Ainda chuvas e trovoadas
Manoel Hygino
No dia 11, véspera
das comemorações dos 300 anos da padroeira do Brasil, um extenso julgamento no
Supremo Tribunal Federal decidiu que medidas cautelares judiciais contra
parlamentares têm de ser confirmadas pelo Legislativo, se significarem
comprometimento ao exercício do mandato. O resultado apertado, 5 a 5, com
desempate pela presidente Cármen Lúcia, não constituiu certamente uma surpresa.
Os ministros se esforçaram para demonstrar que os poderes são independentes,
mas harmônicos, o que constituía, no fundo, quase o cerne da questão.
Foi uma sessão com
posições expressas veementemente. Não se aprovou o argumento da ministra Rosa
Weber e de outros ministros, segundo os quais submeter atos próprios do
Judiciário a outro poder compromete o equilíbrio de harmonia. De todo modo, só
aparentemente o importante capítulo do presente ciclo de arestas foi vencido,
com o “finale” marcado para o dia 17, quando o caso Aécio será especificamente
definido pelo Senado Federal, do qual se acha afastado. O panorama se me apresenta
extremamente delicado, porque os ilustres membros da mais alta Corte do país
não chegaram a bom termo nos entendimentos, a despeito da decisão de
quinta-feira, prevendo-se proximamente chuvas e trovoadas.
Como nos encontramos
evidentemente já pensando nas eleições do ano que vem, percebe-se a necessidade
de medir os problemas e posicionamentos a partir desta perspectiva. Aqui e em
qualquer outro lugar, cabe o direito de defesa aos acusados ou apontados em
investigações incessantes, porque tampouco cessam os fatos delituosos. Mas não
se pode admitir que só há inocentes não se sustenta, parece mais um jardim de
infância em que todos querem benevolência da “tia” para suas traquinices”. Não
é o que ora ocorre?
Acrescenta: “Admiro
quem se dispõe a cuidar de tantos (cidadãos), disputando eleições e ocupando
posições na estrutura de poder. São potencialmente capazes de fazer a diferença
para muitos. Mas ninguém é obrigado a ocupar estas posições se não se sente
preparado ou se teme se dobrar às tentações do caminho. Diferentemente da vida
pessoal, onde se nos mantemos inocentes, sobrecarregamos poucos, incluindo
aqueles que nos amam e que não suportam nos ver em dificuldade. O caminho do
poder é um caminho árduo, de muitos testes e que não pode era trilhado com
olhos inocentes simplesmente porque as consequências podem atingir milhões de
outros”.
O articulista, por
sinal, se espanta – como milhões de outros brasileiros – ao ler o noticiário e
conhecer as investigações sobre este sistema de governo, com o qual
aquiescemos, a partir de nossa própria inocência. O debate gira unicamente em
torno da falta de provas, do desconhecimento de práticas tão antigas, inerentes
ao próprio sistema. “Somos levados a criar torcidas como no futebol: escolher o
lado e defendê-lo nas redes sociais”. Em resumo: “Me parece secundária a
discussão sobrea qual o partido ou político deveria vir ocupar o posto de
presidente. O essencial é que estamos sendo governados sob uma estrutura
ineficiente para apoiar ações que precisaríamos implementar como seres
humanos”. E defende: “Na minha visão, mais do que governos de esquerda ou
direita, precisamos que o poder seja ocupado por quem possa sustentar a
perspectiva do amor e do olhar para o bem-estar coletivo. Estou cansado desta
discussão polarizada que apenas nos divide, opõe, mas não toca no essencial. Me
recuso a compartilhar da inocência de qualquer sigla e de doar meu tempo para
fomentar o ódio a qualquer das partes que se deixaram partir”.

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