A vez do Chile
Manoel Higino
O mundo, como um
todo, jamais teve paz completa. O período que atravessamos confirma a
afirmativa. Nem falo do Reino Unido e do Brexit, que põe em atenção a Europa.
Por ali, há uma espécie de convulsão civilizada como convém.
No Oriente Médio, é
o que se sabe e se confirma presentemente, com uma guerra que se estende até a
Europa, passando pela Turquia, aliada à Otan (Organização do Tratado do
Atlântico Norte), mas nem tanto. Conjectura-se sobre se a morte do Califa
Baghdadi, do grupo islâmico que se suicidou com os filhos, terá repercussão entre
os vários grupos extremistas. No hemisfério Sul das Américas, persiste o
ambiente de permanente insatisfação, que gera perspectivas sombrias.
A Bolívia, com
impressionante performance econômica nos últimos anos e com PIB de 4%, em 2019,
ainda assiste aos efeitos do pleito, disputado entre o presidente Evo Morales e
Carlos Mesa. Aparentemente, Morales assumirá o que já está em suas mãos, pela
quarta vez. Falta comprovar que o pleito foi correto, sem fraudes.
No Chile, a grande e
má surpresa, pois parecia que a nação andina aprendera a andar seguro pelas
vias da democracia. Não foi tanto assim, e a revolta se generalizou pelas
principais cidades, apesar de o presidente Sebastian Pinëra ter revogado a
decisão sobre reajuste de preços de combustíveis, que causou a revolta.
Desfaz-se, assim, o
que Mário Vagas Lhosa preconizara: Tem-se de “reconhecer que esse país cresce e
melhora seus níveis de vida num ritmo febril parecendo para muita gente uma
forma de justificar as torturas, os exílios, as censuras e outros atropelos
cometidos pela ditadura Pinochet.
Mas isso é dar forma
de avestruz e tentar escamotear a verdade histórica. Simplesmente não é verdade
que a ditadura era o requisito indispensável para as mudanças que fizeram o
Chile o que é agora, a sociedade mais próspera da América Latina e aquela sobre
a qual a liberdade se sustenta com bases mais firmes”.
Acrescentou: “foram
as reformas econômicas, a abertura ao mundo, a transferência à sociedade civil
das empresas públicas, e a privatização da previdência social e o formidável
alento à difusão da propriedade das empresas privadas o que colocou em
andamento esse deslanche que fez o Chile crescer em todos estes anos, às
assombrosas médias de nove por cento e dez por cento”.
E não poderia faltar
o julgamento: “o acontecido no Chile nos anos do general Pinochet é uma
anomalia, uma exceção à regra; em geral os regimes autoritários trazem consigo
mais intervencionismo e arbitrariedade, a democracia, para funcionar de
verdade, necessita de um sistema legal equitativo e eficiente que nenhuma
ditadura pode garantir”.
Contados mortos e
feridos, o Chile procura voltar aos seus melhores dias. A capital, Santiago, e
as demais grandes cidades tentam superar os problemas mais flagrantes como o
transporte urbano, seriamente sacrificado pelos danos causados, principalmente
no sistema metroviário.
O presidente Pinëra
não esclareceu exatamente o que significa a sua afirmativa: “Estamos em guerra
contra o inimigo poderoso, implacável, que não respeita nada nem ninguém, que
está disposto a usar a violência e a delinquência sem qualquer limite”. Nas
ruas de Santiago, os dispositivos militares começam a ser reduzidos. A explosão
de violência arrefeceu, nas últimas horas.
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