Voltando no tempo
Manoel Hygino
O Natal 2019 passou,
mas deixou registros inapagáveis em cada ser humano que o viveu, sobretudo
entre os cristãos. Em sua tradicional homilia, além da bênção Urbi et Ortbis,
no Vaticano, o papa Francisco enfatizou a importância do amor incondicional
diante da lógica do mercado. Em missa na Basílica de São Pedro, o pontífice,
argentino de nacionalidade, Jorge Bergloglio, apelou à paz entre as nações,
pedindo especificamente pelos países latino-americanos, que passam “por um
período de agitação social e política”.
A missa de Natal
celebra o nascimento de Jesus, em Belém, segundo a tradição cristã. Embora
nenhum texto do Novo Testamento indique o dia e a hora, sua comemoração se faz
em 25 de dezembro, como escolhido no século 4, o que permitiu a circuncisão no
dia 1º de janeiro. A comunidade cristã permanece assim no âmbito de
acontecimentos milenares.
Geoffrey Blainey,
autor de obras consagradas como “Uma breve História do Mundo” e “Uma breve
História da Cristianismo”, brilhante estudioso e já consagrado, professor de
Harvard, faz algumas observações, adequadas ao tempo de agora. Ele pergunta:
Afinal, quem foi Jesus? Um mito ou um homem de infinita sabedoria? Qual a
origem dos Evangelhos e o que se sabe a respeito daqueles que os teriam
redigido? Que fatos levaram o cristianismo ao redor do mundo?
Recorda o autor, por
exemplo, que Jesus em quase todos os seus ensinamentos usava uma língua
semítica, o aramaico, ainda empregado presentemente em várias regiões do
Oriente Médio. Ele falava um pouco de hebraico e um pouco de grego, mas o
aramaico era o natural. Assim, a palavra “abba”, que significa “pai” e
empregada por Jesus quando orava no Jardim de Getsêmani, é do aramaico, como
aconteceu durante a crucificação, embora o idioma fosse pouco usado pelos
grupos cristãos fundados nas primeiras décadas após sua morte. A maior parte
das primeiras igrejas cristãs da Palestina se valia do hebraico, principal
língua dos judeus. Mas os judeus cristãos que se reuniam fora dali utilizavam o
grego, a principal na metade oriental do Império Romano. Os quatro Evangelhos,
que compreendem a essência do Novo Testamento, foram escritos em grego.
Assim, Jesus e
Bíblia são gregos, como o é “anjo”, significando mensageiro. Depois da morte de
Cristo, os doze apóstolos receberam o nome, também grego, de “apóstolos”; bispo
quer dizer “inspetor” e eucaristia “Ação de Graças”; “Pentecostes, cinquenta
dias após a Páscoa”. Até hoje, ouve-se a oração “Senhor, tem piedade” na versão
grega – “Kyrie eleison”.
Em Roma, a língua
dos primeiros cristãos era o grego. Vitor, um norte-africano morto em 198, foi
o primeiro papa a abandonar o grego e escrever em latim. Perpétua, morta no
Norte da África, em 203, foi talvez a primeira cristã a escrever em latim, que
acabou por ser o idioma dos cristãos ocidentais.
E há muito mais. O
mais antigo registro feito por um dos primeiros cristãos é uma carta de poucas
linhas, escrita por Paulo – a Primeira Epístola dos Tessalônicos, encontrada em
torno de vinte anos depois da morte de Jesus.
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