Venezuela de novo
Manoel Hygino
Os jornais do último
dia 13 – atentem para o número – publicaram: “o presidente Nicolás Maduro tomou
posse para um segundo mandato de seis anos, considerando ilegítimo por vários
países da comunidade internacional, com uma Venezuela em ruínas e cada vez mais
isolada”.
Duas horas após, a
OEA (Organização dos Estados Americanos) aprovou uma resolução declarando
ilegítimo o mandato, advertindo “serem indispensáveis novas eleições presidenciais
com todas as garantias necessárias para um processo livre, justo, transparente
e legítimo”.
Os fatos
aproximadamente se repetem e Carlos Taquari conta o acontecido em meados do
século passado. Na tentativa de legitimar o regime imposto em 1948, o coronel
Marcos Pérez Jiménez (da outra vez foi um militar) convocou eleições para uma
Constituinte, que se encarregaria de eleger o presidente. A escolha se daria em
10 de novembro de 1952 e, iniciada a votação, constatou-se que o governo
sofrera uma retumbante derrota. Não deu outra: Pérez Jiménez determinou a
suspensão da apuração e exigiu uma contagem “mais correta”. Quarenta e oito
horas depois, saiu o novo resultado com a vitória do regime vigente, permitindo
a autoproclamação do presidente.
Não é aproximadamente
o que ora acontece, mutatis mutandis? No período de Jiménez, passei pela
Venezuela. Havia ainda sorrisos e o povo não era tão infeliz como hoje. Daquela
vez, Jiménez teve de enfrentar outra luta, pois se estabelecera que o nome do
eleito tinha de ser reapresentado à Assembleia Constituinte. A oposição criaria
problema.
Como se deu? Pérez
Jiménez deu uma de bonzinho, de democrata reconvicto. Convidou os principais
líderes da oposição para uma conversa em palácio, e a ela compareceram cinco representantes,
inclusive Jovito Villalba, da União Republicana Democrática. A conversa
evidentemente não deve ter sido fácil e lhana. Jiménez queria que os
oposicionistas se comprometessem a não criar dificuldade à homologação de seu
nome à chefia da nação. Os líderes negaram peremptoriamente, a começar por
Villalba. Diante da decisão, outro caminho foi adotado: os rebeldes foram
presos pela polícia secreta e transportados a um avião adredemente preparado, é
claro, e enviados ao Panamá sem sequer documentos, dinheiro ou bagagem. Assim
se ganhava uma eleição na Venezuela, a despeito ou por causa dos petrodólares e
da obsessão pelo poder.
Transposto o século,
como se vê, a situação não se modificou muito. Restou às Forças Armadas dizer
sim, publicamente, e jurar lealdade agora a Nicolás Maduro, para mais meia
dúzia de anos de governo. A oposição, pressionada, havia pedido que os
militares não reconhecessem o novo pleito. O Parlamento, único poder ainda
resistente ao presidente novamente eleito (?), se posicionou: “fizemos um
chamado claro às Forças Armadas, a essa enorme maioria de soldados e oficiais
que envergam com honra seu uniforme e não se deixarem corromper (...) para que
deem um passo à frente (...), “não se deve reconhecer o que não foi produto do
voto popular”.
A estratégia não deu
certo, mesmo quando Juan Guidó, presidente do Congresso Nacional, alertou: “uma
eleição se vence com votos, não se rouba. Você não é legítimo”, advertiu o
deputado. O rebelde foi preso, esteve assim algumas horas, mas foi libertado,
talvez em decorrência da pressão internacional. Até este instante, nada de novo
e valioso no front norte, embora os venezuelanos permaneçam em fuga para o
Brasil e Colômbia. A fome e a falta de liberdade os movem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário