quarta-feira, 10 de outubro de 2018

DISPUTA ACIRRADA AO GOVERNO DE MINAS GERAIS


Zema e Anastasia têm propostas distintas para solucionar problemas em Minas

Lucas Simões e Rafaela Matias








O segundo turno em Minas será de embate ferrenho entre propostas consideradas liberais. Apesar de habitarem o mesmo campo político, Antonio Anastasia (PSDB) e Romeu Zema (Novo) elaboraram projetos de governo conflitantes. De um lado, o tucano evita promessas específicas e dá preferência às metas genéricas, como concluir obras e não aumentar impostos. De outro, Zema propõe mudanças como a possível revisão do plano de carreira dos professores e a gestão privada da saúde pública.
A pedido do Hoje em Dia, os dois candidatos expuseram suas ideias sobre sete pontos fundamentais dos planos de governo, que contemplam déficit do Estado, previdência, privatizações, educação, segurança, saúde e cultura.
No nicho tucano, Anastasia vem repetindo que não é possível prometer o que não pode cumprir, antes de regularizar o Estado. Nas 18 páginas de seu plano de governo, não constam projetos específicos, mas, como o senador diz, “caminhos para a reconstrução de Minas”.
Em algumas áreas, Anastasia se posiciona de forma contundente.
É o caso das privatiza-ções, as quais o senador se diz contra. “Não pretendemos privatizar nossas estatais. As empresas públicas de Minas representam um importante patrimônio dos mineiros e podem ser usadas para alavancar os investimentos. É isso que pretendemos fazer”, disse Anastasia.
Além disso, uma das promessas específicas do tucano é afirmar que irá trazer Minas Gerais para a liderança no ranking do Índice do Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Partido Novo
Zema tem optado por apresentar propostas consideradas mais radicais.
Em defesa das privati-zações das estatais, com exceção da Codemig, o candidato propõe fatiar a Cemig em até seis empresas, segundo ele, para estimular a concorrência e baixar em até 20% a tarifa de energia em Minas.
O problema é que a Cemig deposita sua energia no Sistema Integrado Nacional (SIN), assim como as outras operadoras do país. Dessa forma, para fazer alterações sobre a distribuição de energia, seria preciso uma revisão em legislações federais.
“É uma proposta para baratear a conta. Nós dependemos do governo federal, sim, do Congresso. Mas vamos trabalhar para isso”, admite o candidato do Novo.
Educação
Na área da educação, Zema defende a implemen-tação de um programa de bonificações por méritos aos professores — em detrimento do plano de carreira, que hoje estabelece aumento de ganho salarial por tempo de serviço e também por escolaridade.
Além disso, propõe que alunos com melhor desempenho sejam separados das classes em que estão estudantes com baixo índice de aprendizado.
“Não pode é o aluno que tem bom desempenho ficar preso, sendo puxado para trás, por aqueles que não querem nada com nada. Tem que mudar isso, fazer salas separadas. E também pretendo criar um cartão para que o estudante tenha acesso a benefícios extra-escolares”, diz o candidato do Novo.


Na corrida ao Palácio da Liberdade, faltam propostas concretas para déficit e previdência
Problema mais complexo do Estado atualmente, o déficit de R$ 5,6 bilhões — e que pode chegar à casa dos R$ 20 bilhões — aliado ao drama da previdência, que aumenta anualmente em R$ 16 bilhões o rombo das contas públicas, não receberam propostas específicas de ambos os candidatos.
Romeu Zema propõe reduzir as atuais 21 secretarias do governo para nove, como forma de enxugar a máquina pública. Entre os cortes, o candidato do Novo prevê a fusão das secretarias de esporte, cultura e educação, além de unificar a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) com a Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi).
“É preciso cortar 80% dos cargos comissionados também e acabar com o cabide de empregos no governo para garantir uma economia maior”, diz Zema.
O candidato do Novo é favorável à criação de um fundo complementar de previdência. Atualmente, o Estado arrecada R$ 6 bilhões e gasta R$ 22 bilhões com a folha de pagamento, sem conseguir fechar as contas.
Já o senador Antonio Anastasia (PSDB) pretende renegociar as dívidas com os fornecedores para tentar frear o déficit. Além disso, o tucano aposta que uma reforma da previdência em nível federal será alinhada com as reformas dos estados. Nesse âmbito, Anastasia concorda com Zema a respeito da criação de um fundo complementar de previdência.
“Obviamente, o direito adquirido do aposentado deve ser preservado. Essa reforma precisa ser feita de forma justa. A discussão tem que ser, em especial, para aqueles que ingressarem na administração pública doravante, considerando também a implantação da aposentadoria complementar, cuja adesão é facultativa”, diz o tucano.
Análise
Nesse cenário, o cientista político Eduardo Coutinho, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), analisa que, apesar de os programas de ambos os candidatos serem enraizados na esfera liberal, as diferenças entre os dois são grandes.
“O programa do Anastasia é mais cauteloso, não crava promessas ou soluções mágicas. Já o de Romeu Zema tem propostas mais incisivas e alinhadas a um estilo de privatização bem agressivo”, avalia.



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