terça-feira, 11 de dezembro de 2018

PARLAMENTO INGLÊS SÓ ACEITA O BREXIT PLENO








O Globo com agências internacionais

ESTRASBURGO — Em busca de alguma garantia que dê sobrevida à sua controversa negociação do Brexit, a primeira-ministra britânica, Theresa May, bate à porta dos principais líderes europeus nesta terça-feira. Na véspera, para evitar iminente derrota, ela adiou a votação no Parlamento do acordo dE saída do Reino Unido da União Europeia, com acenos a ajustes nos termos mais criticados. Os europeus, no entanto, deixam claro que não cogitam reabrir as conversas da cisão do bloco. Parte superior do formulário

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May espera empregar uma improvável nova rodada de negociações com os pares europeus antes de submeter ao Parlamento o acordo, cuja votação estava prevista para esta terça-feira. Pela manhã, a primeira-ministra britânica se reúne em Haia com o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte. Depois, segue para Berlim, onde tem encontro marcado com a chanceler alemã, Angela Merkel, a quem deve pedir especial ajuda para modificar o acordo.

O ministro alemão para a Europa, Michael Roth, descreveu a possibilidade de rever o acordo como uma "fantasia". Para ele, os termos atuais já foram "difíceis o suficiente" de acordar. À noite, May se reúne com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o líder da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que já ressaltou "não haver margem para renegociação".
"Falarei com a senhora May esta noite e lhe direi como disse ao Parlamento antes, que o acordo que alcançamos foi o melhor acordo possível. É o único possível", assegurou Juncker a eurodeputados reunidos no Parlamento Europeu em Estrasburgo, no nordeste da França.
Apesar da resistência em voltar à mesa, o líder da Comissão Europeia ressalvou que há "margem, com inteligência, para mais esclarecimentos, mais explicações sobre a interpretação" dos termos para tentar convencer os parlamentares a endossarem as propostas. A principal controvérsia da negociação de May se refere ao "backstop", ou "rede de segurança", um mecanismo elaborado para evitar a reinstauração de controles de fronteira na Irlanda - única passagem terrestre entre a Europa e o país caso o Brexit seja finalizado - sem que haja um acordo comercial em vigor.
Reino Unido e UE decidiram que, até que outros acordos comerciais sejam negociados, todo o país permanecerá numa união aduaneira temporária com o bloco, na expectativa de que ambas as partes cheguem a um acerto conclusivo antes do final de 2020. A Irlanda do Norte ficaria então sujeita a um arranjo especial, que manteria a província sob as regras regulatórias da UE para produtos por um período estendido. O temor é que tal arranjo mantivesse o Reino Unido atado à União Europeia por anos. O parecer jurídico do governo, divulgado à revelia de May, confirmou que o "backstop" poderia ligar britânicos ao bloco por tempo indefinido.
Com 585 páginas redigidas após 17 meses de negociações, o acordo de May com 27 pares europeus sofre com ampla oposição do Parlamento britânico, que vê risco à soberania do país e do voto popular, que acolheu o Brexit em referendo de 2016. A oposição trabalhista, os centristas liberal-democratas, os nacionalistas escoceses, os unionistas norte-irlandeses e conservadores rebeldes — sejam pró-Europa ou eurocéticos — se pronunciaram contra os termos anunciados. May é criticada por membros do próprio partido e da base aliada. Cinco de seus ministros renunciaram por discordarem do acordo defendido.
O Reino Unido deve sair do bloco europeu no próximo 29 de março. Sem ratificar um texto negociado com Bruxelas, deve deixar a comunidade europeia submetido a controles alfandegários que arriscariam sua economia. Os defensores de um Brexit pleno pediram à primeira-ministra que lançasse uma improvável renegociação. Em resposta, May afirmou na segunda-feira que transmitiria as "preocupações" dos deputados britânicos aos líderes europeus e que "faria tudo o que for humanamente possível para obter mais garantias" de que o "backstop" não será permanente ou não será aplicado.
O ministro irlandês de Relações Exteriores, Simon Coveney assegurou à radiotelevisão pública do país RTE que Dublin descarta mudar o acordo. Neste contexto, para que o Brexit não monopolizasse a cúpula europeia marcada para quinta-feira e sexta-feira em Bruxelas, Tusk decidiu convocar uma reunião extraordinária sobre a saída britânica da UE. Depois, os países poderiam focar nos temas escalados há meses na pauta da cúpula, como a imigração e o orçamento europeu.
"Nós não vamos renegociar o acordo, incluindo o backstop, mas estamos prontos para discutir como facilitar a ratificação britânica", reforçou Tusk, que não descartou uma saída do país sem acordo. "Com o tempo se esgotando, nós também vamos discutir nossa prontidão para um cenário sem acordo".

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