Reforma política: cuidado
com o que desejamos
Tiago Mitraud
Com frequência, quando defendo alguma das inúmeras reformas necessárias ao país, ouço a pergunta “e a reforma política?”.
Nosso atual sistema
político eleitoral é de fato falho. Não foi à toa que temos hoje um ambiente
onde a classe política se distanciou tanto da sociedade, sendo tão mal avaliada
por ela. A agenda legislativa do Novo na Câmara apresenta uma série de medidas
para aprimorá-lo, que vão desde a adoção do sistema distrital, seja puro ou
misto, até a defesa das candidaturas independentes e do fim do financiamento
público de campanha.
Porém, quando
pergunto de volta o que significa uma reforma política, me preocupam as
respostas que recebo. Além daquelas que devem ser sempre refutadas, como
“fechar o Congresso”, é frequente a sugestão de “reduzir o número de
deputados”.
Entendo que a
insatisfação com a atual classe política e os altos custos do parlamento levem
a população a defender este último ponto. Porém, como dizia o jornalista
americano Henry Mencken, para todo problema complexo há uma solução simples,
clara e errada.
Defender a redução
do número de deputados é um tiro no pé. O papel da Câmara, assim como o das
Assembleias e Câmaras de Vereadores, é representar os interesses da população
no aprimoramento de leis e na fiscalização do Executivo.
Hoje, cada um dos
513 deputados federais brasileiros representa cerca de 400 mil habitantes.
Entre as principais democracias do mundo, apenas os EUA possuem uma proporção
maior de habitantes por deputado, mas lá o sistema distrital puro colabora para
aproximar o representante da população.
Caso o número no
Brasil fosse reduzido para dois terços do atual, cada um dos então 342
representaria mais de 600 mil brasileiros. Se hoje temos problemas de
representatividade, eles se agravariam com a medida e concentraríamos ainda
mais poder em menos representantes.
Além disso, com
menos cadeiras em disputa, os eleitos precisariam de muito mais votos, o que
facilitaria a reeleição de quem já tem mandato e é mais conhecido, dificultando
a renovação política.
Precisamos,
portanto, tomar cuidado com soluções simplistas. Se o incômodo é com o custo do
parlamento, vamos pressionar para reduzir a cota parlamentar e o número de
assessores. Se todos economizassem como eu, que tive o mandato mais barato da
Câmara, a economia anual seria de R$ 1 bilhão.
Se o incômodo é com a qualidade dos atuais políticos e partidos, a mudança em boa parte já está em nossas mãos, nas urnas. A reforma política precisa acontecer, mas devemos lutar pelas batalhas certas.
Se o incômodo é com a qualidade dos atuais políticos e partidos, a mudança em boa parte já está em nossas mãos, nas urnas. A reforma política precisa acontecer, mas devemos lutar pelas batalhas certas.
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