Câmara aprova envio ao
Senado de acusações para impeachment de Trump
© OLIVIER DOULIERY A líder da Câmara
dos Representantes, Nancy Pelosi, ao lado dos congressistas Adam Schiff (d) e
Jerry Nadler (e), em 15 de janeiro de 2020, em Washington, DC
A Câmara de Representantes votou nesta quarta-feira (15) pelo envio ao
Senado das acusações para o impeachment do presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump.
Os congressistas aprovaram a medida por 228 votos a 193 em uma ação que
permitirá que o processo no Senado comece nos próximos dias.
A Câmara também adotou uma resolução que nomeia sete democratas que servirão
como promotores no julgamento político e os autorizou a apresentar ambas as
acusações contra Trump no Senado.
A líder democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, repetiu
sua exigência para que o julgamento no Senado convoque testemunhas do círculo
interno de Trump para depor e solicite documentos que foram rejeitados durante
a investigação.
Pelosi alertou que a Câmara Alta será culpada de
"encobrimento" se não fizer isso.
"Meus colegas dos dois lados do salão, hoje estamos aqui para
cruzar um ponto muito importante na história dos Estados Unidos", disse
Pelosi antes da votação.
"Qualquer que seja o resultado, o povo americano quer um julgamento
justo".
O julgamento, previsto para começar na terça-feira no Senado, controlado
pelos republicanos, decidirá se o presidente deve ou não ser afastado do cargo.
Antes da votação, Trump, que descreveu esse processo como uma "caça
às bruxas", acusou os democratas de encenação de uma "farsa".
Tarefa séria
No início desta quarta-feira, Pelosi escolheu sete congressistas
democratas que irão atuar como promotores no julgamento contra Trump.
O presidente do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes, Adam
Schiff, encarregado da investigação para a abertura do processo de impeachment,
liderará o grupo.
Além de Schiff, a equipe de promotores será integrada pelo presidente da
Comissão de Justiça da Câmara, Jerry Nadler e outros cinco democratas, a
maioria com experiência no sistema jurídico dos Estados Unidos.
"A tarefa diante de nós é séria, mas exigida pelo nosso
juramento", afirmou Schiff na Câmara dos Deputados.
"O presidente Trump colocou seus interesses pessoais acima do
interesse nacional, acima de nossa segurança nacional. E se ele não for parado,
fará de novo", afirmou.
"O único remédio é a condenação e destituição do presidente Donald
Trump".
"Caça às bruxas"
Trump foi acusado em 18 de dezembro, quando a Câmara de Representantes,
controlada pelos democratas, votou a favor da abertura do processo de
impeachment por abuso de poder, buscando a ajuda da Ucrânia para sua campanha
de reeleição.
Em uma caminhada solene que só foi realizada duas vezes na história dos
Estados Unidos, o processo será levado da Câmara para o Senado.
As acusações serão lidas em voz alta perante os 100 senadores, que irão
analisar o caso e definir o futuro do presidente, numa decisão que deve sair na
quinta ou sexta-feira da próxima semana.
Trump é acusado de reter ajuda militar à Ucrânia entre julho e setembro
para pressionar Kiev a investigar o ex-vice-presidente Joe Biden, líder na
disputa pela indicação do Partido Democrata para concorrer à presidência em
2020.
Também é citado por obstrução do Congresso por não enviar documentos
essenciais para o bom funcionamento do processo e por impedir que pessoas
importantes em sua administração testemunhassem.
Mas é muito improvável que Trump seja condenado no Senado, já que o
Partido Republicano do presidente tem uma maioria de 53 cadeiras, contra 47 dos
democratas. É necessária uma maioria de dois terços para destituir o
presidente.
Nova evidência
Os democratas querem especialmente ouvir o depoimento do chefe de
gabinete interino de Trump, Mick Mulvaney, e do ex-assessor de Segurança
Nacional da Casa Branca John Bolton.
Bolton, que segundo o depoimento de outras autoridades estava incomodado
com o plano de pressionar a Ucrânia, se disse pronto para responder a uma
convocação do Senado.
"Deveríamos ter depoimento, e deveríamos ter documentos",
disse Pelosi.
Na terça-feira, os democratas revelaram novas evidências que apoiariam
as acusações contra o presidente e que levarão ao Senado.
A evidência vem de registros telefônicos do advogado ucraniano-americano
Lev Parnas, que supostamente trabalhou com o advogado de Trump, Rudy Giuliani,
sobre o suposto plano de pressionar Kiev para buscar informações
comprometedoras sobre os democratas.
Esses registros também revelam que ambos trabalharam com autoridades
ucranianas para tentar expulsar a então embaixadora americana no país, Marie
Yovanovitch, que acabou sendo destituída por Trump.
Os registros de Parnas "mostram que há evidências mais importantes
sobre o esquema do presidente, mas o próprio presidente o ocultou",
afirmou Schiff.
Batalha pelos depoimentos
Mas o líder republicano do Senado, Mitch McConnell, cuja forte maioria
definirá as regras para o julgamento de Trump, recusou a convocação de
testemunhas antes que as declarações e argumentos iniciais sejam apresentados
na casa legislativa.
Assim que as acusações forem apresentadas no Senado, o presidente do
Supremo Tribunal, John Roberts, prestará juramento para presidir o processo, na
quinta ou na sexta-feira.
Os 100 senadores atuarão como júri e deverão permanecer na câmara por
toda a duração do julgamento.
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