Eduardo e Araújo dizem que reunião com Trump foi 'simbólica'
Beatriz Bulla, correspondente
WASHINGTON - O bate e volta a
Washington organizado pelo chanceler Ernesto Araújo
e pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro
(PSL-SP) para reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
serviu para enviar um sinal ao “mundo inteiro” da “relação diferenciada” entre
os dois países. Essa foi a definição do ministro após deixar a Casa Branca
sem fazer anúncios concretos e dizer que não houve pedido específico feito pelo
Brasil aos EUA. Segundo ele, a novidade foi “a reunião em si” com Trump e o
“novo patamar” que a relação entre os dois países atingiu.
De manhã, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que
Ernesto e Eduardo deveriam trazer novidades ao Brasil e que havia pedido ajuda
para Trump para combater as queimadas na Amazônia. O ministro e o deputado
foram questionados sobre o tema e não fizeram anúncio de ajuda específica
negociada com os americanos.
Trump já havia oferecido apoio há cerca de uma
semana, quando telefonou para Bolsonaro. Ao final de duas rodadas de conversas
com jornalistas, o deputado deixou em aberto a possibilidade de que o pai
anuncie, em Brasília, algo sobre o encontro com Trump, sem dar detalhes.
“Qualquer tipo de anúncio ou fato mais detalhado certamente o presidente
falará, inclusive é uma deferência antes de falar com Bolsonaro estarmos
falando com vocês”, afirmou.
O encontro aconteceu em meio ao
questionamento internacional sobre a política ambiental de Bolsonaro. Trump,
que já retirou os EUA do acordo climático de Paris e questiona evidências
científicas como o aquecimento global, tem sido um aliado do governo brasileiro
no cenário externo. A viagem também se dá como parte do esforço de Eduardo
Bolsonaro de mostrar as credenciais para assumir a embaixada do Brasil nos EUA.
Segundo o filho do presidente, os países que
tentarem “subjugar” a soberania do Brasil encontrarão problemas com os EUA. “As
relações nunca estiveram tão boas. Brasil e EUA estão alinhados e em que pese
alguns líderes tentarem fazer algum tipo de negociação com a Amazônia sem a
presença do Brasil vão encontrar muito problema para fazê-la, porque os EUA vão
se opor a isso. Todos os líderes que tentarem subjugar a soberania nacional
encontrarão problemas não só com Brasil mas também com os Estados Unidos”,
disse Eduardo.
O alinhamento com os EUA na questão ambiental dá
força à tentativa do Planalto de isolar o presidente francês, Emmanuel Macron,
em meio à repercussão internacional negativa diante do aumento nas queimadas e
desmatamento na região amazônica. Diplomatas consideram o questionamento à
política brasileira, que ocupou a primeira página de jornais estrangeiros no
último final de semana, como a maior crise diplomática recente do País.
Macron tem sido uma das vozes mais críticas à
política ambiental de Bolsonaro desde o G-20, em julho, e levou o tema das
queimadas na Amazônia ao G-7, no último final de semana. No início da semana,
Bolsonaro rejeitou a proposta de doação de US$ 20 milhões do G-7, anunciado por
Macron. Depois teve idas e vindas sobre a verba, dizendo que poderia aceitar o
dinheiro se o francês pedisse desculpas pelas falas sobre o Brasil.
Segundo o chanceler, não houve “nenhum
pedido específico” por parte do Brasil no encontro com Trump. “Não tínhamos
expectativa de sair daqui com um acordo”, afirmou. “Ao sinalizar isso (aproximação
entre os países) acho que o mundo inteiro está vendo que Brasil e EUA têm
uma relação diferenciada e isso é muito importante nesse momento onde pelo
menos um país está com ideias esquisitas sobre a nossa soberania na Amazônia.
Não um país, um determinado líder. Era um momento importante de virmos
assinalar isso”, disse Ernesto.
O chanceler já havia encontro programado com a alta
cúpula do governo Trump para o dia 13 de setembro, quando ele e o secretário de
Estado, Mike Pompeo, devem repassar os acertos da reunião bilateral que
aconteceu em março entre os dois presidentes. Questionado sobre a urgência em
fazer a reunião agora, em uma viagem organiza às pressas pelo governo
brasileiro, sem que haja anúncio concreto, Araújo reiterou o potencial
“simbólico” do encontro.
