Sergio Moro e Deltan Dallagnol se dizem alvo de ataque criminoso
João Batista Jr.
© Adriano Machado/Reuters Sergio Moro, ministro da Justiça e Segurança
Pública: mensagens reveladas
Um comunicado enviado pela Força-tarefa da Lava
Jato revela preocupação de procuradores sobre conteúdo privado e profissional
revelados, os quais teriam sido captados de celulares por um hacker. O conteúdo
pode ter grande impacto, como as mensagens trocadas entre o então juiz Sergio
Moro e o procurador Deltan Dallagnol. O conteúdo foi capturado do aplicativo
Telegram, então considerado extremamente seguro.
Parte do conteúdo foi publicado pelo
site The Intercet. Algumas mensagens, por exemplo, mostravam preocupação
de procuradores sobre uma eventual entrevista de Lula, autorizada pelo ministro
Ricardo Lewandowski que seria dada pouco antes das eleições de 2018. Os
procuradores avaliaram que as falas de Lula teriam potencial de interferir no
resultado das urnas, segundo as mensagens.
A força-tarefa fala de ser tido alvo
de hacker justamente dias após o agora ministro Sergio Moro ter relatado que
seu celular foi invadido. “Procuradores mostram tranquilidade quanto à
legitimidade da atuação, mas revelam preocupação com segurança pessoal e com
falsificação e deturpação do significado de mensagens”, diz o comunicado.
A íntegra do comunicado da
Força-tarefa da Lava Jato
A ação vil do hacker invadiu telefones
e aplicativos de procuradores da Lava Jato usados para comunicação privada e no
interesse do trabalho, tendo havido ainda a subtração de identidade de alguns
de seus integrantes. Não se sabe exatamente ainda a extensão da invasão, mas se
sabe que foram obtidas cópias de mensagens e arquivos trocados em relações
privadas e de trabalho. Dentre as informações ilegalmente copiadas,
possivelmente estão documentos e dados sobre estratégias e investigações em
andamento e sobre rotinas pessoais e de segurança dos integrantes da
força-tarefa e de suas famílias.
Há a tranquilidade de que os dados
eventualmente obtidos refletem uma atividade desenvolvida com pleno respeito à
legalidade e de forma técnica e imparcial, em mais de cinco anos de
Operação.
Contudo, há três preocupações.
Primeiro, os avanços contra a corrupção promovidos pela Lava Jato foram
seguidos, em diversas oportunidades, por fortes reações de pessoas que
defendiam os interesses de corruptos, não raro de modo oculto e dissimulado.
A violação criminosa das comunicações
de autoridades constituídas é uma grave e ilícita afronta ao Estado e se
coaduna com o objetivo de obstar a continuidade da Operação, expondo a vida dos
seus membros e famílias a riscos pessoais. Ninguém deve ter sua intimidade –
seja física, seja moral – devassada ou divulgada contra a sua vontade. Além
disso, na medida em que expõe rotinas e detalhes da vida pessoal, a ação ilegal
cria enormes riscos à intimidade e à segurança dos integrantes da força-tarefa,
de seus familiares e amigos.
Em segundo lugar, uma vez
ultrapassados todos os limites de respeito às instituições e às autoridades
constituídas na República, é de se esperar que a atividade criminosa continue e
avance para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto, falsificar
integral ou parcialmente informações e disseminar “fake news”.
Entretanto, os procuradores da Lava
Jato não vão se dobrar à invasão imoral e ilegal, à extorsão ou à tentativa de
expor e deturpar suas vidas pessoais e profissionais. A atuação sórdida
daqueles que vierem a se aproveitar da ação do “hacker” para deturpar fatos,
apresentar fatos retirados de contexto e falsificar integral ou parcialmente
informações atende interesses inconfessáveis de criminosos atingidos pela Lava
Jato.
Por fim, os procuradores da Lava Jato
em Curitiba mantiveram, ao longo dos últimos cinco anos, discussões em
grupos de mensagens, sobre diversos temas, alguns complexos, em paralelo a
reuniões pessoais que lhes dão contexto. Vários dos integrantes da força-tarefa
de procuradores são amigos próximos e, nesse ambiente, são comuns desabafos e
brincadeiras. Muitas conversas, sem o devido contexto, podem dar margem para
interpretações equivocadas. A força-tarefa lamenta profundamente pelo desconforto
daqueles que eventualmente tenham se sentido atingidos.
Diante disso, em paralelo à necessária
continuidade de seu trabalho em favor da sociedade, a força-tarefa da Lava Jato
estará à disposição para prestar esclarecimentos sobre fatos e procedimentos de
sua responsabilidade, com o objetivo de manter a confiança pública na plena
licitude e legitimidade de sua atuação, assim como de prestar contas de seu
trabalho à sociedade.
Contudo, nenhum pedido de
esclarecimento ocorreu antes das publicações, o que surpreende e contraria as
melhores práticas jornalísticas. Esclarecimentos posteriores, evidentemente,
podem não ser vistos pelo mesmo público que leu as matérias originais, o que
também fere um critério de justiça. Além disso, é digno de nota o viés tendencioso
do conteúdo até o momento divulgado, o que é um indicativo que pode confirmar o
objetivo original do hacker de, efetivamente, atacar a operação Lava Jato.
De todo modo, eventuais críticas
feitas pela opinião pública sobre as mensagens trocadas por seus integrantes
serão recebidas como uma oportunidade para a reflexão e o aperfeiçoamento dos
trabalhos da força-tarefa.
©
/. data-has-syndication-rights= Dallagnol: troca de menagens pelo Telegram
foram reveladas pelo The Intercept
Em paralelo à necessária reflexão e prestação
de contas à sociedade, é importante dar continuidade ao trabalho. Apenas neste
ano, dezenas de pessoas foram acusadas por corrupção e mais de 750 milhões de
reais foram recuperados para os cofres públicos. Apenas dois dos acordos em
negociação poderão resultar para a sociedade brasileira na recuperação de mais
de R$ 1 bilhão em meados deste ano. No total, em Curitiba, mais de 400 pessoas
já foram acusadas e 13 bilhões de reais vêm sendo recuperados, representando um
avanço contra a criminalidade sem precedentes. Além disso, a força-tarefa
garantiu que ficassem no Brasil cerca de 2,5 bilhões de reais que seriam
destinados aos Estados Unidos.
Em face da agressão cibernética, foram
adotadas medidas para aprimorar a segurança das comunicações dos integrantes do
Ministério Público Federal, assim como para responsabilizar os envolvidos no
ataque hacker, que não se confunde com a atuação da imprensa. Desde o primeiro
momento em que percebidas as tentativas de ataques, a força-tarefa comunicou a
Procuradoria-Geral da República para que medidas de segurança pudessem ser
adotadas em relação a todos os membros do MPF. Na mesma direção, um grupo de
trabalho envolvendo diversos procuradores da República foi constituído para, em
auxílio à Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação da PGR,
aprofundar as investigações e buscar as melhores medidas de prevenção a novas
investidas criminosas.
Em conclusão, os membros do Ministério
Público Federal que integram a força-tarefa da operação Lava Jato renovam
publicamente o compromisso de avançar o trabalho técnico, imparcial e
apartidário e informam que estão sendo adotadas medidas para esclarecer a
sociedade sobre eventuais dúvidas sobre as mensagens trocadas, para a apuração
rigorosa dos crimes sob o necessário sigilo e para minorar os riscos à
segurança dos procuradores atacados e de suas famílias.
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