Poder, influência… o que está por trás da “fritura” do porta-voz de
Bolsonaro
Monica Gugliano, especial para a
Gazeta do Povo
©
José Dias/PR Porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros foi
duramente criticado no fim de semana pela ala ideológica do governo.
O porta-voz da Presidência, general
Otávio do Rêgo Barros, virou o novo alvo da "frigideira" de Carlos
Bolsonaro, o filho "02" de Jair Bolsonaro. O
vereador já conseguiu "fritar" dois ministros palacianos em sete
meses de governo: Gustavo Bebianno e Santos Cruz, este último general do
Exército. O desgaste de Rêgo Barros se acentuou após o desastroso café da manhã
com jornalistas estrangeiros, na última sexta-feira (19).
Carlos culpa o general pelos
problemas na comunicação de Bolsonaro que, segundo ele, expõe o pai
desnecessariamente. Desta vez, as críticas contaram com a ajuda do deputado
pastor Marcos Feliciano (Pode–SP), vice-líder do governo no Congresso, que chegou a chamar Rêgo Barros de
"mal intencionado e incompetente".
Militares próximos ao presidente se mobilizaram
durante o fim de semana para defender o porta-voz. Alguns viram nos ataques nas
redes sociais uma tentativa de atingir também o chefe do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que também sofreu críticas
recentes do filho de Bolsonaro.
A mais recente disputa territorial no Planalto
envolve muito mais do que o cargo do porta-voz e os cafés da manhã com a
imprensa que ele vem organizando. Aparentando sempre a paciência e a calma de
um monge budista, Rêgo Barros tem mantido um bom relacionamento com os
jornalistas desde que chegou ao cargo pelas mãos de Augusto Heleno, e do
ex-comandante do Exército, Villas Bôas, de quem foi chefe da Comunicação
Social.
Atualmente assessor especial do GSI, Villas Bôas se
tornou um dos principais defensores do ex-subordinado nessa crise. E isso não
apenas pelo enorme apreço e amizade que existe entre ambos, mas também porque o
ex-comandante, hoje uma das vozes mais importantes no Exército, discorda e
combate a forma de agir de Carlos. O general vê nos ataques muito mais do que
um desrespeito aos colegas de farda, mas uma afronta à instituição que
comandou. “Consideramos um absurdo que esses ataques se perpetuem e atinjam
agora o porta-voz”, observou um influente militar do Planalto.
Em jogo, o controle
da Secretaria de Comunicação
Ao atacar Rêgo Barros, Carlos Bolsonaro retoma os
motivos que, de certa forma, o levaram a "fritar" o então ministro da
Secretaria de Governo, Santos Cruz: o poder sobre a estrutura de comunicação
social do Palácio do Planalto. Desde a posse do presidente, nunca se conseguiu
chegar a um consenso sobre como deveria funcionar a Secretaria de Comunicação
(Secom), um dos mais importantes instrumentos do governo no relacionamento com
a população.
O presidente Jair Bolsonaro nunca quis manter o
comando da Secretaria com terceiros – exceto foi quando pensou em nomear Carlos
ministro da área – e muito menos seguir os moldes implementados no governos
petistas, em que havia um ministro que chefiava a Secom e detinha o poder de
decisão sobre a fabulosa verba da publicidade oficial.
Nesse sistema, o titular do ministério era o
responsável pela secretaria que, abaixo dele, se dividia em uma área de
imprensa propriamente dita (atendendo a mídia regional, nacional e
estrangeira), a publicidade e um porta-voz que, diariamente, fazia os briefings
(comunicados) com a posição oficial do presidente da República.
Bolsonaro optou por um esquema que subordinou toda
a Secom à Secretaria de Governo. Não funcionou com Santos Cruz e o novo titular
da pasta, o general Luiz Eduardo Ramos Pereira, cauteloso, ainda estuda como
administrará a área. Em princípio, ele vem tentando manter a estrutura e é o
responsável pelas verbas de publicidade que, para este ano, passam do R$ 200
milhões.
Entretanto, uma Secom em que o porta-voz tem
autonomia e não se subordina ao secretário, neste caso Fábio Wajngarten, nunca
existiu. “O porta-voz, do jeito que está, é uma entidade que só tem ligação com
o presidente Bolsonaro”, explica um assessor do Planalto.
Por que cafés da
manhã viraram motivo de polêmica
A situação ficou dessa forma porque Rêgo Barros
chegou ao cargo muito antes do que Wajngarten. Nesse vácuo, coube a ele,
portanto, formular estratégias de comunicação – uma função que seria do
secretário – e tentar aproximar o presidente da imprensa.
Foram criados os cafés da manhã, encontros semanais
com jornalistas escolhidos por ele e por Augusto Heleno que, dessa forma,
tinham oportunidade de se aproximar de Bolsonaro e estabelecer algum
relacionamento. Além disso, a relação entre Rêgo Barros e Wajngarten está longe
de ser harmoniosa porque um integra a ala militar e o outro representa a
família e a ala ideológica do governo.
O estilo informal de Bolsonaro e o fato de ele, na
maior parte das vezes, conceder outras entrevistas (o chamado 'quebra-queixo')
aos setoristas do Planalto, mesmo nos dias do café, tiraram um pouco do sentido
dos encontros porque os jornalistas convidados não tinham informação exclusiva.
Por fim, nesse último dedicado aos correspondentes estrangeiros e estopim da
crise com Rêgo Barros, o encontro foi transmitido em uma live.
Enquanto era visto por milhares de
seguidores, o presidente foi aumentando o tom e sendo mais enfático nas
respostas. Disse que não existia fome no Brasil
(corrigiu depois), investiu contra a jornalista Miriam Leitão, afirmou que os
dados sobre desmatamento na Amazônia divulgados pelo Inpe eram falsos e, o pior
dos estragos, fez um comentário pejorativo sobre os
governadores do Nordeste sem saber que seu microfone estava aberto,
portanto, tudo que dizia era ouvido e transmitido.
No sábado (20), Carlos Bolsonaro tuitou que esses cafés
da manhã deviam acabar, pois só servem para prejudicar o presidente. "Sei
exatamente o que acontece e por quem, mas não posso falar nada porque senão é
fogo amigo", disse, referindo-se aos organizadores dos encontros.
Por enquanto, o café com os jornalistas continua.
Nesta segunda-feira (22), Rêgo Barros evitou comentar os ataques de Carlos
Bolsonaro contra ele, mas avisou que conversou com o presidente Jair Bolsonaro
sobre os cafés da manhã e que eles não irão parar de acontecer. Como se vê, somente
o passar dos dias poderá revelar quem, desta vez, venceu a última e mais
recente briga no Planalto.
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