Venezuela: o perigo está perto
Manoel Hygino
O ininterrupto
noticiário dos meios de comunicação em todo o mundo leva a uma indesviável
pergunta: a Venezuela está em pé de guerra? As sucessivas manifestações, de que
informa em cores e até ao vivo a televisão, oferece um panorama do drama que se
vive mais ao Norte.
Detentor da quinta
maior reserva petrolífera do planeta, nos últimos tempos a Venezuela vive sob
ameaça de ruptura institucional, embora se possa afirmar que é já neste clima
que se passaram os anos mais recentes. O ápice está em 2017, quando militares e
grupos paramilitares tentam conter pela força a população.
Apesar de tudo, a
oposição é forte e ousa enfrentar o governo de Nicolás Maduro, que sucedeu a
Hugo Chávez, depois de sua morte por câncer, em Cuba, em que fora tratar-se.
Com as garantias constitucionais interrompidas, com multidões nas ruas em
protesto por tudo que lhe foi subtraído, desde a liberdade de imprensa ao papel
higiênico, o presidente em exercício procurou uma saída com convocação de uma
Assembleia Constituinte. Caberia a esta elaborar uma nova Carta Magna, mas o
cidadão quer algo mais prático, viável e urgente, a começar pela alimentação
que já falta. Pesquisas demonstram que cada homem e mulher do país perdeu oito
quilos de peso pelas dificuldades ora experimentadas.
Sem respaldo da
maioria dos países democráticos, com imensas dívidas acumuladas, sem apoio
agora do Mercosul, cujos membros exigem anulação da Constituinte aprovada há
poucos dias, Caracas verdadeiramente está em um beco sem saída. Domingo, dia 6,
houve uma tentativa sem sucesso, de levante militar no Forte de Paramacay, no
estado de Carabobo.
O chanceler
uruguaio, Rodolfo Novoa, enfatiza que o Mercosul quer pressionar o governo
venezuelano a que mude os seus rumos, considerados não democráticos. O Palácio
de Miraflores, pois, não conta mais com apoio continental, restrito apenas a
Cuba e Guatemala, a que oferece petróleo em condições especialíssimas.
Sem apoio
Legislativo, contando com um arsenal poderosíssimo comprado à Rússia, em época
de vacas gordas, e com a disposição governamental de contrapor-se às oposições
e aos reclamos de um povo, Caracas reconhece que milhares de cidadãos escaparam
pelas fronteiras para sobreviver. As perspectivas são sombrias.
Sem embargo, Maduro,
buscando consolidação no poder e o socialismo do século 21, insiste em seu
projeto. Novas eleições para governador foram convocadas para 10 de dezembro,
enquanto o pleito presidencial está agendado para o fim de 2018, embora a
futura Constituição possa mudar o calendário.
Não haverá, sabe-se,
tranquilidade. Maduro garante que “irá pôr ordem” no país, mas 500 opositores
estão presos. A procuradora Luísa Ortega foi destituída do cargo e substituída,
enquanto os mortos nos enfrentamentos populares contra a polícia e
paramilitares chegam a além de uma centena.
Mais de mil são os
feridos, alguns ainda internados.
Nós estamos na
proximidade do fogo. O brasileiro Oliver Stuenkel, professor da Fundação
Getúlio Vargas, dá um conselho: “O Brasil precisa se preparar para a chegada de
um número cada vez maior de refugiados”, embora também tenhamos nossos
problemas.

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