A democracia não chega
Manoel Hygino
O mundo, dito
civilizado, acompanha pelas imagens de televisão, pelos repórteres de rádio ou
pelas páginas de jornais, a marcha interrupta de uma caravana que saiu há um
mês de Honduras com destino aos Estados Unidos. Há cerca de uma semana,
acelerou seus passos pelo estado de Sinaloa, já no México e a caminho de
Navajoa, fronteira com os Estados Unidos. Simultaneamente, pequenos grupos
alcançaram Tijuana, na Baixa Califórnia, os primeiros dos quais com transexuais
e homossexuais.
A esperança de todos
é que Tio Sam lhes conceda status de refugiados, por força da extrema violência
e da pobreza que sofrem em seus países. Para consegui-lo, confiam em permissão
oficial da Casa Branca, mas Trump não é lá dessas bondades, principalmente
diante do maior incêndio da história americana, que destrói, há semanas, amplas
regiões na Califórnia.
A resposta, contudo,
de Washington é outra. Tropas militares da Operação Linha Segura, na fronteira
da Califórnia em chamas com o México, permanecerão na região até 15 de
dezembro, e seu objetivo é muito claro: impedir a entrada dos imigrantes
procedentes da Guatemala, Nicarágua e Honduras.
A caravana, aliás, não é única, nem se importa que os cães ladrem. Os 7 mil retirantes não se intimidam com as forças militares estacionadas na fronteira entre San Diego, na Califórnia, e Tijuana, no México, não se admitindo uma solução não pacífica para o impasse, a despeito da repercussão internacional negativa.
A caravana, aliás, não é única, nem se importa que os cães ladrem. Os 7 mil retirantes não se intimidam com as forças militares estacionadas na fronteira entre San Diego, na Califórnia, e Tijuana, no México, não se admitindo uma solução não pacífica para o impasse, a despeito da repercussão internacional negativa.
A região vive em
situação candente há muito tempo e não faltam notícias más sobre a América de
língua espanhola. As sucessivas tentativas de democracia falharam, porque os
homens que detêm o poder em suas pátrias insistem em conduzir o governo à sua
vontade e pela força. Em meados deste ano, mais de 4 mil cidadãos pediram à
polícia na Nicarágua que parasse o banho de sangue, produzido pela repressão.
Não somente lá. Parece que a América Latina vive em um paiol de munição. No
caso da Nicarágua, o clero católico entrou em cena insistindo na assinatura de
um plano de democratização e a retomada do diálogo com a oposição. Não é a
primeira vez, e não se pode esquecer que um dos canonizados, em 2018, por
Francisco, o papa, era um alto dignatário de Honduras – Dom Romero. Ele foi
assassinado a tiros durante cerimônia religiosa.
De uma determinada
linha do continente para cima, progresso e riqueza. Abaixo, a pobreza e a dor.
Há necessidade de compreensão, como enfatiza Mário Vargas Llosa, que sabe dos
fatos, suas origens e efeitos. Para ele, em primeiro lugar há de ter-se
consciência de que as demarcações territoriais que dividem nossos países são
artificiais, dispositivos políticos impostos de maneira arbitrária na época
colonial e que os líderes da emancipação e seus sucessores, em vez de apararem,
legitimaram e, às vezes, agravaram. “Essa balcanização forçada da América
Latina, diferentemente do que aconteceu na América do Norte, onde as 13 colônias
se uniram e isso acelerou o deslanche dos Estados Unidos – foi um dos fatores
mais evidentes do nosso subdesenvolvimento, pois acelerou os nacionalismos, as
guerras e os conflitos”.
As consequências aí
estão. Até quando, não se sabe.
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