Bolsonaro recebe cotados para assumir a Saúde no lugar de Mandetta
Correio Braziliense
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Arthur Menescal/Esp. CB/D.A Press Primeiro da lista é o oncologista Nelson
Teich, que atuou na campanha eleitoral de Bolsonaro e tem apoio da classe
médica O presidente Jair Bolsonaro ainda não bateu o martelo sobre a
troca no Ministério da Saúde porque teme reação negativa do Congresso e do
Supremo Tribunal Federal (STF). Ontem, ele sofreu derrota na Corte — os
ministros decidiram que estados e municípios têm poder para aplicar restrições
no comércio e na circulação de pessoas em razão da política sanitária
necessária para impedir a disseminação da Covid-19.
Na Câmara, parlamentares afirmam que o presidente
tem buscado um nome com o perfil mais técnico do que político, justamente para
evitar desgastes ainda maiores com a demissão de Luiz Henrique Mandetta. A
conversa é de que tudo deve ocorrer até amanhã.
A expectativa é que Bolsonaro começará a receber,
hoje, no Palácio do Planalto cotados para a vaga. O primeiro da lista é o
oncologista Nelson Teich, que atuou na campanha eleitoral do chefe do Executivo
e tem apoio da classe médica. A decisão sobre o novo titular da Saúde, no
entanto, ainda não está tomada, afirmam interlocutores do governo.
Devem participar da conversa com o médico os
ministros Walter Braga Netto, da Casa Civil, e Luiz Eduardo Ramos, da
Secretaria de Governo. Teich atuou como consultor informal da área de saúde na
campanha eleitoral de Bolsonaro, em 2018. À época, a aproximação ocorreu por
meio do atual ministro da Economia, Paulo Guedes. Na transição do governo,
Teich foi cotado para comandar a Saúde, mas perdeu a vaga para Mandetta, que
havia sido colega de Bolsonaro na Câmara de Deputados e tinha o apoio do
governador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM-GO), agora ex-aliado do chefe
do Executivo, e de Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que foi chefe da Casa Civil e agora
é ministro da Cidadania.
O oncologista tem o respaldo da Associação Médica
Brasileira (AMB), que referendou a indicação ao presidente e possui boa relação
com empresários do setor de saúde. O argumento pró-Teich de parte da classe
médica é o de que ele trará dados para destravar debates hoje “politizados”
sobre o enfrentamento da Covid-19. Integrantes do setor de saúde afirmam que a
ideia não é ceder completamente a argumentos sobre o uso ampliado da cloroquina
ou de isolamento vertical (apenas para idosos ou pessoas em situação de risco),
por exemplo. Dizem, porém, que há exageros na posição atual do ministério.
CorridaA
possível demissão de Mandetta provocou uma corrida entre aliados de Bolsonaro
para indicar o sucessor no comando da Saúde. Um dos nomes na mira é o da
diretora de Ciência e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Ludhmila
Hajjar. A profissional tem o apoio do médico Antonio Luiz Macedo, cirurgião
geral que acompanha o presidente desde que ele foi atingido por uma faca em ato
de campanha, em setembro de 2018. No entanto, ela não é adepta do discurso de
que a hidroxicloroquina é a grande salvação no combate ao coronavírus, como
defende Bolsonaro. Em entrevista à Folha de S.Paulo nesta semana, Ludhmila
disse que a medicação “está sendo vista como salvadora, e não é”. Questionada
pela reportagem, a cardiologista negou convite do presidente. “Não fui
convidada, não fui sondada. Sigo trabalhando normalmente”, disse ontem.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, João
Gabbardo, também aparece como cotado para o posto, mesmo que de forma
temporária, até que o presidente decida por um nome definitivo. Questionado
sobre o assunto, Gabbardo disse que sai com Mandetta, pois está no cargo a
convite do ministro, mas se dispôs a continuar colaborando com uma equipe de
transição.
Dentro do ministério, as informações são de que a
relação entre ele e o titular da Saúde é bastante conflituosa. Mas o secretário
é visto como um perfil mais técnico do que Terra e menos resistente às vontades
do governo. Seria uma solução mediana para tentar conter reações adversas à
saída de Mandetta.
Sem forçaNa
lista de indicações para substituir Mandetta aparece ainda Claudio Lottemberg,
presidente do Conselho Deliberativo do Hospital Israelita Albert Einstein.
Lottemberg, no entanto, preside o Lide Saúde, grupo ligado ao governador de São
Paulo, João Doria (PSDB), desafeto de Bolsonaro.
Os nomes do deputado Osmar Terra (MDB-RS) e do
presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra
Torres, perderam força no Planalto, apesar de terem a confiança de Bolsonaro. A
leitura é de que a escolha de um deles não seria bem-aceita no Congresso e
entre entidades médicas, por causa da mudança radical de discurso que levariam
ao ministério. Defensora do uso da hidroxicloroquina, a oncologista Nise
Yamaguchi também teria perdido força por ter pouco apoio da classe médica.
Temor no PlanaltoCom
a saída de Mandetta dada como certa, o governo teme que uma debandada nos
cargos de segundo escalão leve à paralisia do ministério em meio à pandemia. A
preocupação quanto a um possível desmonte da pasta vem do 4º andar do Planalto,
onde ficam os ministros militares. Eles estão mapeando quais integrantes dos
escalões inferiores não são ligados umbilicalmente a Mandetta e poderiam
continuar no governo caso se confirme a troca na Saúde. O ministro se reuniu,
ontem à tarde, em clima de despedida, com deputados que integram a comissão
sobre o enfrentamento do coronavírus. Visivelmente abatido, disse que teria
pouco tempo à frente da pasta. “Me desculpem por qualquer coisa aí”, afirmou.

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