Quem é Boris Johnson, o polêmico novo
primeiro-ministro britânico
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PA Media Boris Johnson, de 55 anos, é quinto primeiro-miniutro britânico deste
século
Boris Johnson, ex-secretário das
Relações Exteriores e ex-prefeito de Londres, assumirá o posto de premiê
deixado vago por Theresa May, que anunciou sua renúncia, no dia 24 de maio, em
meio a impasses nas discussões dos termos de saída do Reino Unido da União
Europeia (o Brexit).
Nesta terça-feira, Johnson, de 55 anos, venceu a
votação realizada entre membros do Partido Conservador, que governa o país, com
93.153 votos, contra 46.656 obtidos pelo atual chanceler Jeremy Hunt, o único
político que restou na briga pelo posto de premiê, após rodadas anteriores de
votações entre parlamentares do partido.
Johnson é defensor do Brexit e prometeu, durante a
campanha, implementá-lo o mais rapidamente possível - lembrando que o prazo
atual, já renegociado duas vezes, para a saída britânica da União Europeia (UE)
é 31 de outubro.
Johnson, que assumirá o cargo na quinta-feira,
herdará também a crise política que permeia o Brexit e que já derrubou dois
premiês (além de May, David Cameron, que renunciou diante dos resultados
pró-Brexit do plebiscito realizado em 2016).
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Getty Images Jeremy Hunt (foto), atual chanceler, era o último desafiante que
restou na disputa com Boris Johnson no Partido Conservador
Do jornalismo à
política
Johnson é conhecido por seu cabelo desgrenhado,
algumas gafes, frases polêmicas e o gosto pelos holofotes, ao mesmo tempo em
que é popular entre uma parcela relevante do Partido Conservador. Segundo
analistas da política britânica, há tempos ele almeja o cargo de premiê.
Johnson nasceu em Nova York, em 1964, e até pouco
tempo tinha dupla nacionalidade britânico-americana. Segundo a agência France
Presse, sua irmã Rachel dizia que desde criança ele queria ser "o rei do
mundo".
Já na Inglaterra, Johnson estudou em Eton,
centenária e prestigiosa escola privada, e depois na Universidade Oxford -
percurso tradicional entre personagens da elite política britânica.
Na universidade, integrou, junto a David Cameron, o
famigerado Bullingdon Club, um antigo clube exclusivo para estudantes homens -
em geral, ricos -, conhecido por suas festas regadas a bebida e confusão.
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PA Boris Johnson e o ex-premiê David Cameron (acima, em 2010) estão entre os
muitos líderes políticos britânicos que estudaram em Oxford
Johnson começou sua vida profissional como jornalista
do periódico The Times, de onde foi demitido após ter sido acusado de inventar
uma frase de um entrevistado. Ele se tornou conhecido no meio jornalístico como
correspondente em Bruxelas do jornal The Daily Telegraph.
Ele entrou definitivamente para o cenário político
em 2001, quando foi eleito parlamentar. Três anos depois, foi demitido de um
alto posto na hierarquia do Partido Conservador por ter supostamente mentido a
respeito de um caso extraconjugal.
Mas foi reeleito para o cargo no ano seguinte e, em
2008, conquistou o posto de prefeito de Londres, que ocuparia por oito anos. A
essa altura, já era nacionalmente conhecido.
Johnson voltou ao Parlamento em 2015, eleito por um
subúrbio do noroeste de Londres. No plebiscito de 2016, a respeito da
permanência do Reino Unido na UE, Johnson foi umas das principais figuras
políticas a apoiar o voto pró-Brexit, que acabaria sendo vitorioso.
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PA Boris Johnson ficou preso no ar durante um trajeto de tirolesa para promover
a Olimpíada de Londres; na época, ele era prefeito da cidade
Com a saída do premiê David Cameron, Johnson foi um
dos cotados a assumir o governo em 2016, mas acabou sendo passado para trás
depois de perder o apoio de seu coordenador de campanha, Michael Gove, que
questionou sua capacidade de liderança.
