Governo alemão rebate Bolsonaro sobre verba para a Amazônia
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Reuters/A. Machado
"Isso mostra que estamos fazendo
exatamente a coisa certa", afirmou nesta segunda-feira (12) a ministra
alemã do Meio Ambiente, Svenja Schulze, em resposta à declaração do presidente
Jair Bolsonaro de que o Brasil "não precisa do dinheiro"
de Berlim para preservar a Floresta Amazônica.
"Apoiamos a região amazônica para que haja
muito menos desmatamento. Se o presidente não quer isso no momento, então
precisamos conversar. Eu não posso simplesmente ficar dando dinheiro enquanto
continuam desmatando", afirmou a ministra à Deutsche Welle.
Schulze, entretanto, diz que pretende manter aberto
o diálogo com o governo brasileiro. "No momento, isso não está funcionando
muito bem. Mas continuamos tentando, diplomaticamente."
No sábado, Schulze disse em entrevista ao jornal Tagesspiegel
que a Alemanha vai congelar investimentos de 35 milhões de euros (cerca de
155 milhões de reais) que seriam destinados a diferentes projetos de proteção
ambiental no Brasil.
© picture-alliance/dpa/S. Stache Ministra alemã do
Meio Ambiente:
Ao responder a jornalistas sobre a suspensão dos
repasses alemães, Bolsonaro disse que "o Brasil não precisa disso".
"Ela [Alemanha] não vai mais comprar a
Amazônia, vai deixar de comprar a prestações a Amazônia. Pode fazer bom uso
dessa grana. O Brasil não precisa disso", afirmou o presidente no domingo.
Ao ser questionado se o congelamento dos valores
não teria impacto na imagem do Brasil no exterior, Bolsonaro respondeu: "A
imagem do Brasil? Você acha que grandes países estão interessados na imagem do
Brasil ou em se apoderar do Brasil?"
Steffen Seibert, porta-voz da chanceler federal
alemã, Angela Merkel, afirmou nesta segunda-feira que a conservação da Amazônia
é "um tema da humanidade", que tem um significado para todos.
"Isso é o que nós defendemos politicamente."
Apoio ao Fundo
Amazônia
Para conter o desmatamento florestal, a Alemanha
também apoia o Fundo Amazônia, no qual o Ministério alemão da Cooperação
Econômica já injetou 55 milhões de euros (por volta de 245 milhões de reais) e
que não será afetado pela medida anunciada por Svenja Schulze.
Com um volume total de quase 800 milhões de euros
(por volta de 3,5 bilhões de reais), a maior parcela do Fundo Amazônia é
financiada pela Noruega e uma pequena parte dele, pela Alemanha.
O ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller,
assegurou nesta segunda-feira que por enquanto Berlim não planeja se retirar do
Fundo Amazônia. Ele destacou que, durante sua visita ao Brasil,
"indígenas, grupos ambientalistas e representantes do governo se disseram
favoráveis a uma continuação dessa importante e bem-sucedida cooperação".
Recentemente, tanto o governo alemão quanto a
Noruega haviam reclamado dos planos do ministro do Meio Ambiente brasileiro,
Ricardo Salles, de promover mudanças na gestão do fundo.
Müller ressaltou que as conversas que teve com
Salles no Brasil foram "abertas e construtivas" e que se está
tentando elaborar "uma nova abordagem de cooperação" para continuação
do Fundo Amazônia. "Qualquer um que queira preservar a excelente função
climática da floresta tropical deve reforçar essas medidas, e não acabar com
elas."
Na entrevista em que anunciou o congelamento dos
repasses, Schulze levantou dúvidas sobre o comprometimento do governo Bolsonaro
em reduzir o desmatamento. "A política do governo brasileiro na região
amazônica deixa dúvidas se ainda se persegue uma redução consequente das taxas
de desmatamento", declarou a ministra ao jornal alemão, apontando que
somente quando houver clareza a cooperação de projetos poderá continuar.
Desde a posse de Bolsonaro, em janeiro, o governo
alemão e de outros países europeus, como França e Noruega, têm demonstrado
preocupação com a forma como o Brasil passou a tratar a proteção ambiental e a
explosão nos níveis de desmatamento no país.
Na semana passada, dados divulgados pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) confirmaram o aumento significativo no
desmatamento da Floresta Amazônica. Em julho deste ano, a devastação do bioma
cresceu 278% em relação ao mesmo mês de 2018.
Segundo o Sistema de Detecção do Desmatamento na
Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), em julho 2.254,9 quilômetros quadrados de
floresta foram devastados.
Um grande aumento do desmatamento já havia sido
apontado em junho, quando a devastação da floresta cresceu 88% em relação ao
mesmo mês de 2018. A divulgação desses dados causou uma crise entre o Inpe e o
governo Bolsonaro, que culminou com a exoneração do presidente do instituto,
Ricardo Galvão.
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