Polêmica sobre
morte de JK volta à tona
Filipe Motta
Opala que
transportava o ex-presidente JK teria sido atingido por um ônibus
A morte do
ex-presidente Juscelino Kubitschek pode ter sido um “atentado político”. É o
que afirma o relatório final da Comissão da Verdade em Minas Gerais (Cevemg),
que será apresentado hoje, às 9h30, em audiência Pública na Assembleia
Legislativa e às 17 horas em cerimônia no Palácio da Liberdade. No texto, que
reacende a discussão sobre o caso, JK é listado entre os 49 mineiros mortos
fora do Estado pelas forças repressoras durante o período da ditadura militar.
O relatório da
Cevemg ratifica também posição levantada pela Comissão da Verdade da Câmara
Municipal e a da Assembleia Legislativa de São Paulo. Já a Comissão Nacional da
Verdade não chegou a essa conclusão e manteve a tese de acidente.
JK morreu em 22 de agosto
de 1976, na altura de Resende, no Rio de Janeiro, quando fazia o trajeto
Rio-São Paulo no seu Opala, acompanhado do motorista. A grande questão do caso
é se o condutor do ônibus que informou o acidente à Polícia Rodoviária colidiu
no veículo, provocando a morte de JK, lembra o relatório. À época, o motorista
do coletivo foi absolvido.
A comissão mineira
chegou ao parecer após comparar as três análises anteriores, levantando pontos
contraditórios nos relatórios e também nas perícias realizadas sobre o caso –
como a compatibilidade entre as amostras de tintas do ônibus e do carro (no
local da batida) e uma possível diferença entre o chassi do carro analisado em
perícia feita em 1996 e o carro que JK usava, dentre outros pontos.
“Considerando o
contexto da época, as distintas contradições das avaliações periciais, os
depoimentos e pareceres jurídicos pode-se afirmar que é plausível, provável e
possível que as mortes tenham ocorrido devido a atentado político”, diz o
documento, que lembra que num período curto de tempo, também morreram de forma
repentina outros adversários do regime, como o ex-presidente João Goulart
(mesmo ano) e o líder udenista Carlos Lacerda (ano seguinte).
Relatório inclui
novos casos de vítimas da perseguição
Carlos Melgaço Valadares, integrante da Comissão da Verdade em Minas e responsável pela parte de mortos e desaparecidos do relatório final, avalia a posição sobre a morte de JK. “É uma decisão importante. O relatório é muito sintético, mas há toda uma relação de fontes que serão disponibilizadas e que reforçam a possibilidade de atentado. Gerar discussão e contribuir para o esclarecimento da verdade é fundamental”, afirma.
Além dos 49 mineiros
mortos fora do Estado pelas forças autoritárias, o relatório também aponta, na
seção de Mortos e Desaparecidos, o caso de 17 pessoas assassinadas pela
repressão em Minas devido à atuação política (outros casos de morte política
são citados em seções dedicadas a camponeses, indígenas e trabalhadores
urbanos).
É o caso do
eletricitário Carlos Schirmer, de Divinópolis, morto em 1º de maio de 1964. Ele
é tido como uma das primeiras vítimas da ditadura no país. Filiado ao PCB,
Schirmer era considerado “subversivo” e foi jogado ferido em uma caminhonete
após a sua casa ser invadida durante investigação. À época, a polícia, que
havia pedido um reforço de 50 homens para pegar o eletricitário, havia falado
em tentativa de suicídio, aponta o relatório.
“O relatório inova
ao trazer casos que não vinham sendo considerados. Como o de pessoas que morreram
devido às sequelas da perseguição e da tortura que sofreram, como alcoolismo,
desemprego e depressão”, diz Carlos.
Ele cita o exemplo
do professor de Antropologia da UFMG Marcos Rubinger, integrante do PSB. O
périplo de Rubinger envolveu várias prisões, incomunicabilidade, exílio em
vários países e retorno a Belo Horizonte, onde foi exonerado do seu cargo, além
das dificuldades para encontrar emprego, devido ao seu histórico. Numa espiral
de depressão e alcoolismo, o professor morreu em 1975.
Diante dos vários
casos levantados, Carlos pontua a necessidade de se discutir a
imprescritibilidade da tortura e dos desaparecimentos forçados.
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