Internet
engole bancos e 57% das operações são virtuais
Felipe Boutros
Já faz mais de
quatro anos que o empreendedor Tadeus Mariano não pisa em uma agência bancária.
“A última vez foi para assinar um documento. Faço tudo pela internet”, explica.
Ele é o retrato da mudança no perfil dos clientes do setor, que, cada vez mais,
migram para as plataformas digitais.
De acordo com dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em
2016, 57% das transações bancárias foram feitas por meios eletrônicos (mobile e
internet banking).
Já as operações
realizadas em agências físicas somaram apenas 8%, embora duas delas ainda
apresentem crescimento: os saques – 100 milhões a mais de transações em relação
ao ano anterior – e o pagamentos de contas, passando de 273 milhões para 526
milhões de 2015 para 2016, o que fez com que a rede fosse mantida. Os
outros 35% são transações feitas nos pontos de autoatendimento, pontos de
vendas no comércio, correspondentes e “contact center”.
Ainda segundo a
Federação, a modalidade de atendimento que mais cresceu entre 2013 e 2016 foi a
mobile banking que saltou de 4% para 34% e se tornou a mais utilizada. A que
mais diminuiu foi o internet banking, que caiu de 41% para 23%.
Foco
Apesar do crescimento
das operações fora das agências, números da Febraban apontam estabilidade no
número de agências entre 2015 e 2016, que terminou com 23,4 mil unidades.
“Nos últimos seis
anos é possível perceber essa estabilidade, com movimentos leves de alta e queda.
Nota-se que o canal passa por uma importante fase de readequação e redefinição
de seu papel, e incorpora mais sua vocação consultiva”, afirma o diretor
Setorial de Tecnologia e Automação Bancária da Febraban, Gustavo Fosse.
O coordenador do
curso economia do Ibmec, Marcio Salvato reforça a mudança no paradigma do
relacionamento entre bancos e clientes.
“Os bancos estão mudando o foco do perfil de seus clientes e as agências se tornam mais uma central de relacionamento”, diz.
A estratégia do Santander, por exemplo, reforça a tendência.
“Os bancos estão mudando o foco do perfil de seus clientes e as agências se tornam mais uma central de relacionamento”, diz.
A estratégia do Santander, por exemplo, reforça a tendência.
“As agências
continuarão existindo e ainda terão um papel muito importante. Mas,
seguramente, passarão por transformações, tanto nos modelos de atendimento
quanto no seu propósito. Serão mais próximas do conceito de loja, para
permitir, principalmente, que os gerentes tenham mais tempo para os clientes
interessados em negócios mais complexos”, explica o diretor de CRM &
Plataforma Multicanal do banco, Cassius Schymura.
Vantagens
Para Marcio Salvato,
bancos e clientes saem ganhando com a migração. “Uma agência mais cheia oferece
um atendimento pior”, exemplifica. “Isso representa um custo para o cliente
também”, completa.
Setor demitiu mais
de 9 mil funcionários apenas neste ano
Consequência da era
digital que acomete as instituições financeiras, os bancos demitiram 9.621
funcionários entre janeiro e maio de 2017, de acordo com dados do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged), aponta análise do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Desse total,
52% foram sem justa causa. Em Minas Gerais, foram fechados 150 postos por
mês, um total de 750 vagas a menos.
Os bancos públicos
foram os que mais tiveram cortes, tanto no quadro de funcionários quanto da
estrutura física. A Caixa Econômica Federal computou 4.368 demissões,
motivadas, principalmente, pelo Plano de Desligamento Voluntário Extraordinário
(PDVE). A assessoria do banco em Minas Gerais informa que não houve fechamento
de agências.
Já o Banco do Brasil
fechou 17 unidades no Estado e transformou outras 36 em postos de atendimento
bancário. Além disso, a instituição anunciou o Plano Extraordinário de
Aposentadoria Incentivada (PEAI) para os funcionários que já “reuniam condições
para se aposentar, com adesão totalmente voluntária”, o que promoverá uma
redução de despesa com pessoal de R$ 2,3 bilhões.
De acordo com
informações fornecidas pelo banco, “a reorganização institucional fez parte de
um planejamento estratégico para aumento de rentabilidade e adequação ao
cenário atual, em que as soluções digitais são utilizadas para efetivar 70% das
transações financeiras no banco”.
A presidente do
Sindicato dos Bancários de BH e Região, Eliana Brasil, disse que as demissões e
o fechamento de agências dos bancos públicos irá gerar uma precarização dos
serviços oferecidos. “Isso servirá como desculpa para privatização. Reforçará a
imagem de que serviço público é ruim”, afirma. Questionadas, as assessorias das
instituições não responderam sobre a questão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário