Reino Unido
acusa a 'inteligência militar' russa por ataque contra ex-espião
Agence France Presse
De acordo com a
primeira-ministra britânica, Theresa May, restos do agente neurotóxico foram
encontrados no hotel dos russos acusados
O ataque com
Novichok contra o ex-espião russo Sergei Skripal na Inglaterra foi cometido por
agentes dos serviços russos de inteligência militar, disse a primeira-ministra
britânica na quarta-feira (5), depois que o Reino Unido emitiu mandados de
prisão contra dois cidadãos russos.
A Polícia britânica
anunciou a emissão de dois mandados de prisão contra dois cidadãos russos,
identificados como Alexander Petrov e Ruslan Bochirov, no âmbito do caso de
envenenamento por Novitchok contra o ex-espião russo Serguei Skripal e sua
filha, Yulia, na Inglaterra.
De acordo com a
primeira-ministra Theresa May, restos do agente neurotóxico foram encontrados
no hotel dos russos acusados. Ainda segundo a premiê, o ataque foi organizado
pela espionagem militar russa.
"Com base em
uma investigação das nossas agências de Inteligência, o governo concluiu que os
dois indivíduos apontados pela Polícia são oficiais dos serviços de
Inteligência militar russos, o GRU", afirmou Theresa May no Parlamento.
"Essa operação
foi quase certamente aprovada fora do GRU, em um nível elevado do Estado
russo", acusou May.
Os dois nomes são
considerados pseudônimos, declarou o chefe da seção de antiterrorismo, Neil
Basu, em entrevista coletiva.
"É possível que
esses não sejam seus nomes verdadeiros", embora "tivessem passaportes
russos emitidos com esses nomes", explicou Basu.
As autoridades
britânicas divulgaram as fotografias dos dois suspeitos e pediram a cooperação
da população para identificá-los.
"Se sabem quem
são e os conhecem com outro nome, por favor, manifestem-se", pediu o chefe
da Polícia.
"Estamos
perguntando às pessoas no mundo todo: vocês os reconhecem?", acrescentou.
Reação de Moscou
A Rússia reagiu
nesta quarta-feira (5), garantindo que não sabe quem são os dois acusados, e
denunciou uma "manipulação".
"Os nomes e as
fotografias publicados na imprensa não nos dizem nada", disse a porta-voz
do Ministério russo das Relações Exteriores, Maria Zakharova, citada pela
agência de notícias pública TASS.
Ela acusou o Reino
Unido de "manipular informação" e disse que não pedirá a extradição
de Petrov e de Boshirov, já que a Rússia deixou claro, em outras ocasiões, que
não extradita seus cidadãos.
Em 2007, Moscou se
negou a extraditar Andrei Lugovoi, principal suspeito do assassinato por
envenenamento radioativo do ex-espião russo Alexander Litvinenko, em Londres.
Em nota, a
Procuradoria britânica disse que há três acusações contra a dupla: conspiração
para cometer assassinato, tentativa de assassinato contra os Skripal e contra
um policial britânico contaminado após tê-los socorrido, além de uso e posse de
Novichok.
Segundo a Polícia,
ambos os suspeitos chegaram a Londres em 2 de março e, nessa mesma data,
pernoitaram em um hotel da capital britânica. No dia seguinte, viajaram para
Salisbury, localidade do sudoeste da Inglaterra onde Skripal morava.
"Acreditamos
que contaminaram a porta de entrada" da casa do ex-espião russo, em 4 de
março, acrescentou Basu.
Segundo a
investigação, os suspeitos deixaram o Reino Unido ainda nesse dia.
Crise diplomática
Skripal e sua filha
foram envenenados com Novichok, no início de março em Salisbury, uma tentativa
de assassinato que o governo britânico atribuiu à Rússia. Moscou nega
categoricamente qualquer envolvimento.
O caso deflagrou uma
grave crise diplomática entre a Rússia e os países ocidentais, a qual deu lugar
a expulsões cruzadas de diplomatas.
Hospitalizados em
estado crítico, Serguei e Yulia Skripal conseguiram sobreviver após
permanecerem várias semanas em tratamento intensivo em um hospital.
Em 30 de junho, um
casal de britânicos foi envenenado, após terem contato com o Novichok que
estava em um frasco. A mulher, Dawn Sturgess, de 44 anos, faleceu, mas seu
parceiro, Charlie Rowley, sobreviveu e se encontra hospitalizado em estado
"grave, mas estável".
No início de agosto,
os Estados Unidos anunciaram sua intenção de impor sanções econômicas à Rússia,
em consequência desse caso.
Essas sanções, que
entraram em vigor em 27 de agosto, afetam principalmente as exportações de
alguns produtos tecnológicos, como os aparelhos eletrônicos, e a venda de armas
para a Rússia. Em nome de "interesses de segurança nacional", porém,
Washington excluiu da lista outros tipos de produtos, assim como tudo
relacionado à cooperação espacial entre ambos os países.
Na época, um
funcionário americano de alto escalão considerou que essas sanções poderiam
custar "milhões de dólares" à economia russa.
O simples anúncio
dessa decisão provocou a queda dos mercados financeiros russos e de sua divisa,
o rublo.
A Rússia prometeu
tomar medidas de represália.
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