A estranha forma que o Reino Unido adota para escolher o sucessor de
Theresa May
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Getty Images Em 24 de maio, Theresa May expôs seu plano de renunciar ao cargo
de primeira-ministra
A corrida para se tornar o próximo
primeiro-ministro do Reino Unido tomou um rumo
inesperado - muitos dos candidatos ao cargo não conseguem parar de falar sobre
quando foi a última vez que usaram drogas.
É a mais recente reviravolta do estranho processo
que envolve uma parte ínfima da população, mas que tem em jogo o futuro do
Brexit - e a futura relação do Reino Unido com a União Europeia.
Mas por que está
havendo essa eleição agora?
Em resumo, porque a atual primeira-ministra,
Theresa May, teve muita dificuldade no cargo.
Quando assumiu o posto, então ocupado por David
Cameron - que renunciou depois que o Reino Unido votou a favor da saída da
União Europeia - ela parecia ter chegado para liderar o país durante anos.
Seu partido, o Conservador, tinha maioria na Câmara
dos Comuns (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil) e o líder da oposição,
Jeremy Corbyn, havia levado o Partido Trabalhista politicamente para a esquerda
- um movimento visto por muitos como suicídio eleitoral.
Depois de vários meses afirmando que não convocaria
uma eleição geral, May mudou de ideia e levou o país às urnas em 2017.
Ela queria aumentar o número de assentos de seu
partido, para dar solidez a seu mandato com foco nas negociações com a União
Europeia pela saída do país do bloco, por isso, causou surpresa ao antecipar
eleições.
Sua aposta, no entanto, deu errado.
O Partido Conservador, liderado liderado pela primeira-ministra
britânica, ganhou as eleições gerais, mas perdeu sua maioria absoluta no
Parlamento.
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A crença de que a campanha de esquerda de Jeremy Corbyn
espantaria os eleitores estava errada - os trabalhistas ganharam 30 assentos e
o partido Conservador perdeu 13.
May
conseguiu se agarrar ao poder contando com o apoio do muito menor Partido
Democrático Unionista (DUP, da sigla em inglês), da Irlanda do Norte, mas a
muito custo.
A Irlanda
do Norte tem a única fronteira terrestre do Reino Unido com a União Europeia, e
as exigências do partido em relação a isso ataram as mãos da primeira-ministra
quando o Brexit deveria estar na reta final.
O DUP
detestou o acordo que May negociou com a União Europeia - assim como muitos no
próprio Partido Conservador.
Como
resultado, ela foi derrotada três vezes na Câmara dos Comuns - uma das vezes
por um placar de 432 votos contra 202, a maior derrota de um governo na
história.
Depois de
perder a maioria de seu partido em uma eleição geral, sem conseguir um acordo
para o Brexit e com o perfil público abalado, May renunciou oficialmente como
líder do partido em 7 de junho.
Isso
desencadeou a atual corrida pela liderança que fará com que o próximo
primeiro-ministro britânico tome posse no final de julho.
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Por que muitos candidatos continuam dizendo às pessoas que usaram drogas?
Há
atualmente dez pessoas na corrida para virar o próximo líder do Reino Unido, e
sete delas já admitiram usar drogas ilícitas.
Isso é um
pouco incomum para um grupo de pessoas que busca assumir o controle da quinta
maior economia do mundo e de Forças Armadas equipadas com armas nucleares.
Entre as admissões mais exóticas dos últimos dias estão as de
Rory Stewart (atualmente ministro do Desenvolvimento Internacional) dizendo que
fumou ópio no Irã, de Michael Gove (ministro do Meio Ambiente) admitindo
cheirar cocaína e de Jeremy Hunt (o ministro das Relações Exteriores)
descrevendo como tomou uma bebida à base de iogurte com a adição de uma pequena
quantidade de maconha na Índia.
O nome
apontado como favorito para substituir May, Boris Johnson, já afirmou em um
programa de TV em 2005 que "tentou, sem sucesso," consumir cocaína
"há muito tempo", mas espirrou e a droga acabou se dissipando.
Ninguém sabe muito bem o quão seriamente podem
ser tomadas uma admissão ou negação parcial como essas.
Os três
outros candidatos que admitiram o uso de substâncias psicoativas dizem que
fumaram maconha quando eram mais jovens.
Para
alguns políticos, a pressa em abordar o assunto parece ser alimentada por uma
tentativa de antecipação, porque estariam prestes a ser expostos por um jornal.
Para outros, a estratégia tem sido vista como uma tentativa de se distanciar do
estereótipo de político formal, socialmente conservador e desconectado da
realidade.
É aqui que as coisas voltam a Theresa May.
Durante a
campanha eleitoral catastrófica que fez, ela tentou evitar dizer qualquer coisa
controversa, pensando que passaria a imagem de líder séria, estável e
confiável.
Em vez
disso, ela pareceu, na visão de muitos, como distante e robótica.
Quando
questionada "Qual foi a pior coisa que já fez", ela titubeou várias
vezes antes de responder "... quando eu e meus amigos costumávamos
atravessar os campos de trigo, os fazendeiros não ficavam muito satisfeitos com
isso".
(Se você
está completamente confuso em relação a isso, não se preocupe - quase ninguém
no Reino Unido também tinha a menor
Enfrentando questões semelhantes, os candidatos a substitui-la
estão tendo que encontrar respostas mais interessantes para o público
britânico, composto em cerca de um terço por pessoas entre 16 e 59 anos que
admitem já ter usado drogas.
