Mineiros
tentam montar rede de apoio nos EUA para resgatar crianças de Cuparaque
Cinthya Oliveira
Criança hondurenha
desenha em Brownsville (Texas), após ser impedida de entrar nos Estados Unidos
Entre as
51 crianças e adolescentes brasileiros que permanecem separadas dos pais,
em abrigos dos Estados Unidos, estão quatro moradores de Cuparaque, pequena
cidade do Vale do Rio Doce. Três deles, de 16, 10 e 8 anos, tentararam
atravessar a fronteira do México com a mãe, há cerca de quatro
semanas, quando foram separados por causa da política de tolerância zero
imposta pelo presidente Donald Trump aos imigrantes ilegais. Outro caso
refere-se a um menino de 9 anos, que está em um abrigo perto de Houston,
enquanto sua mãe teve liberdade condicional concedida no estado de
Massachusetts.
De acordo com
Wanderley Faustino, vereador do município, os moradores de Cuparaque têm
movimentado seus contatos nos Estados Unidos para conseguir ajudar uma das mães
a rever os três filhos. “Muitas vezes, as pessoas viajam para os Estados Unidos
em completo sigilo. Só ficamos sabendo quando a pessoa já está lá. Assim que
souberam desse caso, os moradores se mobilizaram para tentar conseguir um
advogado para essa mãe”, conta o vereador.
O Hoje em
Dia conversou com uma cunhada da mãe das três crianças, que pediu para
não ter o nome publicado. Ela relatou que os parentes que estão nos Estados
Unidos estão trabalhando para levantar a documentação necessária para tirar os
pequenos do abrigo. Uma tia deve abrigá-los em Boston, cidade que agrega uma
grande comunidade brasileira.
Já o menino de
9 anos que se encontra em um abrigo em Houston deve
se reencontrar com a mãe ainda nesta semana. Segundo o cônsul-geral
adjunto do Brasil em Houston, Felipe Santarosa, a assistente social
do abrigo está providenciando os papéis para poder promover o reencontro da
família. A mãe, que está em liberdade condicional em cidade de
Massachussetts, aguarda o processo que definirá se ela deve ser deportada.
De acordo com o
Ministério das Relações Exteriores, 51 brasileiros menores de idade estão
em abrigos norte-americanos, mas não é possível saber quantos deles são de
Minas Gerais, já que não há uma diferenciação por naturalidade. A assessoria de
imprensa do ministério informa que três crianças estariam na iminência de sair
do abrigo, pois a mãe teria conseguido a permissão para que eles fiquem na casa
de uma tia em Tucson, no Estado do Arizona. A pasta, porém, não confirma se
esse caso se refere a crianças de Cuparaque.
Cultura da imigração
Com menos de 5 mil
habitantes e com uma economia voltada para o agronegócio, Cuparaque fica em uma
região onde muitos moradores imigram para viver o “sonho americano”. Cidades
vizinhas, como Conselheiro Pena (terra natal de três mineiros que morreram ano
passado tentando fazer a travessia do deserto mexicano até a fronteira) e
Mantenópolis (ES), vivem a mesma realidade.
“Cada família tem
pelo menos um membro nos Estados Unidos. Normalmente, as pessoas conseguem
entrar no país. Mesmo quando são presas, pagam fiança e esperam pelo processo.
Esse foi o primeiro caso de história triste com moradores da cidade que
tentaram imigrar”, diz a prefeita de Cuparaque, Mônica Balbino.
Ela conta que
conhece bem a família das três crianças que estão vivendo o drama da
separação nos EUA e que convivia diariamente com a mãe das crianças
no ambiente da paróquia Sagrado Coração de Jesus. “Ela não nos contou nada.
Quando ficamos sabendo, eles já tinham viajado. Acreditávamos que estavam
presos juntos, mas soubemos pela imprensa que a mãe ficou separada quilômetros
dos filhos”,relata a prefeita. “Esperamos que haja uma atitude por parte do
governo americano, porque a gente imagina que as crianças, especialmente as
menores, estão vivendo um grande sofrimento”.
Para o vereador
Wanderley Faustino, o presidente Donald Trump conseguiu atingir o ponto fraco
das famílias que fazem a travessia. “As pessoas saem daqui para enfrentar
grandes perigos na fronteira. Mas agora, ao separar as crianças das mães, o
governo americano atingiu um ponto fraco das famílias, para amedrontar quem
pensa em imigrar”.
No Texas, moradores protestaram contra a política de Trump
Tolerância zero
Desde abril deste
ano, milhares de famílias que tentaram entrar ilegalmente nos Estados Unidos
acabaram afastadas de seus filhos. Estima-se que mais de 2 mil crianças foram
afetadas pela medida adotada pelo governo Trump, que, diante de críticas
oriundas de vários países e do Escritório de Direitos Humanos da Organização
das Nações Unidas, ordenou, na última quinta-feira (21), que as famílias fossem
reunidas.
A questão deve ser
um dos assuntos debatidos entre o presidente Michel Temer e o vice-presidente
norte-americano, Mike Pence, que visita Brasília nesta terça-feira (26).
Segundo o Ministério
das Relações Exteriores – Itamaraty, o governo brasileiro acompanha com muita
preocupação o aumento de casos de menores brasileiros separados de seus pais ou
responsáveis que se encontram sob custódia em abrigos nos Estados Unidos, “o
que configura uma prática cruel e em clara dissonância com instrumentos
internacionais de proteção aos direitos da criança”.
O Itamaraty orientou
os consulados do Brasil nos Estados Unidos a reforçarem as medidas que já vêm
sendo adotadas nos últimos anos para a proteção consular aos menores de
nacionalidade brasileira, entre as quais: mapeamento de todos os abrigos ao
redor do país para a identificação de novos casos; intensificação do monitoramento
e da assistência consular aos menores, com visitas regulares; orientação a pais
ou responsáveis de ações legais que podem ser impetradas com vistas à
recuperação da guarda e reunificação familiar; realização de campanhas de
esclarecimento, em coordenação com os conselhos de cidadãos brasileiros nos
Estados Unidos, sobre os riscos da travessia pela fronteira, em especial com
menores de idade; coordenação e intercâmbio de informações com as repartições
consulares dos demais países emissores de emigrantes. (Com informações
da Agência Brasil)
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