Campanha
educativa on-line quer chamar atenção para perigos do AVC
Flávia Ivo (*)
SÃO PAULO – A
forçada web e o alcance dos influenciadores digitais serão aliados da campanha
“A Vida Conta”, lançada recentemente para chamar a atenção dos brasileiros para
a importância da prevenção e do atendimento rápido daqueles que sofrem um
Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Promovida pela ONG
Rede Brasil AVC, em parceria com a Sociedade Brasileira de Doenças
Cerebrovasculares (SBDCV) e apoiada pela companhia farmacêutica Boehringer
Ingelheim, a ação irá explorar bem o ambiente digital.
PUBLICIDADE
“São vídeos e
infográficos explicativos que serão inseridos em postagens de youtubers
influentes como vídeo interrupção”, explica a neurologista Sheila Martins,
presidente da Rede Brasil AVC.
Os vídeos sofrerão
cortes abruptos para a entrada de curtas mensagens educativas sobre a doença
que acomete mais de 400 mil brasileiros todos os anos.
A ideia, conforme a
médica, é difundir uma hashtag (#avidaconta), ampliar o alcance da informação
por meio de compartilhamentos e tornar a campanha contínua.
Experiência
Uma repentina
dormência e fraqueza muscular em uma das pernas fez a técnica de enfermagem
Luciana Maciel, de 40 anos, tropeçar no ambiente de trabalho. Mesmo sendo uma
profissional da saúde, não percebeu que aquele era o primeiro sintoma de um AVC
isquêmico (quando ocorre a obstrução de uma artéria).
“Minutos depois, eu
não conseguia engolir minha própria saliva. Fui ao banheiro e de lá saí direto
para o pronto atendimento, graças a uma das médicas do hospital, que me
encontrou e percebeu o que estava acontecendo”, relata.
O rápido socorro
recebido por Luciana foi essencial para que a técnica de enfermagem não ficasse
com sequelas do AVC ou mesmo perdesse a vida. A cada sete pacientes com a
doença atendidos nas primeiras três horas dos sintomas, uma morte é evitada.
No entanto, por
causa do episódio ocorrido em dezembro de 2016, ela descobriu algo que não
sabia, uma malformação no coração. O órgão dela possui uma comunicação entre as
câmaras dos átrios esquerdo e direito, o que não é normal.
“É possível que o
AVC tenha ocorrido por este motivo, já que ela não se encaixa em outros fatores
de risco como fazer uso de álcool e cigarro, ter hipertensão arterial ou usar
anticoncepcional”, explica o neurologista Octávio Marques Pontes Neto,
presidente da SBDCV.
Solução de baixo custo já implantada em algumas unidades de saúde do
país é a telemedicina; com uma webcam e acesso aos exames de tomografia e
ortografia, um neurologista orienta, de longe, os procedimentos a serem tomados
em caso de AVC
Desafio
A sorte que Luciana
teve em receber tratamento em menos de duas horas não é comum a grande parte
dos casos de AVC, constituindo um desafio para a saúde brasileira.
Para o correto
diagnóstico da doença, são necessários exames de imagem como tomografia ou
ressonância magnética.
“Um paciente com
AVC, muitas vezes não é tratado com urgência por diversos profissionais da
saúde já que não é uma emergência óbvia, como um paciente sangrando, por
exemplo”, destaca Octávio Neto.
Enfermidade é a
segunda causa de morte no Brasil; sequelas são incapacitantes
Hoje, o AVC é a
segunda causa de morte no mundo, e também no Brasil, podendo acometer desde
recém-nascidos até idosos. No país, durante 30 anos, a doença ocupou o lugar de
campeã em mortes, perdendo o posto, há três anos, para o infarto do miocárdio.
O AVC é uma doença
tão frequente que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 12% de todos
os óbitos que ocorrerão no mundo em 2030 serão causados pela enfermidade.
No entanto, a
prevenção poderia evitar cerca de 90% dos casos, afirma Octávio Marques Pontes
Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Cardiovasculares (SBDCV).
“São muitos os
fatores de risco evitáveis coma praticar atividades físicas, por exemplo, o
sedentarismo, o colesterol alto e a obesidade”, descreve.
O aplicativo AVC Brasil, disponível nas plataformas Android e iOS,
orienta sobre sintomas e contém toda a rede especializada de atendimento no
país
Cenário
A enfermidade ocorre
por obstrução ou ruptura de artérias do cérebro. A cada 4 minutos, uma pessoa
tem um AVC no Brasil, sendo mais de 100 mil óbitos todos os anos no país.
Porém, além da
tragédia das mortes pela doença, as sequelas deixadas naqueles que sobreviveram
a um AVC podem ser incapacitantes.
Perda de movimentos,
memória, fala, visão, incontinência fecal e urinária, e outras consequências.
Por isso, as estatísticas mostram que menos de 50% dos sobreviventes de AVC têm
condições de retornar ao trabalho.
Além disso, quem já
sofreu um Acidente Vascular Cerebral tem até 9 vezes mais chances de ter um
segundo episódio, sendo fundamental o acompanhamento com neurologista.
“Depois do que tive,
tomo remédios diariamente para ‘afinar’ o sangue. Minhas filhas ficam no meu
pé, abraçaram a causa, fizeram exames. A família toda foi orientada sobre os
sintomas”, relata a técnica de enfermagem Luciana Maciel, sobrevivente de um
AVC.
Ponto a Ponto
Pesquisa recente do
Conselho Federal de Medicina, realizada neste ano com médicos, mostrou os
desafios atuais da saúde em relação ao AVC:
- Em 87,9% dos hospitais públicos, que acolhem pacientes com AVC agudo, faltam leitos
- Faltam equipamentos de tomografia em 32% desses hospitais
- Em 93% deles não há ressonância magnética disponível na urgência
- Para 63,6% dos entrevistados, há ausência de leitos de UTI/Emergência para pacientes com AVC
- Em 52,6% das unidades de saúde, há carência de trombolítico, medicamento essencial para tratamento do AVC Isquêmico
- Mais de 57% dos médicos consideram que as unidades carecem de triagem para identificar pacientes com AVC
- Cerca de 26% dos profissionais considera péssima a estrutura dos hospitais; 27% a consideram ruim; e 8% apontam que ela é inexistente
- Apenas 3% dos serviços avaliados pelos médicos têm estrutura classificada como muito adequada e 21% como adequada
(*) Viajou a convite
da Boehringer Ingelheim


Nenhum comentário:
Postar um comentário