terça-feira, 14 de agosto de 2018

EX-ASSESSORA ACUSA TRUMP DE RACISTA


Ex-assessora de Trump divulga gravação da própria demissão e ameaça revelar mais

Estadão Conteúdo








Omarosa foi uma firme defensora de Trump por anos, inclusive ao rejeitar acusações de que ele seria racista, enquanto era a afro-americana de cargo mais alto na Casa Branca

A ex-assessora do gabinete presidencial americano, Omarosa Newman, divulgou uma gravação de áudio nesta segunda-feira (13) na qual estaria registrada uma conversa sua com o presidente Donald Trump enquanto ela ameaçava denunciar a corrupção na Casa Branca.

O áudio, transmitido no programa "Today", do canal NBC, seria de um diálogo por telefone ocorrido após a demissão de Omarosa. Na gravação, Trump parece demonstrar surpresa, dizendo que não havia sido informado sobre seu afastamento.

Omarosa tem sido criticada pelos aliados de Trump e especialistas em Segurança Nacional pelas gravações que fez na Casa Branca. Um dos registros foi o do momento de sua demissão pelo chefe de gabinete John Kelly, na Situation Room (a sala de reuniões de Inteligência no porão do ala Oeste da Casa Branca).

Apesar de a gravação divulgada nesta segunda-feira demonstrar que Trump não sabia da demissão, Omarosa afirmou acreditar que o presidente teria instruído Kelly a demiti-la, mas não forneceu provas sobre isso.

O porta-voz da Casa Branca Hogan Gidley disse nesta segunda-feira que não vai discutir sobre "quem sabe o quê ou quando, mas o presidente toma as decisões".

Corrupção.
O livro de Omarosa, "Desequilibrado", lançado nesta semana, sugeriu que há mais por vir. "Há muita corrupção acontecendo na Casa Branca e eu vou apontar muitos casos."

O advogado de Trump, Rudy Giuliani, disse no programa Fox and Friends, do canal Fox, que Omarosa pode ter violado a lei ao gravar conversas particulares na Casa Branca. "Ela certamente está violando os regulamentos de Segurança Nacional, que eu acho que têm força de lei", declarou.

No domingo 12, Omarosa disse ao programa "Meet the Press", da NBC, que gravou várias conversas na Casa Branca para sua própria proteção. Partes de sua conversa com Kelly foram reproduzidas no ar.

Críticos denunciaram as gravações como uma grave violação de ética e segurança. "Quem em sã consciência acha apropriado registrar secretamente o chefe de gabinete da Casa Branca na Situation Room?", tuitou Ronna McDaniel, presidente no Comitê Nacional Republicano.

Na gravação, frequentemente citada no livro "Desequilibrado", Kelly pode ser ouvido dizendo a Omarosa que quer falar com ela sobre como deixar a Casa Branca. "Chegou à minha atenção nos últimos meses que tem havido alguns problemas de integridade significativos relacionados a você", disse ele, citando o uso de Omarosa de veículos do governo, "questões monetárias e outras coisas". Na conversa, os atos da ex-assessora são comparados a ofensas que, nas Forças Armadas, podem levar ao julgamento em corte marcial.

"Se nós fizermos desta uma partida amigável... você pode ver o seu tempo aqui na Casa Branca como um ano de serviço à nação, e então pode sair com nenhum tipo de dificuldade no futuro em relação à sua reputação", disse o chefe de gabinete, à ex-assessora, segundo a gravação. "Houve questões legais sérias que foram violadas", afirmou.

Omarosa disse ter tomado a conversa como uma "ameaça" e defendeu sua decisão de gravá-la secretamente, assim como outras conversas na Casa Branca. "Se eu não tivesse essas gravações, ninguém na América acreditaria em mim", disse.

Reação.
A resposta da Casa Branca foi forte. "A própria ideia de um funcionário infiltrar um dispositivo de gravação na Situation Room da Casa Branca mostra um flagrante desrespeito à nossa Segurança Nacional. Se gabar disso depois na televisão prova a falta de caráter e integridade dessa ex-funcionária da Casa Branca", disse a secretária de Imprensa, Sarah Huckabee Sanders, em comunicado.

A Situation Room é uma Instalação de Informação Sensível Compartimentada (SCIF, na sigla em inglês), onde as decisões de política externa mais importantes do país são tomadas, e os funcionários não podem entrar com celulares ou outros dispositivos de gravação. "Eu nunca ouvi falar de uma quebra de protocolo mais séria", disse Ned Price, que serviu como porta-voz do Conselho de Segurança Nacional durante a administração Obama. "Não apenas não é típico. É algo sem precedentes."

Price disse que não existe uma equipe para a verificação dos dispositivos na porta, mas há uma placa do lado de fora da sala, deixando claro que dispositivos eletrônicos são proibidos. "A Situation Room é o santuário mais interno de um campo seguro", disse, descrevendo a violação como parte de uma cultura de desconsiderar protocolos de Segurança da Casa Branca praticada pelo governo Trump. Ele também questionou por que Kelly escolheria a sala para ter a reunião sobre a demissão da ex-assessora.

No livro, que será lançado nesta terça-feira, Omarosa apresenta um retrato condenatório de Trump, incluindo alegações, sem provas, de que existem fitas dele usando a palavra "nigger", de cunho altamente racista, durante filmagens do reality show O Aprendiz, do qual ela participou. A Casa Branca havia tentado desacreditar o livro anteriormente, quando a porta-voz Sarah o caracterizou como "cheio de mentiras e falsas acusações".

Katrina Pierson, conselheira para a campanha de reeleição de Trump, que serviu como sua porta-voz em 2016, disse que nunca ouviu Trump usar o tipo de linguagem depreciativa que Omarosa descreve. Ela afirmou, em comunicado, que sente "pena por Omarosa quando ela se constrange ao criar mentiras e distorções lascivas só para tentar ser relevante e se enriquecer ao vender livros às custas da verdade".

A conselheira da Casa Branca, Kellyanne Conway, também questionou a credibilidade de Omarosa em uma entrevista à revista This Week. "A primeira vez que ouvi Omarosa sugerir essas coisas terríveis sobre o presidente foi neste livro", disse, acrescentando que a ex-assessora tinha feito uma "avaliação brilhante de Donald Trump, o homem de negócios, a estrela do Aprendiz, o candidato e, de fato, o presidente dos Estados Unidos".

Omarosa foi uma firme defensora de Trump por anos, inclusive ao rejeitar acusações de que ele seria racista, enquanto era a afro-americana de cargo mais alto na Casa Branca. Mas agora ela diz que foi "usada" por Trump, chamando-o de "vigarista" que "fingiu ser alguém realmente aberto ao engajamento com diversas comunidades", mas que é "verdadeiramente um racista".

"Eu fui cúmplice desta Casa Branca enganando esta nação", disse. "Eu tinha um ponto cego quando se tratava de Donald Trump".

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