Antigos fiéis, empresários reveem apoio ao governo de Jair Bolsonaro
Felipe Mendes
©
Youtube/Reprodução Jair Bolsonaro em live nas redes sociais ao lado de Luciano
Hang, dono da Havan - 17/10/2019
Diversos empresários,
muitos dos quais formam a cadeia dos principais apoiadores do governo de Jair Bolsonaro
(sem partido), estão desiludidos com o pedido de demissão de Sergio Moro do
Ministério da Justiça, e das recentes intervenções do ministro da Casa Civil, o
general Braga Netto, sobre a economia – escanteando Paulo Guedes, ministro da
Economia. Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, é um deles. Em entrevista
a VEJA, externou a sua preocupação com a mudança: “O Moro era uma das pérolas
do governo. Eu sempre o apoiei, por tudo que ele fez pelo Brasil. Ele é um
herói vivo”, disse. “É uma grande perda para o governo Bolsonaro.”
Eles acreditam que o projeto engendrado por Braga
Netto é perigoso e, caso confirmado, pode levar o governo ao caminho do
‘desenvolvimentismo’, estratégia usada por governos populistas de crescimento a
qualquer custo. “O ministro Paulo Guedes faz um bom trabalho. Eu acredito que,
neste momento em que estamos vivendo, nós temos que ter a capacidade de reduzir
a máquina pública e acreditar no setor privado. Sou contra a máquina pública
voltar a fazer um movimento desenvolvimentista, a criar uma política que era
empregada pela Dilma. Já vimos que isso não dá certo”, disse a VEJA Luciano
Hang, dono da rede Havan, enquanto visitava a obra de uma futura unidade a ser
inaugurada na cidade de Gravataí (RS).
Além do desgosto em ver Guedes perder força à
frente da Economia, os empresários se assustaram com a demissão de Sérgio Moro,
uma das principais estrelas do governo e o pilar de sustentação de grupos de
apoio. “Esperamos não ter uma nova perda do tamanho da do ministro Sérgio Moro,
que é um herói vivo da nação brasileira”, afirmou Hang. “O ministro Paulo
Guedes e o Sérgio Moro são o que sustentam o apoio do empresariado ao governo.
Esperamos que o Paulo Guedes se mantenha no cargo”, complementou.
Para o presidente da rede Polishop, João
Appolinário, que também faz parte do movimento Brasil 200, ainda é cedo para
avaliar os impactos da saída de Moro na economia e até na popularidade do
governo Bolsonaro. “A princípio, não é bom perdermos mais um ministro. Acabamos
de ter a saída do Henrique Mandetta [do Ministério da Saúde]. Mas é normal, faz
parte da democracia”, disse. “Mas o problema maior do momento é o que estamos
vivendo na saúde pública. Isso é ruim. Nós deveríamos estar mais preocupados em
resolver esse problema de saúde que estamos vivendo”, alerta.
José Carlos Semenzatto, presidente da rede de
franquias SMZTO e amigo de Appolinário – os dois fazem parte do reality show
Shark Tank –, também acredita que é cedo para avaliar os impactos da saída de
Moro e pede explicações de Bolsonaro. “Obviamente, o presidente perde um elo de
apoio muito importante, e isso pode desestabilizar. Queremos ouvir o presidente
para ver qual a versão dele, pois não há dúvidas sobre a credibilidade e
moralidade do ministro Moro”, disse. “Lamentável terminar uma sexta-feira como
esta”, desabafa.
Gabriel Kanner, presidente do Instituto Brasil 200,
grupo que reúne empresários liberais — que, até o momento, apoiava o governo
Bolsonaro – se diz frustrado com a demissão de Moro. “A saída do Sergio Moro
abala qualquer confiança que poderíamos ter no Bolsonaro”, afirmou. “Não só a
saída dele destrói um dos pilares de sustentação do governo, mas as acusações
feitas pelo Moro em seu discurso são extremamente graves. Mostra uma faceta que
nós não conhecíamos do presidente até então, de querer interferir no trabalho
da Polícia Federal. É, realmente, uma decepção completa para todos que
acreditaram que o Bolsonaro pudesse representar uma transformação profunda da
política brasileira, uma verdadeira limpa na corrupção do país. Isso abala completamente
o apoio que o nosso grupo e que vários outros empresários detinham no governo”,
desabafou.
Segundo ele, além da segurança, o governo passa,
neste momento, por um processo de “fritura” do ministro Paulo Guedes, principal
peça de apoio por parte do empresariado brasileiro. “Estamos vendo um processo
de isolamento e de fritura do ministro Guedes, que é uma pessoa de confiança
dos empresários, e que vinha promovendo uma recuperação econômica, com reformas
e privatizações. Mas, o anúncio do programa Pró-Brasil, do qual ele não faz
parte, é muito ruim. Eu não me surpreenderia se o Guedes saísse do governo em
breve”, disse Kanner. Para ele, a equipe econômica de Guedes desempenha bem
suas funções como forma de mitigar os impactos da pandemia do coronavírus (Covid-19)
na economia nacional. “Nós precisamos adotar o caminho do liberalismo que vinha
sendo defendido pelo Guedes. Passada a crise, teremos que rapidamente voltar a
destravar o mercado e criar um ambiente de negócios mais propício aos
empreendedores. Só assim nós vamos conseguir recuperar a economia do país. Não
será por meio de um plano central estatal que isso será feito”, afirmou. A
julgar pelo descontentamento do empresariado, Bolsonaro sai enfraquecido desta
quebra de braço com Moro. Resta ver até onde irá a pressão exercida sobre o
ministro Paulo Guedes.
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