Por que somos tão supersticiosos?
Simone
Demolinari
Se estamos prestes a
receber uma boa notícia tentamos manter sigilo temendo “olho gordo”. Se
pensamos em algo que remete ao azar, batemos na madeira para isolar o mal. Se
falamos na possibilidade de ocorrer uma tragédia, logo dizemos: “vira essa boca
pra lá”.
Além disso, muitas
pessoas evitam passar debaixo de uma escada, evitam o número treze, gostam de
pisar com o pé direito, jogar moeda numa fonte e fazer um pedido. Há também
alguns objetos inicialmente neutros, mas que ganham status de poder: olho grego,
figa, ferradura, elefante, pé de coelho, uns para dar sorte, outros para evitar
mau olhado.
A lista de
superstição é grande. No futebol então, nem se fala. Até aqueles que dizem não
acreditar, quando se trata do time preferido, acabam caindo nas crendices.
E isso não é coisa
só da nossa cultura. A superstição está espalhada por todo lado. Na França, por
exemplo, as pessoas acreditam que colocar um pão de cabeça para baixo traz azar
e infelicidade para família. Nos Estados Unidos, os recém-casados costumam
guardar a parte de cima do bolo no congelador para comê-lo um ano após o
casamento. No México, parte da população acredita que, se você derrubar uma
tortilha, vai ter que conversar por longas horas com uma pessoa chata e muitos
europeus também carregam avelãs no bolso para evitar o envelhecimento precoce.
Os relatos podem
parecer exagerados ou até uma bobagem, mas o fato é que as superstições existem
há séculos e dificilmente irão acabar. Isso porque elas estão sustentadas por
duas forças muito poderosas: a fragilidade humana e o desejo de controle.
Por mais que nos
percebemos fortes, temos que lidar com algumas fragilidades inerentes à nossa
existência, como por exemplo os medos que permeiam o campo da doença, amor e
dinheiro. Nos sentimos tão inseguros que tentamos, de alguma forma, atenuar
esse sentimento através de alguma ação, nem sempre concreta. Não é a toa que
muitas pessoas quando recebem um diagnostico de doença grave, dão logo um jeito
de fazer uma “promessa” em troca da cura.
No amor não é diferente,
tudo que possa fornecer o mínimo de garantia, é bem vindo. Vale lembrar dos
“cadeados do amor eterno” espalhados pela cidade de Paris. Reza a lenda que se
colocar um cadeado, com os nomes gravados, nas grades da ponte e jogar a chave
no rio Sena, os amantes estarão unidos em compromisso eterno.
A única forma de
quebrar o pacto é encontrar a chave do cadeado no rio e destrancá-lo, ou seja,
sem chance de reversão. A superstição ganhou tantos adeptos que a ponte não
aguentou o peso e caiu no rio juntamente com os cadeados. Os amantes adoraram,
pois se sentiram mais amarrados ainda.
A fragilidade humana
atrelada ao desejo de controle, faz com que o indivíduo não só acredite em
superstição, como também pague quantias exorbitantes a videntes na tentativa de
obter informações privilegiadas sobre o futuro.
A verdade é que não
suportamos a ideia de não termos controle total sobre nossa vida.
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