EUA 2020: Trump se lança à reeleição em meio a números desanimadores
*Carlos Gustavo Poggio
© Leah Millis/Reuters O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump:
republicano lançará campanha para a reeleição em 2020
Em março de 1991, o então presidente
dos Estados Unidos Bush, recém-saído de uma vitória na Guerra
do Golfo, tinha o apoio de quase 80% do eleitorado. Bush era considerado tão
imbatível para sua reeleição em 1992 que os Democratas tiveram dificuldade em
garantir nomes de peso para suas primárias. Àquela altura, o governador de Nova
Iorque Mario Cuomo (pai do atual governador Andrew Cuomo) era considerado
favorito para a nomeação pelo partido Democrata. No ano seguinte, Bush perdeu
as eleições para o Democrata Bill Clinton.
A eleição de 1992 é apenas um entre
tantos outros exemplos para ilustrar como o clima político nos Estados Unidos
pode mudar entre hoje e as eleições. Ao lançar oficialmente sua campanha para
reeleição na Florida, Trump se
vê diante de números pouco auspiciosos.
Praticamente todas as pesquisas mais recentes mostram o
Republicano perdendo para quaisquer dos principais candidatos Democratas nas eleições americanas em 2020. Ao contrário de 1991, em 2019
um presidente que jamais atingiu mais de 50% de aprovação serviu como estímulo
para que um séquito de candidatos Democratas se apresentasse para ter a chance
de enfrenta-lo nas eleições presidenciais. Atualmente, somam 24 os principais
rivais, um recorde histórico.
Um outro
aspecto importante da eleição de 1992 é que a não-reeleição de Bush foi
surpreendente não apenas por causa da sua enorme popularidade 20 meses antes.
Desde que a 22ª emenda à constituição dos Estados Unidos – permitindo apenas
uma reeleição – foi aprovada em 1947, onze presidentes foram eleitos. Desses,
Bush foi apenas o terceiro a não ser reeleito.
Se
excluirmos o caso de Gerald Ford em 1976, que assumiu com a renúncia de Nixon
em 1975 (e nunca foi efetivamente eleito nem como vice-presidente já que não
estava na chapa de 1972), apenas Jimmy Carter e Bush não conseguiram se
reeleger. Portanto, se Trump não for bem-sucedido na sua campanha em 2020, irá
contrariar uma tendência histórica.
Mais do
que George Bush pai, Trump deve estar mirando em George Bush filho. Com a
popularidade em queda após ter atingido um recorde histórico de 90% com os
atentados de 11 de setembro de 2001, a reeleição de Bush em 2004 era incerta.
Todos os presidentes que haviam sido reeleitos desde a segunda metade do século
XX, tinham taxas de aprovação bem acima dos 50% em junho do ano da eleição.
Clinton em 1996 tinha 58%, Reagan tinha 54% em 1984, e Nixon 56% em 1972.
Aqueles
que foram derrotados, por outro lado, estavam bem abaixo desse patamar. Ford,
Carter e Bush pai tinham respectivamente 45%, 32% e 37% na mesma altura de suas
campanhas. Com 48% de aprovação em junho de 2004, a situação de Bush era
incerta. As pesquisas de então mostravam o Democrata John Kerry à frente por
50% a 44%. Quando as urnas foram abertas em novembro de 2004, Bush venceu Kerry
por 50,73% a 48,27% e foi reconduzido a um segundo mandato com uma margem de
vitória mais robusta do que a obtida na contestada eleição de 2000, quando,
assim como Trump, Bush perdeu no voto popular mas levou no Colégio Eleitoral.
Entretanto, ao contrário de
Bush e todos os demais presidentes, um aspecto bastante característico da
presidência de Trump tem sido a inédita constância com que ele tem permanecido
na faixa dos 40-45% de aprovação. O atual mandatário é o único presidente desde
que as pesquisas de aprovação presidencial foram estabelecidas nos Estados
Unidos na década de 1930 a jamais ter superado os 50% de aprovação. Tirando o
recorde de Bush filho em 2001, 4 presidentes em algum momento atingiram entre
70%-80% e 6 atingiram entre 60%-70%. O pico histórico mais baixo registrado
desde Roosevelt até Obama foi os 66% de Nixon em janeiro de 1973.
Trump, que costuma tuitar
festivamente cada vez que aparece na sua mesa uma pesquisa que lhe dá 50% de
aprovação, pode apenas sonhar com números como esse. Nesse sentido, caso o
Republicano não consiga melhorar seus índices de aprovação consideravelmente
nos próximos 12 meses, lhe restará apenas um único exemplo histórico como
inspiração: Harry Truman que, apesar dos 39% de aprovação em junho de 1948,
conseguiu uma das mais surpreendentes vitórias da história das eleições
americanas, em novembro daquele ano.
Mesmo um dia antes das
eleições, as pesquisas mostravam a derrota de Truman para o Republicano Thomas
Dewey, e alguns jornais famosamente chegaram a estampar a vitória de Dewey nas
suas manchetes. A foto de Truman sorridente segurando a primeira página
do jornal Chicago Tribune na manhã seguinte das eleições onde se lia em letras
garrafais “DEWEY DEFEATS TRUMAN” imortalizou a gafe. Trump, é bom lembrar,
venceu as eleições de 2016 contra todos os prognósticos.
Tal como a manchete do
Chicago Tribune, a estimativa do New York Times no dia das eleições de que
Hillary Clinton tinha 85% de chances de vitória serve como uma lembrança de
que, ainda que pesquisas sejam importantes, é sempre mais seguro esperar a
apuração dos votos.
