Após ato, Bolsonaro vê 'histeria' em combate a coronavírus e desafia
Maia e Alcolumbre
Mateus Vargas e Gustavo Porto
BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro desafiou
neste domingo, 15, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), a irem "às ruas" para ver
como eles serão recebidos.
A declaração de Bolsonaro, feita à CNN Brasil,
foi uma resposta a críticas sobre a participação do presidente em protesto
pró-governo, anti-Congresso e anti-STF. "Gostaria que Maia e Alcolumbre
saíssem às ruas como eu. Saiam às ruas e vejam como vocês são recebidos. O acordo
não tem q ser entre nós no ar refrigerado. Tem que ser entre nós e o
povo"", disse.
Maia e Alcolumbre divulgaram nota para criticar a presença de Bolsonaro
na manifestação. O presidente da Câmara considerou um “atentado
à saúde pública” a atitude Bolsonaro de ter participado da manifestação
pró-governo da área externa do Palácio do Planalto, interagindo com
manifestantes. Já o presidente do Senado classificou o comportamento como
"inconsequente" e um "confronto" à democracia.
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO O presidente da República, Jair Bolsonaro, em frente ao
Palácio do Planalto neste domingo, 15, para cumprimentar manifestantes
"Estão fazendo críticas. Estou tranquilo.
Espero que não queriam fazer algo belicoso", disse Bolsonaro. O presidente
afirmou que está disposto a receber Maia e Alcolumbre ou visitá-los para
alinhar uma "pauta de interesse da população".
Segundo o presidente, se houver
"aproximação" com o povo, todos no meio político serão "muito
bem tratados, reconhecidos e até idolatrados". "Não quero eu aparecer
e eles não. Estou disposto a recebê-los. Vamos conversar", disse. O
presidente disse que "irresponsavelmente" quiseram atribuir a ele a
convocação dos atos. "Querem lançar cortina de fumaça sobre seu trabalho
que não está sendo reconhecido por parte da população."
Bolsonaro disse que políticos têm de ser
"quase escravos da vontade popular". Ele criticou acordos políticos,
como para divisão de recursos do Orçamento impositivo. "O acordo não tem
de ser entre nós. Tem de ser entre nós e o povo", disse.
"Histeria"
Bolsonaro também chamou de "extremismo" e
"histeria" medidas adotadas diante da pandemia do coronavírus, que no
Brasil já havia infectado 200 pessoas até o início da noite.
Para enfrentar a pandemia, governadores têm
decretado o fechamento provisório de lugares com alta aglomeração de pessoas,
como salas de cinema e teatro e a suspensão de atividades escolares. Para o
presidente, a proibição de jogos de futebol é partir para o extremismo. Ele
sugeriu permitir que ao menos uma parte dos ingresses seja vendida, liberando
parcialmente, assim, o acesso aos jogos.
“Porque não vai, no meu entender, conter a expansão
desta forma muito rígida. Devemos tomar providências porque pode, sim,
transformar em uma questão bastante grave a questão do vírus no Brasil, mas sem
histeria”, opinou o presidente.
Para ele, medidas como o fechamento de estádios vão
aumentar o desemprego. Bolsonaro disse que o governo irá instalar um gabinete
de crise para "tomar providências", especialmente na área econômica.
"O desemprego leva pessoas que já não se
alimentam muito bem a se alimentar pior ainda, aí vão ficar mais sensíveis, uma
vez sendo infectadas, você levar até a óbito", afirmou. “A questão do
vírus é grave, mas economia tem de funcionar e não podemos prejudicar
economia”.
O presidente disse que houve uma pandemia na década
passada, mas que a "reação não foi essa". "No Brasil era o PT
que estava (no governo), nos EUA, eram os democratas. A reação não foi essa.
Nem sequer perto do que está acontecendo", especulou. Ele se referiu à
gripe H1N1.
Onze pessoas que estiveram com Bolsonaro nos Estados Unidos estão com coronavírus,
entre eles o secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten. O
prefeito de Miami, Francis Suarez, que recepcionou a equipe brasileira também
está infectado.
Evitar aglomerações
Após o presidente Jair Bolsonaro atropelar
recomendações sanitárias e participar de ato pró-governo, o Ministério da Saúde voltou a orientar que sejam evitadas aglomerações e
contatos próximos. “A recomendação vale para manifestações,
shows, cultos e encontros, entre outras atividades”, disse a pasta em nota
enviada no fim da tarde deste domingo, 15.
O Ministério da Saúde fez recomendações na semana
passada para que eventos com aglomerações fossem cancelados, adiados ou feitos
sem público. Ontem, após pressão do setor de Turismo, a pasta recuou e orientou
a medida apenas para locais com transmissão comunitária do vírus, quando não é
possível identificar quem pegou de quem. São os casos de São Paulo e do Rio de
Janeiro.
O recuo do ministério por pressão do setor do
turismo e a ida de Bolsonaro ao protesto, atropelando a cartilha sanitária do
governo, causaram constrangimento entre autoridades que trabalham para conter o
avanço do novo coronavírus. A leitura é de que falta autonomia ao ministério
para decidir quais medidas devem ser adotadas pelo País.
Causou ainda perplexidade no governo a presença do diretor-presidente substituto da Anvisa, Antonio Barra
Torres, no ato pró-governo. Ele estava ao lado de Bolsonaro e chegou
a fazer fotos com o presidente.
Barra Torres se tornou um conselheiro de Bolsonaro
para assuntos de saúde. Apesar de elogiado por ações para conter uma crise
sanitária no Brasil, o ministro Mandetta não cai nas graças de Bolsonaro, dizem
fontes do governo.
A Anvisa não se manifestou sobre se Bolsonaro
contrariou recomendações do órgão e da Saúde para evitar uma epidemia de novo
coronavírus. Disse apenas que Barra Torres aceitou convite para conversa
informal no Palácio do Planalto com Bolsonaro.
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