Ministro
britânico para o Brexit renuncia, um golpe para May
Agence France-Presse
"A
direção-geral da política nos deixará, na melhor das hipóteses, em uma posição
frágil de negociação", disse Davis
O ministro britânico
para o Brexit, David Davis, renunciou ao cargo neste domingo, (8), um duro
golpe para a premiê, Theresa May, que tenta unir seu partido em torno de um
plano para manter fortes laços econômicos com a União Europeia após sair do
bloco.
"A
direção-geral da política nos deixará, na melhor das hipóteses, em uma posição
frágil de negociação", disse Davis, em carta dirigida a May.
Em sua primeira
entrevista após a demissão, Davis afirmou à rádio BBC que não pretendia
provocar a queda de May, nem liderar um levante.
"É uma boa
primeira-ministra", declarou Davis, embora tenha manifestado a esperança
de que sua renúncia sirva para "pressionar para que não se façam mais
concessões" a Bruxelas.
Segundo a imprensa
britânica, também se demitiu o secretário de Estado para o Brexit, Steve
Baker.
As duas renúncias
ocorrem dois dias depois de o Executivo aprovar um plano para desbloquear as
negociações com Bruxelas.
Para Davis, o plano
"fará com que o suposto controle do Parlamento seja mais uma ilusão que
uma realidade".
E foi especialmente
crítico à proposta de um "regulamento comum" para permitir o livre
comércio de bens, ao considerar que "se entrega à UE o controle de amplos
setores da nossa economia, e claramente não nos devolve o controle de nossas
leis em nenhum sentido real".
Para Davis, seu
cargo demandaria que fosse "um entusiasta, crente do enfoque" de May,
"e não só um recruta reticente".
May respondeu em uma
carta que seu plano para o Brexit "significará, sem dúvida, o retorno de
poderes de Bruxelas ao Reino Unido" e que está em linha com seu
compromisso de abandonar o mercado único europeu e a união alfandegária.
"Gostaria de
agradecê-lo sinceramente por tudo o que fez nos dois últimos anos como ministro
para dar forma à nossa saída" da União Europeia, disse May.
- Brexit só "no
nome" -
Davis, um eurocético de longa data, foi designado há dois anos para dirigir o recém-criado Departamento para a Saída da União Europeia depois que os britânicos votaram em um referendo a favor de deixar o bloco.
Davis, um eurocético de longa data, foi designado há dois anos para dirigir o recém-criado Departamento para a Saída da União Europeia depois que os britânicos votaram em um referendo a favor de deixar o bloco.
Tornou-se a face do
Brexit, ao liderar as delegações britânicas nas conversações com Bruxelas,
ainda que seu papel tenha sido ofuscado nos últimos meses, à medida que May e
seus assistentes assumiam um papel maior na estratégia de negociação.
O ministro, de 69
anos, teria supostamente ameaçado se demitir várias vezes por considerar que a
posição britânica não era firme o suficiente, mas em público sempre se manteve
leal à primeira-ministra.
May tem previsto
discursar no Parlamento na segunda-feira para explicar seu plano de que o Reino
Unido adote normas europeias sobre o comércio de bens, o que irrita os
deputados de seu próprio partido, que querem uma ruptura clara com a Europa, e
os empresários, que acreditam que a proposta ainda provocará prejuízos
econômicos.
O deputado
conservador Peter Bone avaliou que Davis "fez o certo", ao considerar
que as propostas de May não tinham de Brexit "mais que o nome" e que
"não são aceitáveis".
Ian Lavery,
presidente do Partido Trabalhista, principal partido da oposição, considerou
que "isto é um caos absoluto e Theresa May não tem mais autoridade".
O plano de May
previa a criação de uma zona de livre comércio de bens com a UE, o que serviria
para proteger alguns setores, como o manufatureiro, ao mesmo tempo em que se
mantém a flexibilidade para o setor de serviços, dominante no Reino Unido.
Não está claro se
Bruxelas vai aceitar este plano, depois de ter advertido repetidamente o Reino
Unido que não pode escolher algumas partes do mercado único.
Davis, de 69 anos, é
um velho conhecedor da política britânica. Foi secretário de Estado para
Assuntos Europeus entre 1994 e 1997, e em 2005 se apresentou à direção do
Partido Conservador, mas foi derrotado por David Cameron.
Durante a campanha
para o referendo sobre o Brexit, foi um claro defensor da saída britânica da
UE.
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