O cinema perde
Roberto Farias
Paulo Henrique Silva
EMBRAFILME – O
cineasta teve importante papel na construção de políticas para o setor, quando
esteve à frente da estatal
Falecido ontem, aos
86 anos, de causas ainda não divulgadas, Roberto Farias alcançou um feito único
entre os cineastas brasileiros ao imprimir a sua marca tanto em filmes
fundamentais na cinematografia do país quanto na articulação de uma política
para o setor.
O realizador nascido
em Nova Friburgo, no Rio de janeiro, inovou ao investir no gênero policial em
“Assalto ao Trem Pagador” (1962), baseado num caso verídico ocorrido dois anos
antes, tanto ao acentuar elementos realistas nas cenas de ação quanto na caracterização
social dos personagens.
A versatilidade
marcou o trabalho de Farias na direção, começando no seminal estúdio Atlântida,
na década de 1950. Lá dirigiu chanchadas como “Rico Ri à Toa” (1957) e “Um
Candango na Belacap” (1960).
No gênero policial,
fez “Cidade Ameaçada” (1960), também inspirado em fatos reais, sobre grupos de
criminosos. “Cidade Ameaçada” também marcou a sua primeira parceria com o irmão
Reginaldo Faria, com quem formaria mais tarde um dos mais poderosos clãs do
cinema nacional, completado por Riva, outro irmão, e pelos filhos Lui Farias,
Mauro Farias e Maurício Farias.
Com Reginaldo fez
ainda “Pra Frente Brasil” (1982), outro trabalho importante ao abordar as
torturas ocorridas no governo militar quando a ditadura ainda não havia se encerrado
(o que aconteceu somente em 1985). O filme ainda se destaca por ressaltar a
utilização do futebol como forma propaganda política e social.
Altas bilheterias
Curiosamente, foi
durante o período ditatorial que Farias encabeçou um dos melhores momentos do
cinema nacional em termos de mercado. Entre 1974 e 1978, como presidente da
estatal de cinema Embrafilme, levou a autarquia à participação efetiva na
lógica da indústria cinematográfica, como distribuidora de filmes.
Desta forma, ele
garantiu presença em toda a cadeia produtiva do cinema, batendo de frente com
as produções de Hollywood. Neste período, os longas do país chegaram a uma
fatia de 33% no número de ingressos vendidos, tendo como símbolo desse sucesso
a bilheteria histórica de “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976).
A visão estratégica
de cinema também estava na escolha de seus filmes. Farias farejava o sucesso
comercial ao filiar-se a ícones como o cantor
Roberto Carlos (numa
trilogia realizada no final dos anos 60 e início dos 70, no auge da Jovem
Guarda) e o piloto Emerson Fittipaldi (com o documentário “O Fabuloso
Fittipaldi”, de 1973).Também dirigiu um filme dos Trapalhões (“Os Trapalhões no
Auto da Compadecida”, de 1986) chancela que era garantia de lucro nas décadas
de 1970 e 1980.
Com a interrupção da
produção após a extinção da Embrafilme, passou a se dedicar à TV, assinando
minisséries como “Memorial de Maria Moura” (1994) e episódios de “Você Decide”.
Mesmo debilitado,
ele foi reeleito para a presidência da Academia Brasileira de Cinema (ABC), no
mês passado. Farias foi um dos fundadores da associação e a dirigiu nos últimos
11 anos. Em 2012, ele veio a Ouro Preto para participar da CineOP como um dos
homenageados do evento, ao lado de Reginaldo Faria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário