Recuperação de área verde devastada em Brumadinho levará cem anos
Raul Mariano
O rompimento da
barragem da Vale em Brumadinho, na Grande BH, devastou uma área verde
equivalente a 15 vezes o Parque Municipal da capital mineira. Monitoramento
feito por satélite pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) aponta que cerca de 270 hectares de mata foram
consumidos pela lama. Para que a floresta destruída seja totalmente recuperada,
serão necessários pelo menos cem anos, estima a Fundação SOS Mata Atlântica.
O desastre, que já
deixou 165 mortos e atingiu em cheio a bacia do rio Paraopeba, acabou com 133
hectares de vegetação nativa de mata atlântica e cerca de 700 mil metros
quadrados de Áreas de Preservação Permanente (APPs), segundo o Ibama.
O impacto da
tragédia não prejudicou apenas a flora, mas também a fauna local, o que torna o
processo de recuperação ainda mais complexo. A avaliação é do biólogo Tiago
Felix, da SOS Mata Atlântica, que passou dez dias em campo analisando as
consequências do desastre para o meio ambiente.
Ele explica que todo
o ecossistema na região foi afetado pelo rompimento da barragem. Pássaros,
répteis, insetos e mamíferos que viviam por lá foram buscar refúgio em outros
locais, segundo o especialista. “O que sobrou de fauna precisa ser reconectado.
Esses animais são essenciais para a manutenção da floresta. Uma restauração
florestal simples levaria dez anos, mas, para voltarmos a ter um bioma
totalmente equilibrado, seria necessário um século”.
O biólogo ainda
destaca ser inviável tentar plantar novas árvores sobre a área devastada, já
que o solo contaminado por rejeitos torna mais difícil a sobrevivência de
qualquer espécie vegetal.
Dessa forma,
garante, será necessário criar meios para que os dois extremos de mata nativa
conservada se unam através de corredores ecológicos. “É como se fosse um grande
machucado que precisamos ir limpando de fora para dentro”, compara.
O Instituto Estadual de Florestas (IEF) foi procurado, mas não se
posicionou sobre o assunto até o fechamento desta edição
Dedicação
A intervenção humana
será imprescindível para que a recuperação ambiental da área atingida em
Brumadinho transcorra corretamente. Quem afirma é a superintendente-executiva
da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), Maria Dalce Ricas.
“Não dá para esperar
a natureza agir sozinha. Teremos que fazer o replantio das espécies perdidas e,
quanto mais rápido começar, mais rápido será a recuperação. Lembrando ser
preciso um monitoramento da área por no mínimo quatro anos”, acrescenta.
A Vale foi
questionada sobre ações para a recuperação da vegetação devastada pela lama,
mas respondeu apenas sobre as medidas de redução de impactos no leito do
Paraopeba, já informadas em ocasiões anteriores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário