quarta-feira, 5 de julho de 2017

A INTERNET SUBSTITUI OS BANCOS NA MAIORIA DOS CASOS



Internet engole bancos e 57% das operações são virtuais

Felipe Boutros







Já faz mais de quatro anos que o empreendedor Tadeus Mariano não pisa em uma agência bancária. “A última vez foi para assinar um documento. Faço tudo pela internet”, explica. Ele é o retrato da mudança no perfil dos clientes do setor, que, cada vez mais, migram para as plataformas digitais.
De acordo com dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em 2016, 57% das transações bancárias foram feitas por meios eletrônicos (mobile e internet banking).
Já as operações realizadas em agências físicas somaram apenas 8%, embora duas delas ainda apresentem crescimento: os saques – 100 milhões a mais de transações em relação ao ano anterior – e o pagamentos de contas, passando de 273 milhões para 526 milhões de 2015 para 2016, o que fez com que a rede fosse mantida. Os outros 35% são transações feitas nos pontos de autoatendimento, pontos de vendas no comércio, correspondentes e “contact center”.
Ainda segundo a Federação, a modalidade de atendimento que mais cresceu entre 2013 e 2016 foi a mobile banking que saltou de 4% para 34% e se tornou a mais utilizada. A que mais diminuiu foi o internet banking, que caiu de 41% para 23%.
Foco
Apesar do crescimento das operações fora das agências, números da Febraban apontam estabilidade no número de agências entre 2015 e 2016, que terminou com 23,4 mil unidades.
“Nos últimos seis anos é possível perceber essa estabilidade, com movimentos leves de alta e queda. Nota-se que o canal passa por uma importante fase de readequação e redefinição de seu papel, e incorpora mais sua vocação consultiva”, afirma o diretor Setorial de Tecnologia e Automação Bancária da Febraban, Gustavo Fosse.
O coordenador do curso economia do Ibmec, Marcio Salvato reforça a mudança no paradigma do relacionamento entre bancos e clientes.
“Os bancos estão mudando o foco do perfil de seus clientes e as agências se tornam mais uma central de relacionamento”, diz.
A estratégia do Santander, por exemplo, reforça a tendência.
“As agências continuarão existindo e ainda terão um papel muito importante. Mas, seguramente, passarão por transformações, tanto nos modelos de atendimento quanto no seu propósito. Serão mais próximas do conceito de loja, para permitir, principalmente, que os gerentes tenham mais tempo para os clientes interessados em negócios mais complexos”, explica o diretor de CRM & Plataforma Multicanal do banco, Cassius Schymura.
Vantagens
Para Marcio Salvato, bancos e clientes saem ganhando com a migração. “Uma agência mais cheia oferece um atendimento pior”, exemplifica. “Isso representa um custo para o cliente também”, completa.
Setor demitiu mais de 9 mil funcionários apenas neste ano
Consequência da era digital que acomete as instituições financeiras, os bancos demitiram 9.621 funcionários entre janeiro e maio de 2017, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), aponta análise do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Desse total, 52% foram sem justa causa. Em Minas Gerais, foram fechados 150 postos por mês, um total de 750 vagas a menos.
Os bancos públicos foram os que mais tiveram cortes, tanto no quadro de funcionários quanto da estrutura física. A Caixa Econômica Federal computou 4.368 demissões, motivadas, principalmente, pelo Plano de Desligamento Voluntário Extraordinário (PDVE). A assessoria do banco em Minas Gerais informa que não houve fechamento de agências.
Já o Banco do Brasil fechou 17 unidades no Estado e transformou outras 36 em postos de atendimento bancário. Além disso, a instituição anunciou o Plano Extraordinário de Aposentadoria Incentivada (PEAI) para os funcionários que já “reuniam condições para se aposentar, com adesão totalmente voluntária”, o que promoverá uma redução de despesa com pessoal de R$ 2,3 bilhões.
De acordo com informações fornecidas pelo banco, “a reorganização institucional fez parte de um planejamento estratégico para aumento de rentabilidade e adequação ao cenário atual, em que as soluções digitais são utilizadas para efetivar 70% das transações financeiras no banco”.
A presidente do Sindicato dos Bancários de BH e Região, Eliana Brasil, disse que as demissões e o fechamento de agências dos bancos públicos irá gerar uma precarização dos serviços oferecidos. “Isso servirá como desculpa para privatização. Reforçará a imagem de que serviço público é ruim”, afirma. Questionadas, as assessorias das instituições não responderam sobre a questão.


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