Exercitar a
memória ajuda a evitar 'brancos' em meio à correria diária e ao acúmulo de
tarefas
Patrícia Santos
Dumont
A memória só começa
a falhar quando a idade chega, certo? Errado! Alguns anos atrás, esse
raciocínio podia até fazer sentido. Hoje, não mais. Esquecimentos pontuais têm
virado rotina entre os mais jovens. Até mesmo os adolescentes. Excesso de
atividades e de cobranças, sobrecarga de trabalho e estudo, preocupação e
ansiedade são fatores que levam a lapsos recorrentes. Manter uma rotina
saudável e exercitar a mente todo dia fazem parte da receita para deixar o
cérebro tinindo.
Neurologista no
Hospital Albert Einstein, Saulo Nader, mais
conhecido como Doutor Tontura, tranquiliza quanto às queixas na
juventude. “Não é Alzheimer nem demência”, afirma. Segundo ele, agilidade
mental, capacidade de processar informações e de concentrar-se podem ser
prejudicadas por fatores emocionais ligados às atribu-lações do mundo moderno.
“Dormir menos do que
o cérebro pede e ficar estressado com frequência, preocupado e ansioso levam à
dificuldade para se lembrar de compromissos, fazem com que as pessoas percam
objetos pela casa e tenham branco até durante um discurso”, comenta.
Readequação
Estudante de
Arquitetura, Laura de Paula, de 19 anos, sabe bem disso. Atropelada pela
rotina, que inclui faculdade, um estágio, aulas de inglês e de teatro, precisou
pisar no freio para ter a boa memória de volta. “Comecei a esquecer coisas
simples, mas importantes, como a prova do dia seguinte, o aniversário da melhor
amiga e até a roupa que havia usado no dia anterior”, conta. Uma visita ao
médico foi o suficiente para o “diagnóstico”: excesso de informações e
sobrecarga no próprio cérebro.
Apesar da pouca
idade, João Pedro Lima, de 9 anos, também chamou a atenção da mãe quando
começou a esquecer conteúdos importantes, nos quais ia bem na escola. “Sempre
foi um menino estudioso e esperto, mas começou a esquecer o que havia aprendido
no mesmo dia ou uma, duas semanas antes. Foi preciso ajustar as atividades para
que ele tivesse mais tempo para se dedicar a cada uma delas”, lembra a mãe,
Caroline.
Multitarefa
Especialista na
Unimed-BH, a também neurologista Rosamaria Peixoto Guimarães diz que a memória
é formada a partir de uma sequência de funções cerebrais. Ela explica que até
que uma informação seja de fato armazenada, passa por diferentes etapas,
incluindo atenção e concentração, comumente prejudicadas pelo excesso de
atividades no dia a dia.
“É a famosa
multitarefa, conversar ao telefone enquanto digita, assistir à TV enquanto usa
o celular. O cérebro não faz duas, três coisas ao mesmo tempo como se imagina.
O que ele faz é mudar de uma para outra num intervalo curtíssimo de tempo”,
detalha a especialista, acrescentando a privação de sono como um agravante do
problema.
“É durante o sono
que as informações que recebemos ao longo do dia são sedimentadas. É quando
realmente se concretiza a memória de longo prazo”, detalha.
“O estilo de vida das pessoas que dormem pouco, têm muito estresse,
preocupação, exigência e ansiedade faz com que se tornem esquecidas. Se o
emocional não vai bem, a cognição anda pelo mesmo caminho” - Saulo
Nader - Neurologista no Hospital Albert Einstein
Estudar é uma das formas
de desafiar e proteger o cérebro
Pode até parecer,
mas não é força de expressão dizer que o cérebro precisa, assim como os
músculos, ser exercitado. E não é nada de outro mundo. Aprender uma atividade
por dia, seja ela o capítulo de um livro ou o conceito de uma nova palavra são
meio caminho andado para aumentar o que os médicos definem como reserva
cognitiva.
“A gente tem, sim,
essa interpretação do cérebro como um grande músculo. Pessoas que tiveram mais
atividade cognitiva ao longo da vida, que estudaram mais, atuaram em profissões
que exigiam mais da capacidade cognitiva, que leram e fizeram cursos estão mais
protegidas contra o Alzheimer no futuro”, afirma o neurologista Saulo Nader, de
São Paulo.
Segundo ele,
atividades simples, executadas no dia a dia, são suficientes para desafiar o
cérebro, forçando-o a reinventar-se e recalibrar as vias neurológicas,
fortalecendo e protegendo a memória.
É exatamente essa a
premissa da Supera, primeira empresa brasileira dedicada exclusivamente ao
desenvolvimento das capacidades cerebrais. Em sala de aula, alunos de
diferentes idades e com diferentes demandas são levados a treinar concentração,
atenção e raciocínio – bases para uma boa memória.
“Recomendamos um
mínimo de 18 meses de atividades em sala de aula. Como dispomos de ferramentas
on-line, conseguimos medir o grau de evolução do aluno. Outro dia, recebemos
uma adolescente de 14 anos. O pai contou que ela ficava nervosa e não ia bem
nas provas. Em três meses, passou a tirar só notão”, conta a diretora da
unidade Supera BH – Coração Eucarístico, Juliana Antunes Almeida.
“Usar a mão contrária, fazer um caminho diferente e andar de trás para
frente ajudam a utilizar outras áreas, diferentes das habituais, do cérebro”
- Rosamaria Peixoto Guimarães - Neurologista
Além disso:
Confira dicas
práticas dos neurologistas Rosamaria Peixoto Guimarães, da Unimed-BH, e Saulo
Nader, do Hospital Albert Einstein, para fortalecer a memória:
- Baseie sua alimentação na dieta do mediterrâneo, composta basicamente por alimentos frescos, peixes, azeite, frutas, legumes e castanhas
- Pratique atividade física. Exercícios ajudam a oxigenar o cérebro, produzindo substâncias que aumentam a sensação de bem-estar e de prazer, diminuindo a tensão e a ansiedade
- Sinta-se descansado ao acordar pela manhã. Noites agitadas, com despertadores constantes, não são suficientes para concretizar a memória de longo prazo
- Não use remédio para dormir. Pesquisas indicam que algumas classes de ansiolíticos, a médio e longo prazo, provocam efeito contrário e problemas de memorização

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