Governo quer tirar poder de relator sobre emendas no Orçamento
Jussara Soares e Adriana Fernandes
BRASÍLIA – O acordo fechado antes do carnaval entre o Congresso
e o Palácio do Planalto sobre a divisão dos recursos do Orçamento deve sofrer mudanças. O presidente Jair Bolsonaro
quer rever o acerto que, na avaliação do governo, dá poder excessivo ao relator do projeto na repartição do dinheiro
de emendas parlamentares. Na tentativa de encontrar uma solução para a crise
política, Bolsonaro marcou uma reunião para segunda-feira com os presidentes da
Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre
(DEM-AP).
Maia está em missão oficial na Europa
e retornará ao Brasil na segunda. O deputado disse ao Estado que
trabalhará para manter o que foi combinado com o governo. Mesmo assim, deu
sinais de que o Legislativo não deve criar problemas para o Planalto. Apesar da
queda de braço, tanto Bolsonaro quanto a cúpula do Congresso temem que a crise
comece a contaminar a economia.
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GABRIELA BILO / ESTADÃO (10/12/2019) O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do
Senado, Davi Alcolumbre; presidentes doLegislativo devem se reunir com
Bolsonaro na segunda, 2
“Incompreensões e turbulências não vão tirar nem o
foco nem a serenidade dos parlamentares”, escreveu Maia, no Twitter, revelando
ter conversado com o chefe da assessoria de Relações Institucionais do
Ministério da Economia, Esteves Colnago.
“O Brasil pode contar com a Câmara para aprovar as reformas”, disse ele, que
articula o apoio do Congresso à reforma tributária.
O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes
(MDB-TO), também admitiu a nova rodada de conversas para ajustes no projeto.
“Matéria acordada no Congresso tem que ser cumprida. Mas o acordo pode sofrer
transformações durante o processo de votação e na discussão, porque é para isso
que serve o Parlamento. As pessoas sentam, conversam, ajustam”, disse Gomes ao Estado.
“Há um clima propositivo para resolver o impasse e para tocar a agenda
econômica”.
O rateio da verba do Orçamento foi o pano de fundo
para a tensão dos últimos dias, que atingiu o ápice após Bolsonaro compartilhar pelo WhatsApp um vídeo convocando manifestações
em defesa do governo, como mostrou o site BR Político, do Grupo Estado, na terça-feira. Nas redes
sociais, movimentos de direita anunciaram que os atos serão contra o Congresso,
o que provocou reações negativas nos mundos político e jurídico.
Ao dar palestra para empresários em Florianópolis
(SC), nesta sexta, 28, o vice-presidente Hamilton Mourão
disse que o Brasil parece viver um “eterno turbilhão” e pregou a superação dos conflitos.
“Mais uma vez, eu destaco que os mares não estão tranquilos, né?”, afirmou.
O Estado apurou que a busca de um novo
acordo com o Congresso tem o objetivo de evitar um acirramento ainda maior dos
ânimos, às vésperas das manifestações do dia 15. Irritado, Bolsonaro chegou a
ameaçar até mesmo entrar na Justiça, caso caiam seus vetos ao projeto de lei
que define como os recursos públicos serão gastos em 2020. Em contrapartida, o
Congresso prometeu recorrer ao Judiciário se o Orçamento impositivo, que obriga
o pagamento das emendas no mesmo ano, não for cumprido.
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GABRIELA BILO / ESTADAO O presidente Jair Bolsonaro deixa o Palacio da Alvorada
sem falar com a imprensa nesta sexta, 28
Há ainda uma questão prática: no fim de março o
governo terá de anunciar o primeiro bloqueio de verbas do Orçamento de 2020 – e
todo o imbróglio referente a emendas parlamentares precisa estar resolvido até
lá. O Congresso também tem interesse em solucionar o impasse porque este é um
ano de disputas municipais. Deputados e senadores usam as emendas para destinar
recursos a seus redutos eleitorais.
Pelo projeto aprovado no fim do ano passado, o
Legislativo teria o controle de R$ 46 bilhões do Orçamento. A proposta também
previa regras mais rígidas para os pagamentos, como prazo de 90 dias nos casos
de emendas de relator e punição ao governo, quando não houvesse os repasses. No
diagnóstico do Planalto, neste cenário o relator do Orçamento, Domingos Neto
(PSD-CE), teria mais poder do que muitos ministros.
Bolsonaro vetou trechos do projeto aprovado e
líderes de partidos estavam dispostos a desafiar o governo, derrubando o que o
presidente havia rejeitado. Mas, após um acordo costurado pelo ministro da
Secretaria de Governo, Luiz Eduardo
Ramos, parlamentares cederam e aceitaram devolver ao Executivo R$ 11 bilhões do
Orçamento para investimentos e custeio da máquina. Concordaram, ainda, em
deixar fora da lei o prazo de 90 dias para o governo garantir o pagamento das
emendas e a punição.
Mesmo assim, o acordo foi criticado internamente
por integrantes do governo. A crise eclodiu quando o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, acusou o Congresso de “chantagear” o governo. O Estado
apurou que Bolsonaro chegou a falar em “golpe branco” em reuniões fechadas
sobre o assunto. Disse, ainda, que não seria “refém do Congresso”, nem uma “rainha da Inglaterra”, sem
poder de execução do Orçamento.
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