe apresentou os resultados das políticas econômicas para mitigar os
impactos da doença.
O ministro não entendeu as críticas feitas pelo presidente da Câmara à
revista e, para não aumentar as tensões, resolveu não responder às alfinetadas
duras de Maia. Às Páginas Amarelas, o presidente da Casa disse que o
ministro “não é sério” e pôs em xeque os números engendrados pela
pasta sob o comando de Guedes, indagando a “previsão” de que os governos
estaduais e municipais teriam receitas oriundas de ICMS e ISS neste ano,
causando um rombo de 285 bilhões de reais às contas da União. Um assessor do
ministro mostrou descontentamento com a fala de Maia. “Maia não era o Senhor
Reformas? Agora virou o Senhor Pautas-Bomba?”, indagou. Integrantes da área
técnica da pasta explicam que os números, consolidados pelo secretário de
Tesouro, Mansueto Almeida, não prevê arrecadamento zero das unidades da
federação, mas apenas explicitam o potencial estrago para a gestão federal.
Membros do Ministério da Economia entendem que os governadores estão
utilizando os gastos destinados ao combate à Covid-19 como mecanismo para
desanuviar anos a fio de irresponsabilidade fiscal. O secretário de Fazenda,
Waldery Rodrigues, vem classificando os gastos como de potencial destrutivo à gestão
do orçamento público. Para isso, o Senado aprovou, na sexta-feira 17, o projeto
apelidado de Orçamento de Guerra, que desvincula os gastos engendrados para
enfrentar a pandemia das contas da União, autorizam o Executivo a desrespeitar
amarras orçamentárias e dão prerrogativas novas ao Banco Central para servir
como fiador de ações contra o coronavírus,
Guedes sempre foi um interlocutor confiável para o presidente da Câmara
dentro do governo. Apesar das dificuldades de articulação política do governo
para a aprovação da reforma da Previdência, o ministro e Maia incumbiram-se da
missão de aprovar o texto. “Esse não é o Maia com que negociamos a aprovação
das reformas”, afirmou outro executivo do Ministério da Economia. A relação
entre o Executivo e o Legislativo sempre foi, minimamente, espinhosa, mas
ganhou novos contornos nas últimas semanas.
Depois da demissão de Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) da chefia
do Ministério da Saúde,
os presidentes da Câmara e do Senado, Maia e Davi Alcolumbre, ambos correligionários do
ex-ministro, divulgaram uma nota conjunta contra a demissão de Mandetta. Em
entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro respondeu que o Maia atua para derrubá-lo e
“esculhambar a economia para que eles possam voltar em 2022”. Em retaliação,
Alcolumbre tirou a votação da medida provisória da Carteira Verde e Amarela da
pauta de votação. A MP flexibiliza obrigações trabalhistas para fomentar a
contratação de jovens entre 18 a 29 anos e pessoas acima dos 65 anos. A
validade da medida, que já passou pela Câmara, é até segunda-feira, 20.
Oficialmente, a posição do Senado é de focar na votação de matérias
emergenciais, ou seja, medidas de combate aos danos da pandemia do novo
coronavírus.
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