Lula, a grande
ausência no primeiro debate dos presidenciáveis
Agence France-Presse
Lula insistiu em
participar do debate por videoconferência de sua cela em Curitiba, mas a
Justiça lhe negou
O primeiro debate
televisivo das eleições presidenciais de outubro começou às 22h desta
quinta-feira (9) à sombra de um grande ausente: o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), favorito nas pesquisas de intenção de voto e preso desde
abril na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.
O evento foi
realizado na TV Bandeirantes, em São Paulo, com a participação de oito dos 13
aspirantes ao Palácio do Planalto que vão disputar a preferência do eleitorado
em 7 e outubro com eventual segundo turno no dia 28 daquele mês.
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Participaram do
debate o capitão do Exército na reserva Jair Bolsonaro (PSL) -
segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto em que Lula aparece como
favorito e primeiro em sua ausência - Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin
(PSDB), Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSOL),
Álvaro Dias (Podemos) e Cabo Daciolo (Patriota).
Lula insistiu em
participar deste primeiro encontro por videoconferência de sua cela em
Curitiba, onde cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva
e lavagem de dinheiro, mas a Justiça lhe negou nesta quinta este pedido.
O jornalista Ricardo
Boechat, moderador do programa, fez referência a esta situação no começo do
debate, mas não houve nenhuma outra alusão no tablado relativa à sua ausência.
Esta decisão
"viola o direito do povo brasileiro e também dos outros candidatos de
discutir as propostas da minha candidatura e até de me criticarem olhando na
minha frente, e eu tendo o direito de responder. O nome disso é censura",
disse Lula em carta enviada à emissora e publicada nas redes sociais.
'Debate' paralelo
nas redes sociais
Na mesma hora da
transmissão na Band, o Partido dos Trabalhadores organizou um debate paralelo
com Fernando Haddad, companheiro de chapa do ex-presidente (2003-2010), transmitido
pelas redes sociais.
Com assistência de
pouco mais de 7.000 pessoas, estão ao lado de Haddad, a presidente do PT,
Gleisi Hoffmann, e Manuela D'Ávila (PCdoB), que será vice de Haddad se ele
substituir Lula - cuja candidatura muito provavelmente será impugnada segundo a
Lei da Ficha Limpa.
As discussões
paralelas, transmitidas ao vivo em contas de Lula nas redes sociais, "não
[estarão] necessariamente vinculados aos mesmos temas" da Band, informou à
AFP uma assessora de comunicação do PT.
Haddad e seus
interlocutores vão abordar "temas de interesse público, como segurança,
saúde e emprego", informou.
Lula foi condenado
como beneficiário de um apartamento tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo,
que teria recebido da empreiteira OAS em troca de facilidades em contratos com
a Petrobras. Mas o líder histórico da esquerda brasileira, que tem um terço das
intenções de voto, se declara inocente e denuncia uma conspiração
político-judicial para impedi-lo de retornar ao poder.
Uma dezena de
juristas europeus, entre eles o juiz anticorrupção espanhol Baltasar Garzón,
que se tornou célebre por prender o falecido ex-ditador chileno Augusto
Pinochet, expressou preocupação pelas irregularidades da condenação de Lula, em
carta dirigida nesta quinta-feira à presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), Cármen Lúcia.
O PT vai inscrever
formalmente a candidatura de Lula em 15 de agosto, último dia do prazo legal, e
planeja reunir milhares de simpatizantes em Brasília neste dia para dar seu
apoio ao líder histórico do partido.
Nas eleições de
outubro também serão eleitos os 27 governadores, 513 deputados e dois terços do
Senado, que tem um total de 81 assentos.
Os debates,
juntamente com o tempo de propaganda gratuita de rádio e televisão a partir de
31 de agosto, e os recursos eleitorais que são distribuídos de acordo com o
tamanho dos partidos e coalizões, são chave para o desempenho dos candidatos.
Pessimismo
Os financiamentos empresariais estão proibidos nestas eleições e os aportes pessoais, limitados, em função da legislação aprovada como resposta aos escândalos que sacudiram nos últimos anos as bases da democracia no país, como o revelado pela Operação Lava Jato, que descobriu um enorme esquema de propina centrada na Petrobras.
Os financiamentos empresariais estão proibidos nestas eleições e os aportes pessoais, limitados, em função da legislação aprovada como resposta aos escândalos que sacudiram nos últimos anos as bases da democracia no país, como o revelado pela Operação Lava Jato, que descobriu um enorme esquema de propina centrada na Petrobras.
Uma pesquisa
divulgada este mês pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que 45%
dos brasileiros se declaram "pessimistas ou muito pessimistas" com
relação às eleições e que 33% dos eleitores votariam em branco.
Outras duas
consultas mostram que de 33% a 41% dos eleitores estão tentados a se abster de
votar.
Ultimamente, a crise
e os escândalos corroeram a hegemonia das forças que dominaram as disputas
políticas nos últimos 24 anos: o PT de Lula e o PSDB de Alckmin, com o apoio do
MDB de Temer, imprescindível para formar maiorias no Congresso.
Mas no seu lugar,
"ao contrário do que acontece em outros países, não apareceram no Brasil
lideranças novas que poderiam surfar a onda do descontentamento popular",
explicou à AFP o cientista político Matias Spektor. "O sistema político brasileiro
continua gerando muita frustração".
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