A ameaça que não para
Manoel Hygino
A troca de ameaças e
a guerra de palavras entre os presidentes dos Estados Unidos e da Coreia do
Norte foram inseridas na pauta diária da mídia. Até onde o conflito verbal se
ampara na realidade, eis a questão. Há uma diferença – Trump diz e desdiz, o coreano
fica mudo e é irredutível. “Mas, o jornal de sua capital – o “Rodong Sinnum” –
informou: “O caminho do grupo de Trump em continuar deste atoleiro só terá como
consequência motivar mais nosso Exército e dar mais razões à República Popular
Democrática da Coreia para possuir armas nucleares”. Confirma-se, portanto: o
país ainda não tem domínio atômico.
Enquanto isso,
ansiosamente se admite uma tragédia de dimensões insabidas (?). O ministro de
Defesa do Japão informou que seu país poderia derrubar mísseis da Coreia do
Norte, se o regime de Kim-Jong-Un disparar contra Guam, território americano no
Pacífico. Mas seria uma emergência nacional, porque ameaçaria a própria
existência do Japão como nação. No ano passado, lei estabeleceu que o país pode
disparar armas em defesa dos EUA e de outros aliados sob ataque inimigo. As
circunstâncias mudaram.
Os fatos não estão
distantes. O governo militarista japonês, durante a II Grande Guerra, aliou-se
à Alemanha e Itália em 1940 e ocupou a Indochina francesa no ano seguinte. Em
dezembro de 1941, a esquadra norte-americana em Pearl Harbour, no Havaí, foi
destruída pelo Japão, sem declaração de guerra, que tomou o Sudeste da Ásia e a
maior parte do Pacífico Ocidental. Logo, seria derrotado pelos aliados. Houve a
reconquista de Guam pelos EUA, após permanecer sob domínio nipônico, desde
alguns dias antes do ataque a Pearl Harbour. O Japão perdeu, então, mais de dez
mil soldados.
Em 9 de agosto de
1945, Nagasaki foi alvo do ataque nuclear de Tio Sam, com muitos milhares de mortes.
O poeta Emanuel Medeiros Vieira lembrou que, em 6 de agosto, segunda-feira,
8h15 da manhã, a bomba já explodira em Hiroshima: a bomba, tão clara, exata,
cirúrgica, bomba geométrica, certeira. A bomba vem do céu, mas não é ave. “A
bomba vem de cima, mas não é Deus”. Em 2017, o prefeito de Nagasaki, Taue, em
pedido emocionado, implorou a Tóquio que assine o tratado da ONU que proíbe as
armas nucleares.
Para Taue, a posição
do governo japonês: “é algo difícil de entender para os que vivem nas regiões
afetadas pelos bombardeios nucleares, há 72 anos”. Tem razão. Em princípio de
julho, foi celebrado o acordo e assinado o compromisso por 122 estados-membros
da Organização das Nações Unidas. No momento, as potências nucleares – Estados
Unidos, Rússia, Reino Unido, China, França, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e
Israel – boicotaram as discussões, assim como o próprio Japão e a maioria dos
países da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan. O que se há de
pensar?
O sociólogo Paulo
Delgado comentou: “O completo despreparo, a imprudência e os impulsos bélicos
do ditador norte-coreano são bem espionados e documentados. Deixa à parte a
triste sina dos que se encontram sob seu jugo; o realismo do xadrez
internacional encontrou na dívida existencial que Pyongyang tem com Pequim o
meio para impor limites aos devaneios que movem a espalhafatosa ditadura”. E as
demais nações? E o mundo fica, mais uma vez, em suspense.

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