João e outros Batistas
Manoel Hygino
No mês sexto, das
passadas festas juninas, alguém perguntou: o São João reverenciado é o Batista
ou o Evangelista? Muitos não souberam responder, porque não se tinham
preocupado em identificar o fato na história ou nos livros sagrados do
cristianismo. O mais indicado era comemorar o 24 de junho, e assim se fazia no
Brasil por tradição, desde a colonização.
Dúvida, contudo, não
há. João, que recebera o apelido de Batista, foi quem preparou o caminho de
Jesus e o batizou no rio Jordão e seu nome significa “Deus é propício”. Naquele
dia, há dois milênios, João disse: “eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados
do mundo”, e sobre o autor do batismo, Jesus declarou: “jamais surgiu entre os
nascidos de mulher alguém maior do que João Batista”.
O nascimento de João,
aliás, foi saudado com uma fogueira em família, como combinado entre Maria, mãe
de Jesus, e Isabel, sua prima e mãe de João Batista, ampliado o costume a todo
o mundo cristão e a nossa época. Batista é, assim, quem prega e batiza, mas no
Brasil atual o nome serve também a pessoas não santas. Basta conferir- se na
mídia.
Entre os novos
Batistas está, por exemplo, Eike, que no dizer de Élio Gaspari, “exercitava a
superioridade dos poderosos”. Emprestou o seu jatinho Legacy a Sérgio Cabral,
ex-governador do Rio de janeiro, para que ele chegasse a tempo a um resort na
Bahia para a festa de aniversário de seu amigo Fernando Cavendish, dono da
empreiteira Delta, explicando: “sou livre para selecionar minhas amizades...
contribuir para campanhas políticas...”.
Eike Batista se
entregou à Polícia Federal, esteve preso e declarou: “é hora de passar as
coisas a limpo”. Quanto a Joesley, esteve ou está internado em hospital de São
Paulo. Problema de coluna?
O surgimento em cena
do personagem Joesley Batista – outro com o sobrenome – e Wesley, irmão e
igualmente Batista, foi uma surpresa para os brasileiros que não sabiam das
fabulosas façanhas do grupo, formado a partir de Goiás.
O assunto ganhou
dimensão nacional quando se publicou que o presidente Temer usara um avião da
JBS, presidida por Joesley, para levar a família para alguns dias de férias na
Bahia. Revelou-se que as ligações das empresas do grupo dos Batistas com
figurões da República eram de arrepiar.
Até o Aécio
solicitou empréstimo e deu no bolo que aí está... e queimou no forno de
Brasília. O Joesley relatou que pagou propina para beneficiar-se de operações e
operação junto ao BNDES nos governos dos antecessores de Temer. Os três
presidentes declaram que as acusações não têm provas e tudo negam, como não
poderia deixar de ser.
No meio do
imbróglio, surge um coronel em São Paulo, pertencente ao grupo mais ligado a
Temer, que receberia, segundo denúncia, dinheiro para obras em propriedades de
familiares do ex-vice-presidente. É um Cel. Batista, sobre o qual também pouco
se conhece, por enquanto.
Aí, voltamos ao
Imersor, o João Batista, dos primórdios do cristianismo. Ele considerava de
especial valia perante Deus se tornar público o arrependimento e a mudança de
atitudes das pessoas.
No Brasil, contudo,
parece prevalecer fenômeno registrado por Stanislaw Ponte Preta: “a
prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que
eles vêm lutando pelo progresso do subdesenvolvimento”.
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