Abertura de investigação sobre acusações de Moro a Bolsonaro tem forte
repercussão na imprensa francesa
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Valter Campanato/ Agência Brasil
A abertura de um inquérito na Polícia Federal (PF)
sobre as acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro contra o presidente
Jair Bolsonaro, determinada nesta segunda-feira (27) pelo ministro Celso de
Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), tem forte repercussão na imprensa
francesa.
O portal France Info, os jornais Le Monde, Le
Parisiene e La Croix tratam a decisão de Mello como uma das principais
manchetes internacionais da manhã desta terça-feira (28). Com base em
informações da agência AFP, os veículos dizem que o Supremo deu o prazo de 60
dias para que a PF interrogue Moro sobre as acusações feitas em sua demissão,
na sexta-feira passada. As conclusões podem tanto abrir o caminho para um
pedido de impeachment contra o presidente quanto uma acusação de falso
testemunho contra Moro.
A decisão de Mello foi provocada pelo
procurador-geral da República, Augusto Aras, que na sexta-feira (24) pediu ao
STF a abertura de inquérito para apurar declarações de Moro sobre a suposta
tentativa de interferência do presidente na autonomia da Polícia Federal, o que
Bolsonaro nega.
O portal da rádio France Info informa que
até um eventual impeachment de Bolsonaro o caminho será longo.
"O presidente de extrema direita continua
dividindo fortemente os brasileiros. Segundo uma pesquisa, 45% deles pensam que
o Congresso deveria abrir um processo de destituição e 48% que não
deveria", destaca o site. O portal recorda que "Moro mostrou na
televisão uma troca de mensagens no WhatsApp, onde o chefe de Estado parecia
exercer pressão sobre ele". A mídia brasileira informou que o ex-juiz
manteve imagens que poderiam incriminar o presidente, acrescenta.
Caso a Procuradoria Geral da República encontre
elementos para apoiar uma denúncia formal contra Bolsonaro, caberá à Câmara dos
Deputados autorizar o STF a permitir a investigação. Se a denúncia for
confirmada, caberá novamente ao Congresso abrir um processo de
"impeachment" contra Bolsonaro, esclarece o site.
Le Monde
destaca "sete infrações" apontadas pela PGR. As declarações de Moro
atribuem a Bolsonaro crimes como falsidade ideológica, coação no curso do
processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de Justiça e
corrupção passiva.
Segundo o diário Le Parisien, Bolsonaro
enfrenta uma fase ruim. "Ele está enfraquecido pela renúncia de Sergio
Moro, o ministro mais popular do governo, e pela demissão do ex-ministro da
Saúde Luiz Henrique Mandetta, favorável ao confinamento – ao contrário do
presidente. Agora, acumula preocupações com a Justiça", escreve o diário.
O católico La Croix observa que o chefe de
Estado "enfrenta, há várias semanas, crescente oposição da
população", que promove panelaços em várias cidades do país. Apesar disso,
"Jair Bolsonaro ainda mantém uma base de apoio – um terço dos brasileiros
– equivalente à que ele possuía em dezembro de 2019", destaca o jornal.
"A substituição do diretor da Polícia Federal é percebida como uma
tentativa de Bolsonaro de controlar a investigação que interessa muito sua
família e seus aliados políticos", conclui o diário.
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