EUA 2020: Trump se lança à reeleição em meio a números desanimadores
*Carlos Gustavo Poggio
© Leah Millis/Reuters O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump:
republicano lançará campanha para a reeleição em 2020
Em março de 1991, o então presidente
dos Estados Unidos Bush, recém-saído de uma vitória na Guerra
do Golfo, tinha o apoio de quase 80% do eleitorado. Bush era considerado tão
imbatível para sua reeleição em 1992 que os Democratas tiveram dificuldade em
garantir nomes de peso para suas primárias. Àquela altura, o governador de Nova
Iorque Mario Cuomo (pai do atual governador Andrew Cuomo) era considerado
favorito para a nomeação pelo partido Democrata. No ano seguinte, Bush perdeu
as eleições para o Democrata Bill Clinton.
A eleição de 1992 é apenas um entre
tantos outros exemplos para ilustrar como o clima político nos Estados Unidos
pode mudar entre hoje e as eleições. Ao lançar oficialmente sua campanha para
reeleição na Florida, Trump se
vê diante de números pouco auspiciosos.
Praticamente todas as pesquisas mais recentes mostram o
Republicano perdendo para quaisquer dos principais candidatos Democratas nas eleições americanas em 2020. Ao contrário de 1991, em 2019
um presidente que jamais atingiu mais de 50% de aprovação serviu como estímulo
para que um séquito de candidatos Democratas se apresentasse para ter a chance
de enfrenta-lo nas eleições presidenciais. Atualmente, somam 24 os principais
rivais, um recorde histórico.
Um outro
aspecto importante da eleição de 1992 é que a não-reeleição de Bush foi
surpreendente não apenas por causa da sua enorme popularidade 20 meses antes.
Desde que a 22ª emenda à constituição dos Estados Unidos – permitindo apenas
uma reeleição – foi aprovada em 1947, onze presidentes foram eleitos. Desses,
Bush foi apenas o terceiro a não ser reeleito.
Se
excluirmos o caso de Gerald Ford em 1976, que assumiu com a renúncia de Nixon
em 1975 (e nunca foi efetivamente eleito nem como vice-presidente já que não
estava na chapa de 1972), apenas Jimmy Carter e Bush não conseguiram se
reeleger. Portanto, se Trump não for bem-sucedido na sua campanha em 2020, irá
contrariar uma tendência histórica.
Mais do
que George Bush pai, Trump deve estar mirando em George Bush filho. Com a
popularidade em queda após ter atingido um recorde histórico de 90% com os
atentados de 11 de setembro de 2001, a reeleição de Bush em 2004 era incerta.
Todos os presidentes que haviam sido reeleitos desde a segunda metade do século
XX, tinham taxas de aprovação bem acima dos 50% em junho do ano da eleição.
Clinton em 1996 tinha 58%, Reagan tinha 54% em 1984, e Nixon 56% em 1972.
Aqueles
que foram derrotados, por outro lado, estavam bem abaixo desse patamar. Ford,
Carter e Bush pai tinham respectivamente 45%, 32% e 37% na mesma altura de suas
campanhas. Com 48% de aprovação em junho de 2004, a situação de Bush era
incerta. As pesquisas de então mostravam o Democrata John Kerry à frente por
50% a 44%. Quando as urnas foram abertas em novembro de 2004, Bush venceu Kerry
por 50,73% a 48,27% e foi reconduzido a um segundo mandato com uma margem de
vitória mais robusta do que a obtida na contestada eleição de 2000, quando,
assim como Trump, Bush perdeu no voto popular mas levou no Colégio Eleitoral.
Entretanto, ao contrário de
Bush e todos os demais presidentes, um aspecto bastante característico da
presidência de Trump tem sido a inédita constância com que ele tem permanecido
na faixa dos 40-45% de aprovação. O atual mandatário é o único presidente desde
que as pesquisas de aprovação presidencial foram estabelecidas nos Estados
Unidos na década de 1930 a jamais ter superado os 50% de aprovação. Tirando o
recorde de Bush filho em 2001, 4 presidentes em algum momento atingiram entre
70%-80% e 6 atingiram entre 60%-70%. O pico histórico mais baixo registrado
desde Roosevelt até Obama foi os 66% de Nixon em janeiro de 1973.
Trump, que costuma tuitar
festivamente cada vez que aparece na sua mesa uma pesquisa que lhe dá 50% de
aprovação, pode apenas sonhar com números como esse. Nesse sentido, caso o
Republicano não consiga melhorar seus índices de aprovação consideravelmente
nos próximos 12 meses, lhe restará apenas um único exemplo histórico como
inspiração: Harry Truman que, apesar dos 39% de aprovação em junho de 1948,
conseguiu uma das mais surpreendentes vitórias da história das eleições
americanas, em novembro daquele ano.
Mesmo um dia antes das
eleições, as pesquisas mostravam a derrota de Truman para o Republicano Thomas
Dewey, e alguns jornais famosamente chegaram a estampar a vitória de Dewey nas
suas manchetes. A foto de Truman sorridente segurando a primeira página
do jornal Chicago Tribune na manhã seguinte das eleições onde se lia em letras
garrafais “DEWEY DEFEATS TRUMAN” imortalizou a gafe. Trump, é bom lembrar,
venceu as eleições de 2016 contra todos os prognósticos.
Tal como a manchete do
Chicago Tribune, a estimativa do New York Times no dia das eleições de que
Hillary Clinton tinha 85% de chances de vitória serve como uma lembrança de
que, ainda que pesquisas sejam importantes, é sempre mais seguro esperar a
apuração dos votos.
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