Os punhais nas togas
Manoel Hygino
O apreço pelo latim
começava nos cursos médios. Os austeros professores de língua portuguesa,
muitos dos quais tinham passado pelos seminários ou pelo Caraça, faziam questão
de lembrar as raízes da língua de Camões e Alexandre Herculano. Foi assim
comigo, aluno de José Mesquita de Carvalho, nascido em Mariana, o que me ajudou
muito no vestibular para ingresso no curso de direito. Lá, fui encontrar o
professor Antônio Augusto de Melo Cançado, que era de Pará de Minas, mestre no
direito romano e apaixonado pela língua de Cícero.
No Brasil, em tempo
no qual não se ensinava direito romano, constava de currículo universitário na
União Soviética. Daí, a junção de interesses históricos inesgotáveis sobre
Roma, sua língua, as que dela descendem e por vultos permanentes que a fizeram
ferramenta para seus desígnios.
Daí se sentirem as
razões que levaram Napoleão Valadares a publicar “Frases da História”. Embora o
título seja de “frases”, tem-se muito mais no volume editado este ano e que
revela outras faces de Napoleão, nascido em Arinos, no Noroeste mineiro.
Formado em direito pela UnB, se valeu do latim em importantes cargos públicos e
em outros livros.
Nos seus deveres
escolares, em especial os universitários, Napoleão foi recolhendo informações e
afirmações que mereciam ser preservadas, fundamentando seu mais recente
trabalho, valioso em época de menosprezo pela própria língua. As frases
recolhidas pelo escritor de Arinos recordará o aprendido em outros estudiosos,
inclusive que “Roma deve sua origem a Eneias”, imigrante de Tróia e que Rômulo
e Remo, seus netos ou descendentes remotos, foram os fundadores de Roma, como
Michael Rostovtzeff consignou.
Valendo-se de frases
de Oliveira Martins, Suetônio, Allan Massie, Michael Rostovtzeff, Tom Holland e
Barry Strauss, Napoleão Valadares resgata os dias e horas finais da vida de
César:
Cássio já tinha
pensado em assassinar César nas margens do Cidno, enquanto andava pela Ásia
Menor. Trebônio estivera a ponto de o assassinar também em Narbona, quando da
última expedição na Espanha. Décimo Bruto o exortava a não faltar à palavra
empenhada aos senadores, que se achavam reunidos e o esperavam desde muito. Os
conspiradores não o haviam escolhido (Cícero) para fazer parte do complô.
Nos idos (ou 15 de
março) do ano 44 a.C, César foi assassinado numa reunião do Senado por um grupo
de conspiradores, dos quais Marco e Décimo Bruto e Cássio eram os líderes.
Trebônio conversava dissimuladamente com Antônio, apoiava-lhe as queixas contra
César, espiando com o olhar inquieto os movimentos da ação.
Eram cerca de 60 os
homens que o cercaram. Todos haviam puxado punhais de dentro de suas togas.
Todos eram conhecidos de César. Casca, por trás de César, ergueu o braço e
vibrou-lhe um golpe à nuca – como se faz no matadouro aos bois. O punhal
escorregou porque o braço tremia, e foi cair no ombro, ferindo-o levemente. Um
dos Cássios feriu-o pelas costas, um pouco abaixo do pescoço. Cassius tentou
aplicar um segundo golpe, mas terminou por atingir Brutus em uma das mãos;
Minucius Basilus errou seu golpe tendo atingido Rubrius em uma das coxas.
Vários conjurados também se feriram ao infligir tantos golpes a um só corpo.
De todo modo, César
não resistiu ao atentado, como a história e a maioria que frequenta os bancos
escolares sabem. O assassinato do grande líder é uma das páginas negras da
história, de que se valeu Shakespeare genialmente. Mas, para Michael Parenti,
os autores da morte logo se deram conta de que o populacho não os adotaria como
heróis. Nenhum sobreviveu por mais de três anos depois de sua morte e nenhum de
causa natural.
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