Câmara foca em empresas e
já tem 70 projetos relacionados ao coronavírus
Camila Turtelli e Patrik Camporez
BRASÍLIA - Mesmo com o Congresso esvaziado para evitar a
propagação do novo coronavírus, deputados já apresentaram ao menos 70 projetos
de lei relacionados à pandemia desde o registro do primeiro caso no
País, no fim de fevereiro. A maior parte deles, 47, é formada por medidas para
garantir a saúde financeira de empresas e trabalhadores, enquanto 19 propostas
são para destinar mais recursos ou ampliar o atendimento a doentes. Há ainda
quatro proposições que criminalizam condutas durante a situação de crise, como
a que prevê prisão de até oito meses para quem fingir ter a doença.
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Leopoldo Silva / Agência Senado Para evitar a presença “física” de senadores
nas sessões, Casa testa aplicativo que permite a votação remota (por celular)
de projetos
Em reunião com líderes no começo da semana, o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
definiu que os deputados só vão votar propostas relacionados à saúde, economia
e proteção social durante o período crítico da epidemia. Qualquer assunto fora
disso ficará para depois. A determinação provocou uma corrida de novos
projetos.
A preocupação do deputado Diego Andrade (PSD-MG), por exemplo, foi aliviar as contas de empresas de
transporte de cargas. Ele propõe isentar o setor da contribuição previdência
sobre a folha de pagamento e substituí-la por uma alíquota menor que incidiria
sobre a receita bruta de cada empresa.
“O Brasil é dependente do transporte rodoviário de
cargas. Para se ter uma ideia, nos últimos oito anos é quase um milhão de novos
caminhões licenciados em todo o País”, disse Andrade, sobrinho do ex-presidente
da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Clésio Andrade.
Dar um refresco nos cofres de empresários também é
a intenção do deputado Helder Salomão
(PT-ES). O petista sugere isentar micro e pequenas empresas
de pagar impostos sempre que houver situação de emergência sanitária, como a
atual. A proposta vai além da medida anunciada nesta semana pela equipe
ministro da Economia, Paulo Guedes, que prevê suspender as cobranças por três
meses, mas com a obrigação do empresário quitar o valor retroativo após este
período.
Entre os projetos apresentados até agora, alguns se
repetem. Seis deles são para garantir o fornecimento de água e luz mesmo para
quem deixar de pagar suas contas neste período e para pessoas em situação
vulnerável. Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) já anunciou medida similar, com a suspensão
da cobrança de água para a população de baixa renda.
Nas propostas voltadas diretamente à saúde, ao
menos dois projetos destinam os R$ 2 bilhões reservados para as campanhas
eleitorais para ações de combate ao coronavírus. O valor está previsto no Orçamento
para financiar gastos de candidatos com viagens, cabos eleitorais e
material de divulgação.
“Não podemos admitir que o Brasil caminhe na
contramão do combate à pandemia do coronavírus com um gasto no fundo
eleitoral”, afirmou o deputado Sanderson (PSL-RS).
Prisão
A criminalização de condutas
que, no entendimento dos deputados, dificultam o combate à pandemia também
viraram projetos. O deputado Tiago Dimas (Solidariedade-TO)
quer prisão de até oito meses para quem fingir ter a doença. “Me incomoda muito
a ação dos oportunistas que espalham situação falsa. Já tem alguns casos
ocorrendo no Brasil e entendo que a nossa legislação tem que ter mecanismo para
punir essas pessoas”, disse .
Na mesma linha, a líder do
PSL, Joice Hasselmann
(SP), tenta aumentar a pena de quem cometer qualquer infração sanitária.
“Apresentei um projeto de lei para penas mais duras a quem desrespeitar ordens
de cuidado sanitário em tempos de pandemia. Já coletei assinaturas para
requerimento de urgência”, afirmou Joice.
A proposta foi apresentada
quatro dias antes de Bolsonaro ignorar orientações médicas para ficar em
isolamento e participar de manifestações, no domingo. Ele havia tido contato
com pessoas infectadas com o vírus, em recente viagem aos Estados Unidos, e
precisou realizar exames para saber se fora contaminado. Segundo Bolsonaro,
dois testes deram negativo. “O presidente estaria enquadrado se a proposta já
estivesse aprovada”, disse Joice, que já foi líder do governo e rompeu com Bolsonaro, no ano passado.
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