Equipe econômica teme
pautas-bomba
Adriana Fernandes e Camila Turtelli
BRASÍLIA - A equipe econômica já começa a ver
riscos de não avançarem rapidamente, neste primeiro semestre, as três pautas
que eram dadas como certas para aprovação pelo Congresso: o projeto de autonomia do Banco Central e as Propostas de
Emenda à Constituição (PECs) Emergencial e dos fundos públicos.
© Fabio Motta/ Estadão Paulo Guedes, ministro da
Economia
O acirramento dos ânimos com o Parlamento, depois
que o presidente Jair Bolsonaro disparou de seu celular um vídeo convocando apoiadores a irem às ruas para defendê-lo contra o
Congresso, como revelou o Estado, colocou a pauta em
suspense e ampliou as incertezas da agenda econômica. O ministro da Economia,
Paulo Guedes,
é o mais cobrado pelas lideranças partidárias da Câmara e do Senado, que o
acusam de ter descumprido o acordo do Orçamento impositivo, que amplia poderes
dos parlamentares na destinação dos recursos para programas e ações do governo.
Nos bastidores, líderes reclamam de fragilidades da equipe de Guedes nas
negociações. A impaciência do Parlamento com Guedes foi exposta pelo presidente
do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que reclamou do ministro da
Economia ao próprio Bolsonaro.
Por outro lado, na área econômica, há receio que o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não consiga mais segurar a votação
das pautas-bomba (projetos com alto impacto nas despesas públicas), como fez
até agora. São pautas populares, que obrigariam o presidente a vetá-las pelo
custo fiscal. A mais preocupante é a que reformula a política do salário
mínimo. Emenda já apresentada à Medida Provisória 919, que fixa o salário
mínimo em R$ 1.045,00, pode ter impacto já em 2020.
‘Dono da pauta’
Mesmo Maia sendo “dono” da pauta de votação, a
Câmara já se movimenta por conta de sua sucessão, o que pode enfraquecer o
apoio ao presidente da Casa. A disputa pelas comissões também atrapalha as
negociações.
A interlocutores, Maia garante que não tem
interesse em pautas-bomba, porque quer manter a bandeira de um Congresso que
preza pelo equilíbrio fiscal.
A avaliação é de que não é hora de o Congresso
“riscar o fósforo”, mas de calibrar a resposta à investida do governo contra os
parlamentares. Para as lideranças, o problema na condução da agenda econômica
está na relação entre a equipe de Guedes com o próprio governo, que “precisa se
acertar com as tendências populistas do governo, como quando Bolsonaro decide
intervir na economia”, diz o líder do Cidadania na Câmara, Arnaldo Jardim (SP).
Para o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), a
relação com Guedes já foi melhor. “A equipe econômica chegou a ser a grande
avalista da agenda do governo na Câmara. Atualmente, atritos reduziram essa
sintonia, como o aguardo pelas propostas tributária e administrativa que não
chegaram até o momento.”
Rodrigo Maia foi cauteloso. Pelo Twitter, defendeu
o diálogo em nome da democracia. Na equipe econômica, o discurso é de busca do
entendimento com o Congresso. A área econômica teme ainda que o Parlamento seja
duro na votação do projeto que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e
não dê flexibilidade necessária para a gestão orçamentária em 2020.
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