Fogo não era para ser comum
na Amazônia, DIZ BIOLÓGO
© GABRIELA
BILO/ESTADAO Equipe do Ibama combate chamas na região amazônica
O biólogo e colunista do EstadoFernando Reinach participou nesta quarta-feira,
4, da primeira edição do espaço O Leitor Entrevista, conversa com
transmissão ao vivo pelo Facebook, onde respondeu a perguntas do público. O
tema foi a crise na Amazônia diante do avanço nas queimadas
e no desmatamento e as medidas tomadas pelo
governo como re
Ele esclareceu uma dúvida recorrente sobre a relação das queimadas com o
bioma. “Há ecossistemas, como o Cerrado, onde a queimada é uma constante. É
um lugar muito seco, pega fogo e as plantas lá já são acostumadas a queimar e
brotar de novo”, explicou. Na Amazônia, ponderou, a situação é diferente: ‘Não
é um ecossistema onde a queimada faz parte da vida, da história natural. A
grande parte das queimadas que acontecem são de pessoas que derrubam o mato,
tiram a madeira nobre e depois põe fogo no local. Uma grande parte dessas
queimadas, quando se vê as fotos, são lugares já cortados”.
Abaixo, leia alguns pontos abordados por Reinach e assista ao vídeo
na íntegra
Fenômenos naturais?
"Há ecossistemas, como o Cerrado, onde a queimada é uma constante.
É um lugar muito seco, pega fogo e as plantas lá já são acostumadas a queimar e
brotar de novo. É um lugar onde a queimada faz parte da vida daquele
ecossistema. Na Amazônia, também existem queimadas naturais, quando cai um
raio, mas elas são muito raras. Não é um ecossistema onde a queimada faz parte
da vida, da história natural. A grande parte das queimadas que acontecem são de
pessoas que derrubam o mato, tiram a madeira nobre e depois põe fogo no local.
Uma grande parte dessas queimadas, quando se vê as fotos, são lugares já
cortados. Põe fogo na coisa cortada, não se faz um aceiro em volta e o fogo
entra na floresta e aí essa queimada passa direto para a floresta. "
Discurso do governo e fiscalização
"O que o governo fez tem um discurso e a prática. Não é que o
governo deu uma ordem: pessoal, vamos lá queimar a Amazônia. Mas se você
relaxa...Na hora que começa a falar para todo mundo: Olha, não vamos pegar
muito pesado....
Acho interessante conversar sobre como controlar uma área tão grande
quanto a Amazônia. É um ponto central. Como funciona o radar de carros: você
anda na estrada, tem um radar, ele manda uma onda e vê que você está andando
muito rápido. O computador reconhece que o carro está vindo rápido e a máquina
fotografa a frente do carro. Com a placa, o Detran fala de quem é aquele carro.
O computador emite uma multa e chega na minha casa.
Existe um sistema idêntico para monitorar a Amazônia. O satélite passa
por cima, acha um desmatamento, tira uma foto e compara com a foto de antes.
Reconhece que a área foi desmatada. Próximo passo: identificar o responsável
pela área. Existe um instrumento que foi criado nos últimos dez anos que se
chama CAR (Cadastro Ambiental Rural).
Cada dono de propriedade tem que colocar num mapa o limite da sua propriedade e
onde está a casa, onde está a reserva que não posso queimar, onde está meu
pasto, minha plantação. E essa cadastro diz se tá tudo legal. Esse cadastro
pode ser posto em cima do mapa, do mesmo jeito que o Google coloca em cima do
mapa de São Paulo as ruas, os endereços. Com isso, é possível identificar de
quem é a terra. Ele disse que era uma uma reserva legal, mas queimou bem aqui.
Teve autorização do Ibama? Se não teve, emite a multa. Na Amazônia, tem muita
área que não é de ninguém, mas tem que passar a ter um CAR e ter um
responsável."
Responsabilidade do atual governo
"Os governos anteriores tinham um problema muito maior. O pico das
queimadas e desmatamento aconteceu no governo Fernando Henrique e
nos primeiros anos do governo Lula. O que
aconteceu? Nessa época, as pessoas começaram a se organizar. Montaram o
monitoramento do Inpe, passaram leis e
conseguiram abaixar. Estávamos chegando no nosso objetivo do Acordo de Copenhague
e agora relaxou e vai voltar a subir. Se olhar a série histórica, verá que
Bolsonaro deu uma subidinha, mas não é esse o problema. É que a “subidinha”
está sendo rápida depois de um esforço enorme da sociedade para segurar. É um
esforço de controle que deve haver um compromisso de se manter."
'Queimadas europeias’
"Essas queimadas e essas destruições ocorreram numa época que a
humanidade não tinha uma percepção desse conceito que vivemos em um planeta
limitado e que temos de tomar cuidado. Vivíamos em um tempo que não tinha esse
conceito. Não dá para comparar com o que aconteceu na Europa na Idade Média,
quando os castelos desmatavam tudo em volta, porque eram pessoas que não sabiam
das consequências disso. Não é uma comparação justa. Aprendemos a partir
disso."

Nenhum comentário:
Postar um comentário