terça-feira, 18 de junho de 2019

MÉTODO DE DEMISSÕES DO BOLSONARO DESAGRADA ALIADOS


Método de 'fritura' de Bolsonaro causa constrangimento no governo e no mercado

Grasielle Castro

                                                                                                 



                                                                                                                                                                                                       © EVARISTO SA via Getty Images À imprensa, Bolsonaro ameaçou Levy de demissão sem pedir o aval de Paulo Guedes. 

Três dias separaram as demissões do general Santos Cruz, da Secretaria de Governo, na última quinta (13) e de Joaquim Levy, da presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), no domingo (16). Nos dois casos - assim como na demissão de Gustavo Bebianno da Secretaria Geral em fevereiro -, a “fritura” - exposição pública do funcionário - foi o método adotado pelo presidente Jair Bolsonaro para consolidar sua decisão.
No caso de Levy, ele pediu demissão após sofrer ataques públicos de Bolsonaro, o que causou constrangimento no governo e no mercado. Há nos dois setores críticas à maneira como o mandatário tem lidado nos seus primeiros meses de governo com questões delicadas da administração pública.
O método passou, inclusive, a ser considerado um entrave para futuros candidatos ao governo. Antes que Gustavo Montezano fosse anunciado para suceder Levy nesta segunda-feira (17), pelo menos um dos cotados para o cargo se queixou do possível mal-estar, segundo políticos e agentes do mercado.
Dessa vez, o desgaste do presidente do BNDES começou no sábado. Bolsonaro se queixou à imprensa de que Levy defendia um petista na diretoria de Mercado de Capitais do banco.
“Eu já estou ‘por aqui’ com o Levy. Falei para ele: ‘Demita esse cara [Marcos Barbosa Pinto] na segunda-feira ou demito você sem passar pelo [ministro da Economia] Paulo Guedes’”, disse.
Logo em seguida, o advogado Marcos Pinto pediu para sair do BNDES. No domingo, foi Levy quem entregou a carta de demissão.
Ainda no sábado, Guedes afirmou entender o presidente. “É natural ele se sentir agredido quando o presidente do BNDES coloca na diretoria do banco nomes ligados ao PT”, disse. Além de Marcos Pinto, Levy também trabalhou na gestão petista, tendo sido ministro da Fazenda do governo Dilma e secretário do Tesouro no governo Lula.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), reagiu. Afirmou que a demissão de Levy foi “uma covardia sem precedentes”. Para Maia, é uma pena o Brasil ter perdido dois quadros da qualidade de Levy e Marcos Pinto.
“Levy veio de Washington [onde ocupava cargo de diretor do Banco Mundial] para trabalhar no governo. Está errado [sair assim], não pode tratar as pessoas deste jeito. Se é para demitir, chama e demite. Ninguém é obrigado a ficar com um servidor de confiança se deixou de ser de confiança. Agora tratar da qualidade dos dois desta forma, eu achei muito ruim”, disse.
A demissão acelerou a votação do pedido de convocação para Levy prestar esclarecimentos na CPI do BNDES. Ao HuffPost, a deputada Margarida Salomão (PT-MG), uma das autoras do pedido, considerou a atitude do presidente “uma brutalidade”. “O jeito como ele foi demitido demonstra incapacidade do governo de manter qualquer estabilidade”, afirmou.
No mercado financeiro, também ficou a mesma queixa em relação ao processo de fritura. “O setor já começa a ter noção de que o presidente tem um jeito peculiar de tratar as coisas, que foge da liturgia do Executivo”, diz o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira.
O economista, entretanto, ressalta que, neste caso específico, chegou a haver uma tensão infundada de que a decisão pudesse ter interferência do guru do bolsonarismo Olavo de Carvalho ou dos filhos do presidente. A informação inicial que permaneceu foi a de que o processo de demissão teria ocorrido por ambos terem ligações com gestões petistas.
“Mas foi um processo dentro do banco. Ele [Levy] já não estava bem. Pode ser que o presidente tenha se precipitado, mas não foi algo solitário do presidente. Investidores entenderam com expressão reduzida essa demissão”, analisa o economista. Para ele, a troca tem perspectiva “positiva”.
O sucessor
Gustavo Montezano deixa o cargo de secretário especial adjunto de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia para suceder Joaquim Levy no BNDES.
Montezano é engenheiro, mestre em Economia e foi um dos sócios de Paulo Guedes no BTG Pactual, responsável pela divisão de crédito corporativo e estruturados.
Um dos objetivos de Bolsonaro com o BNDES é “abrir a caixa preta” do banco e desvendar empréstimos feitos a países da América Latina e Africa.

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