“Estamos provando (que as relações entre os países
estão fortes) em um momento muito importante onde algumas correntes do mundo
estão de alguma maneira se mobilizando para usar como pretexto o incêndio na
Amazônia para relativizar nossa soberania, relativizar a soberania de repente
de outros países. Isso não é uma coisa banal, isso não é uma coisa que acontece
todo dia, e a reação coordenada, extraordinária, que teve do presidente Trump
em relação a isso também não é uma coisa que acontece todo dia”, disse o chanceler,
que classificou o encontro como o “momento mais simbólico” da relação entre os
dois países, desde a visita de Bolsonaro a Trump, em março.
Araújo afirmou que Trump tem um compromisso “muito
claro” de que o Brasil é um país soberano e que cerca de 30% da conversa foi
sobre Amazônia. Segundo ele, os dois também falaram sobre a perspectiva de um
acordo de livre comércio entre os países. Nos bastidores, diplomatas tratam
isso como um acordo de “liberalização” - que teria como intuito inicial
facilitar comércio sem debater tarifas. O chanceler afirmou a jornalistas
estrangeiros que “a maioria dos brasileiros ficou ofendida com a forma como
Macron tratou a soberania nacional”. Ainda segundo ele, Trump manifestou
interesse de ir ao Brasil.
Embaixador
A presença de Eduardo na comitiva
despertou o interesse dos jornalistas estrangeiros. “É o filho embaixador?”,
alguns jornalistas perguntaram a brasileiros presentes. Na sala de imprensa,
profissionais se perguntavam o motivo de “o filho do presidente do Brasil”
estar reunido com Trump se ele “ainda não é embaixador”. O questionamento foi
oficializado na entrevista dada por Ernesto Araújo aos estrangeiros e o
chanceler respondeu que o deputado é presidente da Comissão de Relações
Exteriores da Câmara.
Um dos jornalistas estrangeiros
perguntou a Eduardo sobre o comentário feito “pelo seu pai” sobre a esposa de
Emmanuel Macron e o deputado, depois de perguntar a um auxiliar o que tinha
sido questionado, pediu a Araújo para responder. Ele não quis responder a nenhuma
das perguntas da imprensa internacional. Já fora da Casa Branca, aos
jornalistas brasileiros, Eduardo disse ter preferido a imprensa nacional porque
“vocês são muito mais bonitos”.
O governo rechaça que a presença de
Eduardo Bolsonaro na comitiva seja uma promoção da campanha do filho 03 do
presidente, que tenta obter no Senado votos suficientes para ser nomeado embaixador
nos EUA. Cada ato de aproximação de Eduardo com Trump tem sido
usado por Bolsonaro para reiterar a escolha do filho para representar o país
nos EUA.
Eduardo disse que Trump “reforçou intenção de
maneira educada de apoiar minha candidatura, mas não aprofundamos”. A indicação
do deputado ainda não foi oficializada pois o governo acredita não ter, até o
momento, os votos necessários no Senado para aprovar a nomeação de Eduardo como
embaixador nos EUA.
Eduardo e Ernesto chegaram na Casa Branca às 13h35,
no horário de Brasília, e ficaram reunidos com as autoridades do Conselho de
Segurança Nacional antes da chegada de Trump no local. A reunião com o
presidente americano só aconteceu por volta das 15h e durou cerca de trinta
minutos. Estavam presentes pelo lado americano o secretário de Estado, Mike
Pompeo, e Jared Kushner, assessor e genro de Trump.
Araújo e Eduardo estavam acompanhados pelo assessor
para assuntos internacionais do Planalto, Filipe Martins, e pelo embaixador
Nestor Forster, encarregado de negócios da embaixada do Brasil em Washington.
Forster é o atual chefe da embaixada brasileira. Amigo pessoal de longa data do
escritor Olavo de Carvalho, ele é um diplomata considerado alinhado com a
chamada ala ideológica do governo Bolsonaro.
Depois da Casa Branca, Eduardo se encontrou na
embaixada com Olavo de Carvalho. Ontem, o escritor recebeu homenagem na
embaixada brasileira, em cerimônia conduzida por Forster.
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