Bolsonaro faz afago a
Guedes, mas cobra plano de recuperação da economia ainda em 2020
Jussara Soares e
Adriana Fernandes
BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro fez um afago nesta
segunda-feira, 27, ao ministro da Economia, Paulo Guedes, ao dizer que é seu "Posto
Ipiranga" quem decide sobre a política econômica, mas
cobrou que o ministro negocie com os colegas um plano de recuperação econômica
para começar ainda em 2020.
"Acabei mais uma reunião aqui tratando de economia. E o homem que
decide a economia no Brasil é um só: chama-se Paulo Guedes. Ele nos dá o norte,
nos dá recomendações e o que nós realmente devemos seguir”, disse Bolsonaro,
pela manhã, em frente ao Palácio da Alvorada.
O entendimento de auxiliares do Planalto é que qualquer sinal de
enfraquecimento do ministro da Economia pode potencializar uma instabilidade no
governo. Bolsonaro é alvo de 31 pedidos de impeachment na
Câmara de Deputados e de um pedido de investigação da
Procuradoria-Geral para que o Supremo Tribunal Federal (STF) apure as acusações
do ex-ministro da Justiça,Sergio Moro.
A declaração ocorre uma semana depois de o ministro-chefe da Casa Civil,
Walter Braga Netto, anunciar um programa de recuperação econômica
e social, o Pró-Brasil, sem a participação da equipe de Guedes.
A iniciativa fomentou rumores de que Guedes poderia deixar o governo porque o
plano prevê o aumento de gastos públicos em infraestrutura, indo de encontro ao
que defende a cartilha liberal do ministro.
Apesar de reforçar a autonomia de Guedes, em reunião no Alvorada com a
participação dos ministros Tarcísio de Freitas
(Infraestrutura) e Tereza Cristina (Agricultura), e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, Bolsonaro cobrou do
ministro da Economia investimento para o pós-covid-19. O governo entende que, neste
momento, é preciso ter uma conciliação entre o que defende equipe econômica e a
agenda política.
Como mostrou o Estado, Campos Neto foi escalado por Guedes para alertar
que a gastança de recursos públicos previstas no plano desenvolvimentista já
tinha efeito no aumento dos juros futuros. "A disciplina fiscal é que vai
nos manter em curso e fazer com que o País consiga viver com juros baixos e
inflação controlada”, reforçou Campos Neto ontem. "Queremos reafirmar a
todos que acreditam na política econômica que ela segue, é a mesma", disse
Guedes.
Outro motivo de divergência com o ministro da Economia é a aproximação
do governo com liderança partidárias do chamado Centrão. Em troca de apoio, o
Executivo tem prometido cargos às legendas.
A interlocutores, Guedes demonstrou contrariedade com a possibilidade de
o comando do Banco do Nordeste ser entregue para o líder dos Progressistas, o
deputado Arthur Lira (AL). Em conversas reservadas, o ministro diz que ele se
tornou um obstáculo para as lideranças do Centrão que querem aumento de gastos
para se beneficiarem eleitoralmente em suas regiões, enquanto ele tem o dever
de manter o Orçamento sob controle.
Para Guedes, tanto no programa Pró-Brasil quanto na aproximação do
governo com o Centrão, o responsável é o ministro do Desenvolvimento Regional,
Rogério Marinho, com quem está rompido. O chefe da Economia tem isentado os
ministros militares de culpa neste processo.
Em uma tentativa de obter apoio de outros colegas da Esplanada, Guedes
participou de um almoço na última sexta-feira, 24, com os ministros Onyx Lorenzoni (Cidadania),Tereza Cristina
(Agricultura), Ernesto Araújo
(Relações Exteriores), Abraham Weintraub (Educação) e Tarcísio de
Freitas (Infraestrutura).
Neste mesmo dia, o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) usou as redes
sociais para dizer que Guedes seguiria no governo. “Para que não haja dúvidas:
PG segue tendo nosso total apoio”, escreveu. O grupo ideológico que integra o
governo e tem grande influência nas redes sociais também reforçou a defesa da
agenda econômica de Guedes.
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