Método de 'fritura' de Bolsonaro causa constrangimento no governo e no
mercado
Grasielle Castro
© EVARISTO SA via Getty Images À imprensa, Bolsonaro ameaçou Levy de
demissão sem pedir o aval de Paulo Guedes.
Três dias separaram as demissões do
general Santos Cruz, da Secretaria de Governo, na última quinta (13) e de Joaquim Levy, da
presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), no domingo
(16). Nos dois casos - assim como na demissão de Gustavo Bebianno da Secretaria
Geral em fevereiro -, a “fritura” - exposição pública do funcionário - foi o
método adotado pelo presidente Jair Bolsonaro para
consolidar sua decisão.
No caso de Levy, ele pediu demissão após sofrer
ataques públicos de Bolsonaro, o que causou constrangimento no governo e no
mercado. Há nos dois setores críticas à maneira como o mandatário tem lidado
nos seus primeiros meses de governo com questões delicadas da administração
pública.
O método passou, inclusive, a ser considerado um
entrave para futuros candidatos ao governo. Antes que Gustavo Montezano fosse
anunciado para suceder Levy nesta segunda-feira (17), pelo menos um dos cotados
para o cargo se queixou do possível mal-estar, segundo políticos e agentes do
mercado.
Dessa vez, o desgaste do presidente do BNDES
começou no sábado. Bolsonaro se queixou à imprensa de que Levy defendia um
petista na diretoria de Mercado de Capitais do banco.
“Eu já estou ‘por aqui’ com o Levy. Falei para ele:
‘Demita esse cara [Marcos Barbosa Pinto] na segunda-feira ou demito você sem
passar pelo [ministro da Economia] Paulo Guedes’”, disse.
Logo em seguida, o advogado Marcos Pinto pediu para
sair do BNDES. No domingo, foi Levy quem entregou a carta de demissão.
Ainda no sábado, Guedes afirmou entender o
presidente. “É natural ele se sentir agredido quando o presidente do BNDES
coloca na diretoria do banco nomes ligados ao PT”, disse. Além de Marcos Pinto,
Levy também trabalhou na gestão petista, tendo sido ministro da Fazenda do
governo Dilma e secretário do Tesouro no governo Lula.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia
(DEM), reagiu. Afirmou que a demissão de Levy foi “uma covardia sem
precedentes”. Para Maia, é uma pena o Brasil ter perdido dois quadros da
qualidade de Levy e Marcos Pinto.
“Levy veio de Washington [onde ocupava cargo de
diretor do Banco Mundial] para trabalhar no governo. Está errado [sair assim],
não pode tratar as pessoas deste jeito. Se é para demitir, chama e demite.
Ninguém é obrigado a ficar com um servidor de confiança se deixou de ser de
confiança. Agora tratar da qualidade dos dois desta forma, eu achei muito
ruim”, disse.
A demissão acelerou a votação do pedido de
convocação para Levy prestar esclarecimentos na CPI do BNDES. Ao HuffPost, a
deputada Margarida Salomão (PT-MG), uma das autoras do pedido, considerou a
atitude do presidente “uma brutalidade”. “O jeito como ele foi demitido
demonstra incapacidade do governo de manter qualquer estabilidade”, afirmou.
No mercado financeiro, também ficou a mesma queixa
em relação ao processo de fritura. “O setor já começa a ter noção de que o
presidente tem um jeito peculiar de tratar as coisas, que foge da liturgia do
Executivo”, diz o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira.
O economista, entretanto, ressalta que, neste caso
específico, chegou a haver uma tensão infundada de que a decisão pudesse ter
interferência do guru do bolsonarismo Olavo de Carvalho ou dos filhos do
presidente. A informação inicial que permaneceu foi a de que o processo de
demissão teria ocorrido por ambos terem ligações com gestões petistas.
“Mas foi um processo dentro do banco. Ele [Levy] já
não estava bem. Pode ser que o presidente tenha se precipitado, mas não foi
algo solitário do presidente. Investidores entenderam com expressão reduzida
essa demissão”, analisa o economista. Para ele, a troca tem perspectiva
“positiva”.
O sucessor
Gustavo Montezano deixa o cargo de secretário
especial adjunto de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia
para suceder Joaquim Levy no BNDES.
Montezano é engenheiro, mestre em Economia e foi um
dos sócios de Paulo Guedes no BTG Pactual, responsável pela divisão de crédito
corporativo e estruturados.
Um dos objetivos de Bolsonaro com o BNDES é “abrir
a caixa preta” do banco e desvendar empréstimos feitos a países da América
Latina e Africa.
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