O posto acabou ficando com Theresa May, e Johnson
se tornou secretário das Relações Exteriores.
Brexit
Boris Johnson foi uma figura de destaque na
campanha a favor do Brexit durante o referendo em 2016.
Ele ficou conhecido por seus ataques à União
Europeia - e muitos o acusaram de "exagerar" ou mesmo
"mentir" nos seus ataques ao bloco e sua defesa dos supostos
benefícios do Brexit.
O episódio mais polêmico desse período foi quando
afirmou que o Reino Unido enviava 350 milhões de libras (cerca de R$ 1,6
bilhão) por semana à UE. Mas críticos apontaram na época que o número estava
errado, uma vez que não levou em conta o montante que é devolvido pela UE, ou
mesmo quanto desse dinheiro era gasto posteriormente no Reino Unido.
Johnson foi chanceler por dois anos e deixou o
posto depois de vários desentendimentos com May por conta do Brexit.
Em junho de 2018, por exemplo, ele declarou que a
então premiê precisava mostrar "mais coragem" nas negociações com a
UE - e, nisso, contou com apoio explícito do presidente americano, Donald
Trump, que mais tarde disse que ele faria um "grande trabalho como
premiê" e daria um jeito "na bagunça desastrosa feita por May no
Brexit".
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PA Theresa May e Boris Johnson em 2017; ele foi secretário do governo dela, mas
saiu fazendo duras críticas
Johnson tem dito que, se for escolhido premiê, se
comprometerá com o prazo do Brexit de 31 de outubro, mesmo na ausência de um
acordo com o bloco europeu - o temido cenário do "no deal Brexit", a
saída unilateral sem acordo do bloco, que traria consigo várias incertezas e
colocaria em xeque a relação do Reino Unido e dos britânicos com a Europa.
"Caso contrário, enfrentaremos uma
catastrófica perda de confiança na política", declarou.
Ele também disse que se recusará a pagar a
"conta" do Brexit - uma soma de 39 bilhões de libras (R$ 181 bilhões)
que a UE exige como compensação - a não ser que sejam oferecidos termos de
negociação mais favoráveis ao Reino Unido.
Entre as falas mais polêmicas e criticadas de sua
carreira política estão a vez em que se referiu a homossexuais como
"bumboys" (bum, em inglês, é usado para se referir tanto às nádegas
quanto a "vagabundos") e quando declarou que muçulmanas usando o véu
que deixa só os olhos à vista se assemelhavam a "caixas de correio".
O futuro da fronteira entre a Irlanda
do Norte, que é parte do Reino Unido, e da República da Irlanda, membro da
União Europeia, é um dos pontos mais delicados das tentativas de acordo para
viabilizar o Brexit.
O governo britânico teme que a
restituição de pontos de checagens de passaportes e mercadorias na divisa entre
os dois países - a chamada "fronteira dura" - traga à tona antigas
tensões entre irlandeses e norte-irlandeses.
O acordo de paz de 1998 pôs fim a três
décadas de conflito entre nacionalistas, que queriam a integração com a
Irlanda, e unionistas, que queriam continuar fazendo parte do Reino Unido. O
acordo contempla a ausência de barreiras físicas.
Embora Londres e Bruxelas tenham
concordado em não fixar uma fronteira "dura" após o Brexit, o grande
obstáculo foi definir os termos dessa divisão.
Conforme a proposta apresentada
anteriormente por May, se não houvesse qualquer tipo de acordo entre o Reino
Unido e a União Europeia, uma "rede de segurança" - chamada de
backstop - passaria a vigorar automaticamente.
Assim, a Irlanda do Norte continuaria
alinhada com algumas das normas do mercado único da União Europeia - algo que
gera descontentamento em parte dos membros do Partido Conservador e do Partido
Unionista Democrático.
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