O Globo com agências internacionais
ESTRASBURGO — Em busca de alguma garantia que dê sobrevida à sua
controversa negociação do Brexit, a primeira-ministra britânica, Theresa May,
bate à porta dos principais líderes europeus nesta terça-feira. Na véspera,
para evitar iminente derrota, ela adiou a votação no Parlamento do acordo dE
saída do Reino Unido da União Europeia, com acenos a ajustes nos termos mais
criticados. Os europeus, no entanto, deixam claro que não cogitam reabrir as
conversas da cisão do bloco.
May espera empregar uma improvável nova rodada de negociações com os
pares europeus antes de submeter ao Parlamento o acordo, cuja votação estava
prevista para esta terça-feira. Pela manhã, a primeira-ministra britânica se
reúne em Haia com o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte. Depois, segue para
Berlim, onde tem encontro marcado com a chanceler alemã, Angela Merkel, a quem
deve pedir especial ajuda para modificar o acordo.
O ministro alemão para a Europa, Michael Roth, descreveu a possibilidade
de rever o acordo como uma "fantasia". Para ele, os termos atuais já
foram "difíceis o suficiente" de acordar. À noite, May se reúne com o
presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o líder da Comissão Europeia,
Jean-Claude Juncker, que já ressaltou "não haver margem para
renegociação".
"Falarei com a senhora May esta noite e lhe direi como disse ao
Parlamento antes, que o acordo que alcançamos foi o melhor acordo possível. É o
único possível", assegurou Juncker a eurodeputados reunidos no Parlamento
Europeu em Estrasburgo, no nordeste da França.
Apesar da resistência em voltar à mesa, o líder da Comissão Europeia
ressalvou que há "margem, com inteligência, para mais esclarecimentos,
mais explicações sobre a interpretação" dos termos para tentar convencer
os parlamentares a endossarem as propostas. A principal controvérsia da
negociação de May se refere ao "backstop", ou "rede de segurança",
um mecanismo elaborado para evitar a reinstauração de controles de fronteira na
Irlanda - única passagem terrestre entre a Europa e o país caso o Brexit seja
finalizado - sem que haja um acordo comercial em vigor.
Reino Unido e UE decidiram que, até que outros acordos comerciais sejam
negociados, todo o país permanecerá numa união aduaneira temporária com o
bloco, na expectativa de que ambas as partes cheguem a um acerto conclusivo
antes do final de 2020. A Irlanda do Norte ficaria então sujeita a um arranjo
especial, que manteria a província sob as regras regulatórias da UE para
produtos por um período estendido. O temor é que tal arranjo mantivesse o Reino
Unido atado à União Europeia por anos. O parecer jurídico do governo, divulgado
à revelia de May, confirmou que o "backstop" poderia ligar britânicos
ao bloco por tempo indefinido.
Com 585 páginas redigidas após 17 meses de negociações, o acordo de May
com 27 pares europeus sofre com ampla oposição do Parlamento britânico, que vê
risco à soberania do país e do voto popular, que acolheu o Brexit em referendo
de 2016. A oposição trabalhista, os centristas liberal-democratas, os
nacionalistas escoceses, os unionistas norte-irlandeses e conservadores
rebeldes — sejam pró-Europa ou eurocéticos — se pronunciaram contra os termos
anunciados. May é criticada por membros do próprio partido e da base aliada.
Cinco de seus ministros renunciaram por discordarem do acordo defendido.
O Reino Unido deve sair do bloco europeu no próximo 29 de março. Sem
ratificar um texto negociado com Bruxelas, deve deixar a comunidade europeia
submetido a controles alfandegários que arriscariam sua economia. Os defensores
de um Brexit pleno pediram à primeira-ministra que lançasse uma improvável
renegociação. Em resposta, May afirmou na segunda-feira que transmitiria as
"preocupações" dos deputados britânicos aos líderes europeus e que
"faria tudo o que for humanamente possível para obter mais garantias"
de que o "backstop" não será permanente ou não será aplicado.
O ministro irlandês de Relações Exteriores, Simon Coveney assegurou à
radiotelevisão pública do país RTE que Dublin descarta mudar o acordo. Neste
contexto, para que o Brexit não monopolizasse a cúpula europeia marcada para
quinta-feira e sexta-feira em Bruxelas, Tusk decidiu convocar uma reunião
extraordinária sobre a saída britânica da UE. Depois, os países poderiam focar
nos temas escalados há meses na pauta da cúpula, como a imigração e o orçamento
europeu.
"Nós não vamos renegociar o acordo, incluindo o backstop, mas
estamos prontos para discutir como facilitar a ratificação britânica",
reforçou Tusk, que não descartou uma saída do país sem acordo. "Com o
tempo se esgotando, nós também vamos discutir nossa prontidão para um cenário
sem acordo".
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