sexta-feira, 15 de junho de 2018

NEM A COPA DO MUNDO NA RÚSSIA ESQUENTA A ECONOMIA BRASILEIRA


Greve, Copa e incerteza política desaceleram a economia brasileira

Agence France Presse









Embora o comércio relacionado à Copa costume gerar lucros, nesta edição as expectativas são singelas

A greve dos caminhoneiros em maio e a Copa do Mundo contribuíram para a desaceleração econômica no Brasil, e a perspectiva de uma melhoria se afasta faltando quatro meses para eleições marcadas pelas incertezas.
Com a greve dos caminhoneiros, o Brasil teve "uma perda total e irrecuperável" de R$ 40 bilhões, disse à AFP Gilberto Luiz do Amaral, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).
De acordo com a entidade, o governo deixou de arrecada R$ 5,8 bilhões devido ao movimento, que paralisou por mais de uma semana o país.
O governo estimou o impacto em 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB), considerando apenas a redução da produção.
Em 2017, o Brasil conseguiu sair da recessão, registrando crescimento de 1%.
Governo e mercado previam uma expansão de 3% para este ano, mas nos últimos meses essas expectativas despencaram. Agora, os economistas mais otimistas projetam crescimento de 2% do PIB.
A greve provocou "uma redução da oferta, com a consequente alta de preços" e poderia repercutir nas exportações, embora ainda não se saiba se os efeitos serão de curto ou longo prazo", disse Fernando de Holanda Barbosa Filho, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Desânimo
O efeito da Copa do Mundo na produtividade já tinha sido incorporado pelas empresas e governos, que nos dias com jogos da seleção vão liberar funcionários por algumas horas.
Embora o comércio relacionado à Copa costume gerar lucros, nesta edição as expectativas são singelas.
Diante da crise e de denúncias de corrupção, a torcida brasileira não se animou. Segundo uma pesquisa do Datafolha, o número de pessoas desinteressadas pela Copa aumentou de 42% para 53% em maio.
Soma-se ao desânimo "a angústia da eleição", disse Barbosa. Não se sabe "quem serão os candidatos e quais são suas chances", acrescentou.
Nenhum dos favoritos no pleito se mostra comprometido com as medidas de ajuste fiscal reclamadas pelos mercados financeiros.
O nervosismo chegou ao ápice na semana passada, quando a Bolsa recuou 5,6% e o dólar beirou os R$ 4 pela primeira vez em dois anos, antes de cair a R$ 3,70, graças às intervenções do Banco Central.
A dívida pública bruta brasileira aumentou de 52% do PIB no fim de 2014 para 75,9% em abril deste ano. Segundo o FMI, se não forem tomadas medidas para alterar essa trajetória, ela poderia alcançar 100% em meados da próxima década.
Criticado pelas concessões feitas aos caminhoneiros, o governo não demostra grande força política para  os próximos meses até o fim do mandato, em 1º de janeiro.
Temer "é um presidente fraco e incapacitado", que sofre uma "enorme pressão da sociedade para reduzir os preços" dos combustíveis, afetados ainda pela desvalorização do real, disse Barbosa.
A moeda brasileira se depreciou cerca de 12% em relação ao dólar neste ano.
"A transição para 2019 é extremamente preocupante, pois o novo governo não terá o apoio popular e político para efetuar as profundas reformas que o país tanto necessita", afirmou Amaral, que ainda demonstrou otimismo: "apesar de tudo, a economia brasileira manterá o seu ritmo de recuperação".

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