Para Rory
Stewart, ter revelado que fumou ópio em um casamento no Irã 15 anos atrás
("alguém passou o tubo pela sala e eu o fumei", disse ele)
provavelmente aumenta seu apelo como dissidente com uma história de vida muito
diferente da maioria dos políticos.
Ele teve
uma passagem rápida pelo Exército Britânico antes de ingressar no serviço
diplomático, tornando-se vice-governador de duas províncias do Iraque após a
invasão em 2003, e posteriormente atravessando o Irã, o Afeganistão, o
Paquistão, a Índia e o Nepal, em uma jornada de 21 meses.
Seu pai
era o controlador do Extremo Oriente para o Serviço Secreto de Inteligência do
Reino Unido.
Para
outros candidatos, porém, o uso de drogas tem sido um problema político.
A
confissão de Michael Gove de que usou cocaína quando era jornalista foi
confrontada com a época em que ocupou o cargo de ministro da Educação e seu
departamento expulsaria professores pegos usando a droga.
Ele
acabou, com isso, acusado de hipocrisia
Por que apenas 124 mil pessoas terão direito a voto?
Uma vez
que os candidatos tenham terminado de admitir suas infrações relacionadas ao
uso de entorpecentes no passado, e possivelmente até de definir algumas
políticas, uma votação começará a decidir quem se tornará líder do Partido
Conservador e, consequentemente, o próximo primeiro-ministro do Reino Unido.
Este não
é um processo em que o país inteiro terá voz.
Nos
primeiros turnos, somente os membros conservadores do Parlamento podem votar,
com os candidatos que receberem o menor número de votos eliminados em rodadas
sucessivas.
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Quando a disputa afunilar e tiver apenas dois candidatos, todos
os membros do Partido Conservador votam por correspondência para decidir o vencedor.
Mas esse
eleitorado é de apenas 124 mil pessoas (de acordo com uma pesquisa acadêmica do
ano passado), de um total de 47 milhões de eleitores do Reino Unido - 0,26% do
total.
Embora
tenha havido reclamações no Reino Unido, esta é uma maneira bastante comum de
escolher um novo primeiro-ministro.
Nos
últimos 45 anos, metade dos oito líderes do país foram escolhidos por seus
partidos políticos, e não pelo público em geral.
Isso se deve em parte ao fato de que, no
sistema político britânico, os chefes de governo são muito suscetíveis a
serem destituídos por seus partidos, caso percam popularidade, ao contrário de
sistemas presidenciais, como os Estados Unidos.
Mas os
membros dos partidos políticos não são representantes do país como um todo.
Do total,
97% dos membros do Partido Conservador são brancos.
Isso
significa que "...as minorias étnicas, que representam bem mais de 10% da
população britânica, estão muito sub-representadas na hierarquia e na base dos
conservadores", segundo o professor Tim Bale, da Universidade Queen Mary,
em Londres.
"Os
membros conservadores estão consideravelmente em melhor condição que a maioria
dos eleitores", acrescenta ele, afirmando que a idade média dos membros do
partido é de 57 anos.
Quando um
novo primeiro-ministro é escolhido, são os jovens, os pobres e as minorias
étnicas que terão menos voz.
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Como isso afetará o Brexit?
A saída
do Reino Unido da União Europeia é a grande questão que domina a política
britânica, então não é surpresa que esteja na frente e no centro da eleição de
liderança.
Os dez
candidatos atualmente na corrida têm uma grande variedade de propostas
disponíveis sobre essa questão.
Dominic Raab tem uma das políticas mais
rígidas. Ele diz que vai forçar a União Europeia a se curvar e assumir
compromissos que anteriormente, nas negociações, disse que nunca assumiria, ou
ele vai retirar o Reino Unido do bloco sem qualquer tipo de acordo.
Se os
deputados britânicos tentarem impedi-lo, ele afirma que encerrará a sessão do
Parlamento que estiver em curso e que não vai iniciar uma nova, para que não
tenham a chance de frustrar seus planos.
Mas isso
lançaria o Reino Unido em uma crise constitucional.
No outro
extremo do espectro está Sam Gyimah, que entrou na corrida nos estágios
iniciais.
Ele
estaria aberto à possibilidade de um segundo referendo sobre se o Reino Unido
deve deixar a União Europeia caso as negociações do Brexit continuem
enfrentando problemas.
No
entanto, ele já teve que desistir da disputa por falta de apoio, e qualquer
candidato bem sucedido provavelmente terá que ceder aos membros do Partido
Conservador, que é fortemente eurocético, ou seja, contra o aumento dos poderes
da União Europeia.
Talvez o maior problema seja que todos os
candidatos estão em modo eleitoral, vendendo esperanças e sonhos aos
apoiadores, que devem se mobilizar e ganhar votos.
Isso é
muito diferente do árduo trabalho duro de negociações detalhadas que terão de
ocorrer com a União Europeia para garantir qualquer acordo do Brexit.
Essas
conversas estão suspensas e só serão reiniciadas quando um novo líder tomar
posse no final de julho.
Independentemente
de quem vença, será uma corrida frenética para retomar as negociações e
concluí-las até a data limite para o Brexit ser efetivado, que, após
adiamentos, é prevista agora para 31 de outubro.
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