Diretor do Inpe será exonerado após crítica a fala
de Bolsonaro
Agência Brasil
O anúncio foi feito
pelo próprio Galvão, em rápida declaração a jornalistas
O ministro da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, decidiu exonerar
o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão,
após uma reunião entre os dois na tarde de hoje (2), em Brasília. O anúncio foi
feito pelo próprio Galvão, em rápida declaração a jornalistas.
"Diante do fato,
da maneira como eu me expressei em relação ao presidente [Bolsonaro], criou um
constrangimento que é insustentável. Então, eu serei exonerado, mas ficará no
meu lugar uma pessoa que já me substitui, com grande possibilidade de nós
continuarmos o desenvolvimento da linha de ação", afirmou Galvão. Ele
disse que seu mandato é de quatro anos, mas que o Regimento Interno do órgão
permite uma substituição por decisão do ministro. "O ministro pode, é
perfeitamente legal, numa situação de perda de confiança, substituir",
explicou.
A assessoria do
ministro Marcos Pontes confirmou à reportagem da Agência Brasilque a
exoneração está decidida. Em seu perfil no Instagram, o ministro publicou o
vídeo do pronunciamento de Ricardo Galvão a jornalistas e agradeceu o trabalho
do auxiliar à frente do instituto. "Agradeço pela dedicação e emprenho do
Ricardo Galvão à frente do Inpe. Tenho certeza [de] que sua dedicação deixa um
grande legado para a instituição e para o país", disse Pontes.
No último dia 19, em
entrevista a correspondentes internacionais, o presidente Jair Bolsonaro disse
que a divulgação de informações sobre desmatamento feita pelo Inpe prejudica o
país em negociações comerciais realizadas pelo governo brasileiro com outros
países. Na ocasião, o presidente disse que os dados de desmatamento atribuídos
ao seu governo não eram verdadeiros. Em entrevista ao jornal O Estado de
S. Paulo, Galvão criticou a fala do presidente afirmando que este fez
"acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira".
Galvão também reafirmou a validade científica dos dados do instituto, que
monitora áreas florestais desde a década de 1970.
A polêmica começou
no início do mês, quando o Inpe informou que o desmatamento na Amazônia Legal
brasileira atingiu 920,4 quilômetros quadrados em junho, um aumento de 88% em
comparação com o mesmo período do ano passado. Ontem (1º), em entrevista
coletiva no Palácio do Planalto, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles,
exibiu imagens de satélite para demonstrar que pelo menos 31% do total do
desmatamento apurado em junho ocorreram em anos anteriores, principalmente em
2017 e 2018, mas só foram computados depois.
De acordo com o ministro, para chegar a essa conclusão, foram analisadas imagens de 56% das áreas desflorestadas em junho indicadas pelo Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter).
De acordo com o ministro, para chegar a essa conclusão, foram analisadas imagens de 56% das áreas desflorestadas em junho indicadas pelo Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter).
O Deter é usado
desde 2004 para detectar o desmatamento em tempo real em áreas maiores do que 3
hectares (30 mil metros quadrados). Utilizando imagens dos satélites WFI/CBERS
4 e AWiFS/IRS, que cobrem a Amazônia a cada cinco dias, o sistema emite alertas
de desmatamento que servem de apoio às ações de fiscalização do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Só em junho
deste ano, foram emitidos 3.250 alertas.
Segundo o Inpe, o
sistema não deve ser entendido como taxa mensal de desmatamento. "A
cobertura de nuvens, intensa na região amazônica, pode impedir que uma área de
devastação seja identificada no mês que ela ocorre, e só apareça quando a
visibilidade melhorar", diz o órgão. Além do lapso temporal, Ricardo
Salles destacou que houve sobreposição de imagens de desmatamento.
No pronunciamento
aos jornalistas, Ricardo Galvão também elogiou o ministro e ressaltou que o
trabalho do Inpe será preservado. "A reunião foi execelente, foi muito
construtiva, o ministro conversou comigo de uma forma muito cortês. O que eu
fiquei muito feliz na conversa com o ministro é a preservação do Inpe. Claro,
com o meu discurso com relação ao presidente, criou constrangimentos. No entanto,
eu tinha uma preocupação muito grande [de] que isso fosse respingar no Inpe.
Não vai acontecer. O ministro, inclusive, nós discutimos em detalhe como vai
ser a continuação da aadministração do Inpe."
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