O país que aí está
Manoel Hygino
A greve dos
caminhoneiros incomoda o Brasil há vários dias, gerando repercussão altamente
perniciosa aos que vivem neste país. Mais do que incomodar, causa prejuízos à
confiança em quantos insistem em depositar boas expectativas sobre nosso
futuro. O presente está aí, escancarado e doloroso, para quem atravessa tão
tormentoso período, que poderia ser de tranquilidade e de realizações.
Tantos dias passados
do início do movimento que paralisou o país, ele nos lembra, por óbvios
motivos, como assinalei em escritos anteriores, aquele que resultou no relato
de John Reed. O livro recebeu o título de “Dez dias que abalaram o mundo”,
transformado em filme, enquanto se sepultava o corpo do autor junto ao de
Lênine na base do Muro Vermelho do Kremlin.
Outras
personalidades certamente estão, neste momento, descrevendo as dificuldades
remanescentes da paralisação de maio; quando não a angústia da nação, com mais
de 8 milhões e 500 mil quilômetros quadrados e enfrentando a borrasca, embora
pudesse oferecer a seu povo paz e felicidade.
Mais de um século
transcorrido, o Brasil vive problemas que já deveriam inexistir, tantos os
exemplos que se colhessem no desenrolar da história, mas não o foram. No
instante em que redijo estas mal traçadas linhas, o país segue parado,
frustrando os que se esforçam para dar sequência à construção de um lugar
melhor para viverem as vindouras gerações.
Oxalá não tenha êxito
os inúmeros aproveitadores da situação, de todas as procedências e tendências.
Porque milhões de trabalhadores se encontram ociosos, enfrentando vicissitudes
sem encontrar meios de sustentar-se e à família.
]Somente agora se
desperta para a dura realidade, para as causas múltiplas que geraram o caos
anunciado e pressentido. A palavrinha de quatro letras – Caos – passou a fazer
parte das manchetes das folhas que circulam, porque os patrícios que circulam
pelas rodovias ou ruas já o padecem no sacrificado cotidiano.
Monteiro Lobato e os
remanescentes da antiga luta do “Petróleo é nosso” devem sentir-se frustrados,
porque o ouro negro, fator de progresso, resultou em inquietação. Esta poderia
conduzir a desvios gravíssimos de conduta dos que não estão “nem aí” para os
superiores interesses da pátria. Aliás, uma palavra pouco utilizada em tempos
mais recentes.
Escondeu-se a
verdadeira face do problema do petróleo. Se era fator de esperança, chegou a
quase desastroso, pela insânia voraz dos maus brasileiros que não podem ver uma
porta de cofre aberta
No domingo, 27 de
maio, gente de todos os recantos se perguntava como seria o dia seguinte,
diante da falta de meios de transporte e de combustíveis. Os médicos poderiam
ir aos hospitais? E a enfermagem? E o bancário ou balconista? Domingo, em
muitas cidades, não houve veículos coletivos. Mas era um dia para descanso. O
seguinte, contudo, trabalho. Como fazer? Para Antônio Machado, omite-se
presentemente, “a captura do Estado por oportunistas de todo tipo”.
Darcy Ribeiro
dissera: “não gostamos do Brasil que aí está, tão espoliado pelos ricos e tão
sofrido pelos pobres”.
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