Os cem anos da Revolução
Manoel Hygino
Há pouco,
realizou-se a eleição presidencial na Rússia e Vladimir Putin superou os 69%
das intenções de voto, de acordo com o último levantamento oficial autorizado
antes da votação. O candidato comunista Pavel Grudnin alcançaria de 7% a 8%; o
ultranacionalista Vladimir Zhirnovsky, de 5% a 6%; a jornalista liberal Xenia
Sobchak, entre 1% e 2%; e o liberal Gregori Yalinski e o nacionalista Sergei
Baburin, idem.
O pleito não
despertou interesse maior dos partidos comunistas do mundo e de seus ainda
adeptos ou simpatizantes. Transcorrido um século do início da Revolução Russa,
o interesse entre os defensores das ideias de Marx e de Lenin e do conflito não
se mostram muito atentos, pelo menos aparentemente. A Revolução, que durou três
anos e pôs fim à monarquia de Nicolau II, deixou um saldo de seis milhões de
mortos, vítimas de massacres, fome e epidemia. Calcula-se que 1,5 milhão de
russos abandonaram o país durante o período, que culminou com a assunção no
poder dos bolcheviques.
A história da
Rússia, desde seus primórdios remotos até hoje, e a mais fascinante que há,
segundo o professor Falcionelli, da Universidade de Mendoza, na Argentina, eu
concordo plenamente. Alan Moorehead, autor inglês, em sua história da Revolução
Russa, a seu turno, opina que “não existe sobre a terra assunto mais
controvertido e o transcurso de quase meio século (quando ele publicou sua
obra) não conseguiu abrandar os fortes sentimentos, as dissensões e aos
desentendimentos entre os que viviam na Rússia naquela época. Muitas vezes fatos
comuns são objeto de discussão entre testemunhas oculares e historiadores que
se colocam em campos opostos e até mesmo os mais dedicados estudiosos discordam
em questão de interpretação”.
O quadro de hoje foi
amainado, mas o tempo é ainda muito curto para uma interpretação desapaixonada
e objetiva. Sem embargo, o registro se tem de fazer, embora tantas e tamanhas
as diferenças entre 1917 e 2017.
Moorehead faz
questão de enfatizar a importância da Alemanha no processo de preparação para o
movimento. É objetivo: “os alemães haviam tido estreitas relações com os
partidos revolucionários russos a partir de 1915. Revoluções custam dinheiro e
a revolução russa foi um negócio demorado. Onde Lenin e seus amigos acharam o
dinheiro de que precisavam?
Resposta mais clara
foi procurada tenazmente pelo doutor Stephe T. Possony, professor de relações
internacionais da Universidade de Georgetown, que empreendeu um minucioso
estudo com um grupo de pesquisadores, seus discípulos. O assunto era de notório
e amplo interesse, levando os Estados Unidos a uma definição de sua política
mundial depois da 1ª Grande Guerra.
Chegou-se a
conclusões até certo ponto inesperadas. Entre elas, de que a ascensão dos
nazistas na Alemanha esteve intimamente relacionada com a herança que Lenin
deixara. “Justifica-se: sem as garantias de apoio dadas por Stalin, Hitler
dificilmente teria ousado mergulhar o mundo em outro terrível conflito em
1939”. Acrescenta o historiador: “os atuais compromissos dos Estados Unidos na
Europa e no Extremo Oriente, a queda da China, a Guerra Fria, os acontecimentos
os da Coreia, a crise econômica no Oriente Médio, a corrida dos projéteis
deferidos – tudo isso teve sua origem na tempestade que derrubou o Czar, em
Petrogrado, em 1917”.
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