quarta-feira, 3 de julho de 2019

O MINISTRO SÉRGIO MORO FOI A CÂMARA DOS DEPUTDOS PARA PRESTAR DEPOIMENTOS NA CÂMARA DOS DEPUTADOS


Bate-boca, memes, ‘troféu da Champions League’: destaques da audiência de Moro na Câmara

                                            © Fabio Pozzebom/Agência Brasil Sergio Moro respondeu perguntas de deputados durante quase oito horas 



O ministro da Justiça, Sergio Moro, esteve nesta terça-feira (2) na Câmara dos Deputados para responder a perguntas dos congressistas sobre as conversas que teriam ocorrido entre ele e os investigadores da força-tarefa da Lava Jato quando era juiz federal em Curitiba (PR).

Moro já tinha ido ao Senado em 19 de junho para falar sobre o mesmo assunto. Mas, ao contrário do clima relativamente tranquilo na conversa com os senadores, a audiência na Câmara teve memes, muito bate-boca e até um troféu.
Durante a audiência, Moro repetiu basicamente o que já tinha dito no Senado: afirmou não reconhecer as mensagens divulgadas pelo site jornalístico The Intercept e que elas teriam sido obtidas por um hacker de forma criminosa. Disse ainda que, mesmo que o conteúdo das conversas atribuídas a ele e aos procuradores seja verdadeiro, não exibiria qualquer crime.
Já o Intercept alega que as conversas entre Moro e os investigadores mostrariam os envolvidos agindo com motivação política - principalmente contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo o site, Moro teria extrapolado seu papel como juiz ao trabalhar com os investigadores para prejudicar réus e pessoas investigadas. O então magistrado teria, por exemplo, orientado o procurador Deltan Dallagnol sobre a melhor ordem para deflagrar fases da Lava Jato; e teria também indicado possíveis delatores à força-tarefa da Lava Jato, entre outros episódios.
Na audiência do Senado, Moro também aproveitou para ironizar o jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do Intercept. O ministro disse que seu depoimento aos deputados é o mesmo do Senado porque não é igual "ao site lá, que adultera versões".
A respeito das reportagens, Moro disse várias vezes que elas configuram "um balão vazio".
"Eu não reconheço a autenticidade, eu não tenho mais essas mensagens (retratadas nas reportagens). Podem até algumas serem (reais), mas podem ter sido adulteradas total ou parcialmente. Eu saí (do Telegram) em 2017. Eu não tenho condição de recordar de mensagens trocadas três anos atrás", disse o ministro.


© Fabio Pozzebom/Agência Brasil O líder do PSL, Delegado Waldir (GO), chamou o The Intercept de 'The IntercePSOL'

Esta não foi a primeira tentativa dos deputados de ouvir Moro - ele chegou a confirmar a ida à Câmara no dia 26 de junho, mas desistiu por conta de uma viagem oficial aos EUA.
A audiência de terça-feira foi realizada por três comissões da Câmara: Constituição e Justiça (CCJ), Direitos Humanos e Minorias (CDHM) e Trabalho, Administração e Serviço Público (CTASP).
A sessão foi marcada por discussões acaloradas entre os deputados - provocando várias interrupções e pedidos da deputada Professora Marcivânia (PC do B-AP), que coordenou os trabalhos durante uma parte, para "retirar as expressões impróprias das notas taquigráficas".
O primeiro conflito aconteceu apenas meia hora depois do início da sessão; o fim também foi marcado por um bate-boca, depois que o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) disse que Moro ficaria para a história como "um juiz ladrão". Deputados pró-governo se levantaram e começaram a discutir com Braga, e então a sessão foi encerrada, pouco antes das 22h.
Abaixo, alguns destaques da ida de Moro à Câmara.
Memes do PT e do PSL
Deputados do PT e do PSL prepararam cartazes com "memes" para exibir durante a sessão - muito embora o regulamento da Câmara não permita que este tipo de material seja usado nas reuniões.
Os cartazes do PT ironizavam um slide exibido pelo procurador Deltan Dallagnol na apresentação da denúncia contra Lula no caso do Tríplex do Guarujá, em setembro de 2016.
A imagem traz o retrato de Moro ligado a frases como "13 milhões de desempregados", "Maior beneficiado vira ministro da Justiça" e "Petrobras paga multa de 40 bilhões para americanos".
O presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), chegou a reclamar com os deputados do PT: "O deputado Bohn Gass (PT-RS) está atrás de vossa excelência apresentando um cartaz assim. Eu detesto ter que dar bronca em vossas excelências. Mas isso não é permitido".
Já os deputados do PSL levaram cartazes com a palavra "Solução". É uma referência à deputada Maria do Rosário (PT-RS), que seria dona deste apelido segundo os documentos conhecidos como "planilhas da Odebrecht", divulgados em março de 2016.
Filho do presidente da República, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) exibiu um dos cartazes.
Quebra de sigilo do WhatsApp
O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS), levou à sessão uma série de documentos - os papéis eram escritos em nome de Sergio Moro, com a data desta terça-feira.
Faziam parte de um desafio: Pimenta propôs a Moro que abrisse mão de seus sigilos bancário, fiscal, telefônico, e das contas de WhatsApp e Telegram, além de ter seus equipamentos eletrônicos periciados.
O resultado dessas perícias e a íntegra das mensagens ficariam à disposição das comissões.
Moro não aceitou o desafio da oposição. Segundo ele, a proposta dos deputados era "puro teatro". Após seis meses, as mensagens são apagadas pelo aplicativo, disse Moro.
"Esse teatro não faz sentido", afirmou o ministro.
Além de Pimenta, a proposta foi reproduzida por Jandira Feghali (PC do B-RJ) e Zeca Dirceu (PT-PR).
"O que o ministro teme em assinar um simples documento autorizando a quebra de sigilo (das conversas nos aplicativos)?", disse este.
'Deportação'
Por volta das 17h, o deputado Filipe Barros (PSL-PR) disse que as reportagens teriam, para políticos de esquerda e para o Intercept, o objetivo de "anular a Lava Jato, não responder pelos crimes que cometeram, e soltar o (ex-presidente) Lula". Barros disse ainda que o Intercept é "um site de caráter questionável, cujo dono é um embusteiro criminoso".
"O dono desse site é inclusive casado com um deputado acusado de terrorismo e espionagem, e portanto o dono desse site deveria ser expulso do nosso país", disse Barros, referindo-se ao deputado David Miranda (PSOL-RJ) e ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do Intercept no Brasil.
Miranda e Greenwald são casados.


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