Extrema pobreza
Manoel Hygino
Dizia aqui, há
poucos dias, que o Brasil não está pior ou melhor materialmente do que antes.
Com toda sua grandeza territorial, não conseguimos confirmar na prática o que
previra, em sua carta a Lisboa, Pero Vaz Caminha, após o descobrimento. Em se
plantando, tudo aqui se dará.
Evidentemente, não
adivinhava que a fortuna não seria apenas vegetal. Depois se soube que havia
muito mais, como ouro e pedras preciosas. Mais do que isso: o tempo se
encarregou de revelar que existia inclusive o nióbio, que ora amenizará as
agruras do funcionalismo público em um estado que guardava riquezas gerais em
suas montanhas.
Quanto delas se
extraiu durante séculos! O suficiente para manter o esplendor da coroa lusitana
e para o gasto enorme da aristocracia. Jamais faltou o necessário para
sustentar o luxo e a ostentação de famílias ilustríssimas, através de épocas,
mediante a usurpação de um patrimônio que não poderia restringir-se a
privilegiados. Não poucos sofrem até agora, quando permanece a desigualdade
ignominiosa.
Não é algo restrito
aos países do hemisfério ou do continente, das colônias luso-espanholas. Não
melhoramos, é doloroso reconhecê-lo.
No momento em que a
Venezuela, a ex-poderosa república ao Norte sofre uma das mais profundas crises
de sua história, constatamos que o Brasil acumula problemas e reptos, a que não
tem respondido com soluções à altura e conveniência. Esta, aliás, uma das
razões da insatisfação que percorre as ruas ou pernoita sob as marquises de
nosso país.
A mais recente
Síntese de Indicadores Sociais, divulgada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), fornece dados que enlutam as expectativas. Em
resumo, demonstram que a terra em que vivemos, com amplo convite aos turistas a
que a visitem e se deliciem com o mais belo que a natureza lhes oferece, tem
mais miseráveis do que a soma de todos os habitantes de Portugal, Bélgica, Cuba
ou Grécia. Só em nossa Minas Gerais, são 739 mil pessoas nessa situação.
Se o leitor tiver
dúvida, pode reler o parágrafo e seu conteúdo. É humilhante.
Segundo a mesma
fonte, que merece respeito, o Brasil, atingiu nível recorde de pessoas vivendo
em condições de miséria em 2018. Foram 13.537 milhões, um contingente maior do
que toda a população da Bolívia, que alcançou o índice de 4% do PIB, enquanto
rastejamos em pouco mais de 1.
A pequena melhora no
mercado de trabalho não chegou a milhares. A extrema pobreza cresce, diz André
Simões, gerente da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE. A
pesquisa considerou a classificação do Banco Mundial de pobreza extrema: ou
seja, pessoas com rendimentos inferiores a US$ 1,90 por dia, o equivalente a
cerca de R$ 145 mensais. Nem se diria pobreza, porque de fato isso é miséria,
que inúmeros suportam, enquanto os privilegiados mantêm belas mansões no
exterior, com direito a jatinhos para uso pessoal e iate para passeio com os
amigos.
Os R$ 145 mensais
constituem, em última análise, um insulto ao brasileiro.
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