Sem EUA,
Conferência da ONU sobre mudanças climáticas será mais política que o previsto
AFP
Longe da euforia do
acordo de Paris, a 23ª Conferência da ONU sobre as mudanças climáticas começou
na segunda-feira (6), em Bonn, na ausência de um poluidor histórico, os Estados
Unidos, e com uma meta global cada vez mais difícil de cumprir.
Os delegados de
cerca de 200 países se reunirão nesta cidade alemã pela primeira vez desde o
início, em junho passado, por Donald Trump da retirada dos Estados Unidos do
pacto histórico.
Também pela primeira
vez, um pequeno Estado insular para o qual a mudança climática representa uma
ameaça vital será protagonista: Fiji exercerá a presidência destas duas semanas
de negociações.
"Ao viver no
Pacífico e sofrer pessoalmente os impactos do clima, esperamos levar a Bonn
certo senso de urgência", aportado por "uma história que pode
encontrar eco em todo o mundo", destaca a negociadora fijiana, Nazhat
Shameem Khan.
Em 2017 se
multiplicaram os desastres naturais nos quatro cantos do planeta e, segundo
cientistas, vão se intensificar devido à desregulação do clima: enormes
furacões no Caribe, incêndios de intensidade incomum em Portugal e na
Califórnia ou secas intermináveis na África oriental.
"Provavelmente
será um ano recorde em termos de custo humano, social e econômico das
catástrofes naturais", indicou o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA).
Adotado no final de
2015, ratificado até o momento por 168 países, o Acordo de Paris tem como meta
manter abaixo dos 2ºC, ou inclusive 1,5ºC, o aquecimento do planeta com relação
aos níveis pré-revolução industrial.
O anúncio da
retirada americana representou um duro golpe para este processo complexo que
requer distanciar-se dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) para
reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa.
Por enquanto, os
compromissos voluntários assumidos pelos países em Paris não permitem reduzir
os termômetros abaixo dos 3ºC. Apesar dos avanços, como a estabilização das
emissões de CO2, a distância entre a ação e as necessidades é
"catastrófica", advertiu a ONU em um relatório publicado esta semana,
convidando os países a reforçar sua contribuição.
'A dinâmica se
esgota'
"Inicialmente,
esta COP devia ser bastante técnica, com a negociação das regras de aplicação
do Acordo de Paris. Mas após a decisão americana, volta a ser um momento
político importante, de reafirmação da manutenção de todos os países no
acordo", destacou a ex-negociadora francesa Laurence Tubiana, artífice do
pacto em 2015.
"Será muito
importante escutar os governos, assegurar-se de que não afrouxem, embora não
tenha a impressão de que isto esteja acontecendo", disse a fundadora da
ONG European Climate Foundation.
Outros são menos otimistas,
como o ministro costa-riquenho Edgar Gutierrez Espeleta, presidente da
Assembleia da ONU para o Meio Ambiente, segundo o qual "a dinâmica está se
estagnando".
"Washington diz
que (o acordo de Paris) não é 'só' para os Estados Unidos. Mas me lembro que
quando o presidente Trump falou em Nova York perante a Assembleia Geral (da
ONU), outros países aplaudiram. Sendo assim, veremos", declarou.
Washington, cuja
retirada não poderá ser efetivada antes de novembro de 2020, mas que enquanto
isso não pensa aplicar o plano de ação nacional apresentado por Barack Obama,
enviará de qualquer forma uma delegação a Bonn.
O objetivo é
"preservar os interesses americanos", explicou a administração Trump.
Segundo a
embaixadora fijiana, os delegados americanos manifestaram a intenção de
"participar de forma construtiva".
"Não será
preciso deixar que em Bonn os Estados Unidos se tornem uma forma
destrutiva", advertiu Mohamed Adow, da ONG Christian Aid, que defende os
países em desenvolvimento. "Visto que se retiraram, não deveriam ter mais
influência no acordo".
Esta 23ª COP reunirá
quase 20.000 pessoas na cidade alemã, sede da convenção do clima das Nações
Unidas. A partir da segunda semana, espera-se a presença de vários altos
dirigentes, em particular em 15 de novembro da chanceler alemã, Angela Merkel,
e do presidente francês, Emmanuel Macron.
O secretário-geral
da ONU, António Guterres, estará presente, assim como o prefeito de Nova York,
Michael Bloomberg, e o governador da Califórnia, Jerry Brown, dois defensores
da causa climática que querem compensar a retirada americana.
Antes da
inauguração, as organizações da sociedade civil convocaram uma manifestação
neste sábado, em Bonn, "pelo clima e contra o carvão". A Polícia
espera a adesão de 10.000 participantes.

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